Distrito Federal

Anti-imperialismo

‘Carta de Brasília’: 23 entidades assinam documento em solidariedade a Cuba

Texto foi aprovado em Convenção Distrital de Solidariedade a Cuba realizada no sábado, 27 de maio

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
O encontro no Distrito Federal é uma etapa preparatória da convenção nacional, que será realizada entre os dias 8 e 11 de junho em Belém - Foto: Camila Araújo

Fruto da XXVI Convenção Distrital de Solidariedade a Cuba, a “Carta de Brasília” é um documento em solidariedade a Cuba e em defesa da revolução socialista no país latino-americano, assinado por 23 entidades na tarde de sábado, 27 de maio, no Sindicato dos Bancários de Brasília. 

“Reafirmamos nossa admiração e respeito pelas conquistas obtidas, bem como exigimos que cesse o criminoso bloqueio contra Cuba”, diz trecho da carta, cuja íntegra pode ser lida no final desta matéria.  

Desde a década de 1960, em resposta ao triunfo da revolução socialista em Cuba, o país enfrenta diversos bloqueios nas relações diplomáticas e econômicas por parte dos EUA. As sanções impostas contra a ilha já gerou um prejuízo de cerca de US$ 150 bilhões. 

No governo norte-americano de Donald Trump foram emitidas 243 novas sanções unilaterais. Ao longo de sua campanha presidencial, o mandatário sucessor Joe Biden criticou as medidas que seu adversário republicano estava implementando contra Cuba. Biden chegou a prometer que reverteria as "políticas fracassadas do Trump que prejudicaram os cubanos e suas famílias", o que não aconteceu.

Além disso, o atual governo tem também apoiado protestos da oposição na ilha. Neste sentido, a Carta destaca que, além do recrudescimento para “sufocar o povo cubano, impedindo o acesso a medicamentos, alimentos e itens básicos para o seu desenvolvimento econômico e social”, há também uma “agressão desmedida” por meio de uma “incessante guerra midiática nas redes sociais, que invertem os fatos”.

:: ARTIGO. Cuba e sua insistente luta por soberania ::

Convenção Distrital

Reunindo cerca de 150 militantes da esquerda brasiliense e representantes de organizações internacionalistas, o encontro no Distrito Federal é uma etapa preparatória da convenção nacional, que será realizada entre os dias 8 e 11 de junho em Belém, no Pará. 

Organizado pelo Comitê Anti-imperialista General Abreu e Lima junto do Comitê de Defesa da Revolução - Internacionalista (CDR-I), do Movimento Bem Viver e do Nescuba (Núcleo de Estudos Cubanos), a reunião aprovou uma delegação com dezessete pessoas para representar Brasília na capital paraense. 

“O evento teve uma participação expressiva, com sala lotada”, comemorou a professora aposentada da UnB Maria Auxiliadora César, membro fundadora do Nescuba, destacando ainda que, antes, as delegações eram compostas de três ou quatro pessoas. Esse aumento na participação “traz um alento”, segundo ela.


Maria Auxiliadora César, professora aposentada da UnB e membro fundadora do Nescuba / Foto: Camila Araújo

Pelo fim do bloqueio

Idalmis Brooks, conselheira da embaixada cubana, destacou que o evento é muito importante para seu país para conscientizar o mundo de que o bloqueio não é só um problema comercial. 

“O bloqueio é uma arma que tem sido utilizada durante mais de 60 anos pelo imperialismo norte-americano para gerar fome e diminuir a boa vontade do povo cubano”, declarou ela. 

Citando Fidel Castro, líder da revolução cubana e ex-presidente do país, Idalmis afirma que “a solidariedade não é dar ao outro o que você já não quer, mas compartilhar o que você tem”. “Essa é a verdadeira lição de encontros como este, que são também uma possibilidade de Cuba agradecer cada mostra de apoio nessa batalha contra os Estados Unidos que dura mais de sessenta anos”, acrescentou. 

Para a representante cubana, o bloqueio faz seu povo mais forte já que impulsiona as forças da ilha socialista na defesa do território e das condições de vida da população. As vacinas contra a pandemia são um exemplo disso, diz Idalmis. “Somos um país pobre que enfrentou a pandemia com vacina para todo o povo”. 

Cuba foi o primeiro e único país da América Latina a desenvolver imunizantes contra a covid-19. Ainda em agosto de 2020 o país apresentou a primeira fórmula: a Soberana 01. Na sequência vieram as outras quatro vacinas desenvolvidas na ilha: Soberana 02, Soberana Plus, Abdala e Mambisa.

“Mas essas vacinas não seriam possíveis sem as seringas enviadas por meio da solidariedade internacional”, afirmou, já que insumos médicos e ferramentas sanitárias não chegavam ao país devido ao bloqueio. Ela assinalou ainda que movimentos solidários brasileiros tiveram grande importância no envio de containers com medicamentos e seringas ao país socialista. 

A solidariedade, segundo Idalmis, é também o que leva “muitas nações do mundo a condenarem o bloqueio na assembleia da ONU”, disse a cubana em referência a uma resolução aprovada desde 1992 na Assembleia Geral das Nações Unidas que exige o fim do bloqueio econômico estadunidense. 

A resolução, nomeada "Necessidade de acabar com o embargo econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América contra Cuba", tem tido apoio da maior parte dos 193 países membros da entidade nos últimos 30 anos. Em 2016, foram 191 votos a favor e nenhum contra - os próprios EUA se abstiveram de defender seu bloqueio.

:: Cuba recebe 150 jovens dos EUA para mostrar efeitos do bloqueio econômico :: 

EUA e Israel geralmente mantêm seus votos contrários ao documento. Em 2019, o Brasil, alterando uma decisão histórica diplomática, se uniu a estas nações pela primeira vez, sob Bolsonaro. Em 2021, o governo mudou de posição novamente e se absteve do voto.

Idalmis acredita que a solidariedade com seu país tem aumentado, conforme mais pessoas conhecem a realidade de Cuba. A presença de pessoas jovens no salão do encontro no sábado, para ela, também é um indicador desse avanço solidário. 

Conhecer a ilha socialista e olhar com “próprios olhos” como é a vida do povo cubano, recusando desinformações propagadas pelas redes sociais, também é uma boa forma de exercer solidariedade, diz a cubana.


Idalmis Brooks, conselheira da embaixada cubana / Foto: Camila Araújo

Internacionalismo 

O Comitê Anti-imperialista General Abreu e Lima, que compõe a organização do encontro, existe há cinco anos e tem como uma de suas premissas a autodeterminação dos povos e o combate ao imperialismo, “especialmente o praticado pelos Estados Unidos”, explica o jornalista e membro da entidade, Pedro Batista.


Comitê é um dos organizadores do encontro / Foto: Camila Araújo

“Cuba enfrenta um criminoso bloqueio de maneira revolucionária, heroica, criativa e ousada, mantém a unidade do seu povo, supera as suas dificuldades nos momentos mais difíceis”, opina o jornalista. Para ele, o país é um exemplo na prática do internacionalismo e da solidariedade: “o país nos mostra o caminho para construir uma sociedade nova, diferente, justa, digna e livre”. 

O colombiano Lucas Vargas, membro do comitê e doutorando no departamento de Estudos Latino-Americanos da UnB, argumenta que é preciso “desafiar o imperialismo de todas as formas”, com destaque ao “imperialismo cultural que nos diz como pensar sobre Cuba e sobre os interesses dissonantes aos da Casa Branca”. 

Ele diz que o novo governo de seu país sob o presidente de esquerda Gustavo Petro já deu mostras do apoio a Cuba, uma vez que a Colômbia passou a votar contra o bloqueio na resolução da ONU. “Antes votava a favor ou se abstinha”. 

:: Governo da Colômbia e ELN prorrogam diálogos de paz em Havana até junho ::

Vargas também lembra que Cuba foi solidária no processo de resistência da América Latina como um todo, quando o continente foi tomado por golpes e ditaduras militares. A ilha socialista, naquele momento, formou “quadros” militantes que vieram a confrontar a estrutura ditatorial do período. 

Thiago Ávila, militante ecossocialista e membro fundador do Movimento Bem Viver, esteve em Cuba duas vezes: em 2009 e em 2023. Nesta segunda visita, ele foi um dos coordenadores de delegação da 28ª edição Sul-Americana da Brigada de Solidariedade com Cuba e pôde observar a transformação no cenário político-social com as novas sanções impostas pelos EUA.

“A melhor forma de contribuir com a revolução cubana é se movimentar pela construção da revolução brasileira”, declarou Ávila no encontro em Brasília. 

O embaixador da República Árabe Saaraui Democrática, Ahamed Mulay Ali Hamadi, também esteve presente no encontro representando a Frente Polisário - um movimento político-revolucionário em favor da autonomia do território do Saara Ocidental e pela autodeterminação do povo saaraui - no Brasil. 

“Estou aqui porque temos uma relação extraordinariamente importante e profunda com Cuba e para ajudar a fortalecer a solidariedade com o país”, declarou Ahamed, acrescentando que “é importante que a sociedade civil conheça a realidade da ilha socialista e ajudem a combater o bloqueio, deixando Cuba livre de uma maneira definitiva”. 

Seu povo, no extremo norte da África, está em luta histórica pela autodeterminação e pela liberdade com armas na mão contra o reino do Marrocos. “Graças a Cuba, que nos ajuda no âmbito educacional, podemos educar nossa gente”, explicou o embaixador, concluindo que a nação socialista latino-americana “é um país irmão”.

:: Convenção Gaúcha de Solidariedade com Cuba acontece no sábado (20), em Porto Alegre ::

Convenção no Pará 

A 26ª Convenção Nacional de Solidariedade com Cuba será realizada em Belém, capital do Pará, de 8 a 11 de junho de 2023, no Centro de Convenções Benedito Nunes, localizado dentro do campus da Universidade Federal do Pará (UFPA). 

O evento terá atividades como palestras, mesa de debates e grupos de trabalhos durante quatro dias, trazendo temas como a situação atual em Cuba, o desenvolvimento da Saúde no país, a formulação das vacinas contra covid-19 e a juventude na luta por soberania. 

Para saber mais sobre o evento e se inscrever, clique aqui

Íntegra da Carta de Brasília

Carta de Brasília – aprovada na XXVI Convenção de Solidariedade a Cuba do DF

Toda solidariedade a Cuba

A importância de Cuba para os trabalhadores de todo o mundo, sua comprovada história de lutas, resistências, seu povo digno com uma histórica defesa da soberania de sua nação, seu combate ao imperialismo e seus crimes desumanos e suas vitórias ante o Império agressor, estão expressas na frase de José Martí, o Herói Nacional de Cuba: “Pátria é humanidade”.

Assim, já em 1953, liderados por Fidel Castro, os cubanos deram um passo decisivo no seu processo revolucionário ao assaltarem os quarteis Moncada e Carlos Manoel de Céspedes, com uma vitória militar que possibilitou, 6 anos depois, em 1 de janeiro de 1959, a vitória da Revolução cubana a 150 quilômetros de distância dos EUA, que também sofreria outra derrota em seguida, ao ser expulso do Vietnam.

Inicia-se, então, uma etapa gloriosa no país, que resiste há 64 anos, transformando o país que, de quintal e encontro de mafiosos estadunidenses, passou a ser uma nação livre, digna e soberana, que constrói a sociedade socialista, em movimento constante de lutas e conquistas,  garantindo a satisfação das necessidades básicas de seu povo, mostrando ao mundo a grandeza da prática internacionalista, seja atendendo a vítimas de  catástrofes naturais e pandemias, poiando com seu método a eliminar o analfabetismo, exercendo sua solidariedade em dezenas de países por todos os continentes. Uma pequena Ilha em extensão e gigante nação em sua moral, princípios e compromissos revolucionários.

E sustenta todas essas conquistas, mesmo enfrentando, tanto por governos democratas como republicanos, ataques permanentes dos EUA, desde o triunfo da Revolução, como foi a invasão à Playa Girón, uma das derrotas imposta ao império, que não desiste e impõe um bloqueio criminoso, que dura 62 anos, atualmente recrudescido por 243 medidas adicionais. 

A intenção é hoje, como sempre, sufocar o povo cubano, impedindo o acesso a medicamentos, alimentos e itens básicos para o seu desenvolvimento econômico e social. 

Ainda mais, nos últimos anos, essa agressão desmedida é acrescida de uma incessante guerra midiática nas redes sociais, que invertem os fatos, chegando ao cúmulo do governo dos EUA incluir a Cuba na lista de países que promovem o terrorismo, prática contumaz da Casa Branca. 

Diante desse bloqueio econômico, comercial e financeiro, o mais longo da história da humanidade, Brasília realiza sua XXVI Convenção de Solidariedade a Cuba e oferece seu total apoio à resistência heroica e revolucionária da Ilha, liderada pelo PCC - Partido Comunista de Cuba, sustentada pelos CDR – Comitês de Defesa da Revolução e por suas organizações de massa. E assim, com ousadia revolucionária, os cubanos não abrem mão de seus princípios revolucionários e avançam rumo à efetiva emancipação humana.

Reafirmamos nossa admiração e respeito pelas conquistas obtidas, bem como exigimos o cesse imediato do criminoso bloqueio contra Cuba. 

Pelo fim do bloqueio genocida. 

Pela devolução da Base de Guantánamo. 

Pela retirada imediata de Cuba da lista de países que promovem o terrorismo.

Viva o internacionalismo e a solidariedade internacionalista.

Brasília, 27 de maio de 2023

A Carta de Brasília foi aprovada por todos os presentes na Convenção.

Encaminhamentos:

- Aprovado o nome de 17 delegados por Brasília.

- Colocar o Distrito Federal à disposição, caso seja consenso, para sediar a próxima Convenção Nacional. 

- Formar grupo para continuar a pesquisa atualizada do movimento de solidariedade com Cuba no Brasil (a partir de 2017 até hoje).

- Criar um arquivo compartilhado com todos os links de organizações de solidariedade para todas as organizações compartilharem umas às outras.

- Convocar as organizações políticas presentes para que busquem enviar militantes à próxima Brigada Sul-americana de Solidariedade com Cuba, em janeiro de 2024.

- Convocação de todas as organizações presentes com atuação nacional para que se somem no fortalecimento/criação do movimento de solidariedade com Cuba em todos os estados do Brasil.

- Levar a plenária nacional a proposta de uma vaquinha nacional permanente para comprar de forma unificada medicamentos e entregar ao governo de Cuba

Firmam:

Associação de Cubanos Residentes no Brasil

Associação de Solidariedade e pela Autodeterminação do Povo Saharaui 

Associação dos Médicos Brasileiros Graduados em Cuba

Associação dos Médicos Residentes no Exterior

CAL - Comitê anti-imperialista general Abreu e Lima

CDR – I – Comite de Defesa da Revolução - Internacionalista

CMP – Central dos Movimentos Populares

CUT – Central Única dos Trabalhadores

FUP - Federação Única dos Petroleiros

IBRASPAL – Instituto Brasil Palestina

Instituto Paz e Socialismo

Movimento Bem Viver

Movimento Negro do Brasil

Movimento Popular Socialista

NESCUBA

Organizações presentes na XXVI Convenção de Solidariedade a Cuba no DF

PCB

PCdoB

PSB

PSOL

PT

UNIPOP   

UP

:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato DF no seu Whatsapp ::

Edição: Flávia Quirino