Distrito Federal

Crise na saúde

GDF condiciona apresentação de contraproposta à suspensão de greve e técnicos paralisam movimento

Deputada Dayse Amarílio avalia que houve cerceamento do direito dos servidores públicos

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Técnicas e Técnicos em Enfermagem protestam na frente da CLDF - Valmir Araujo - Brasil de Fato DF

Em greve desde a última segunda-feira (17) a categoria de Técnicas e Técnicos em Enfermagem do DF realizou assembleia geral nesta quarta-feira (19) e decidiram suspender o movimento, com a promessa do Governo do Distrito Federal (GDF) em apresentar uma contraposta até o dia 26 de junho. De acordo com o Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do DF (Sindate-DF), o GDF condicionou a apresentação da contraproposta a suspensão da greve, o que foi votado pela maioria na assembleia.

Conforme a diretora do Sindate-DF, Josy Jacob, a reunião desta quarta-feira contou com a presença dos secretários Gustavo do Vale Rocha (Casa Civil) e Ney Ferraz Júnior (Economia), que se comprometeram a apresentar a contraproposta. “O governo [GDF] condicionou essa contraproposta, se a greve fosse suspensa. E nós como sindicato temos que obedecer a decisão da maioria, pois a assembleia é soberana e foi colocado em votação e a maioria dos presentes decidiu suspender até a próxima quarta”, explicou Josy, destacando que a categoria segue em estado de greve.

De acordo com o Sindicato, a categoria está lutando por três demandas principais: a vinculação dos salários a 70% do piso da enfermagem, a reestruturação da carreira para que o último nível seja alcançado em 18 anos de serviço efetivo, e a nomeação de candidatos aprovados em concurso público. O Sindate considera que esse é o mínimo para um setor que sofre com insalubridade, risco de adoecimento e déficit de quase cinco mil funcionários.

“Uma das nossas principais pautas é a reestruturação da carreira, porque hoje nós, técnicos em Enfermagem, precisamos trabalhar 25 anos para chegar no padrão de vencimento. Não tem nada a ver com aposentadoria, mas outras carreiras do GDF têm essa carreira estrutura em 18 anos”, destacou Josy, citando a carreira da enfermagem. “Nós somos uma equipe de enfermagem”.

Outra demanda destacada pela diretora doo Sindate é a recomposição salarial: “Nós ficamos mais de 10 anos, sem receber um reajuste salarial. O que a gente conquistou foi mudança de nomenclatura, que não é orçamentária e o governo implementou algumas gratificações antigas e nós não tivemos o reajuste”. De acordo com o Sindicato, a soma de todos esses reajustes não implementados chega a 37% de perdas e com isso a categoria está pedindo que os técnicos (nível médio) recebam 70% do salário do enfermeiro (superior), o que já existe em outras carreiras do GDF. Essa mudança significaria um reajuste de 21% - menos que as perdas com reajustes.

Muitos enfermeiros querem se aposentar, mas não conseguem chegar ao padrão de vencimento, como contou a técnica de enfermagem Hilda de Castro, que atua na profissão há mais de 30 anos. “Tem muita gente que podia e queria se aposentar, como eu, e não se aposenta, porque o salário miserável, depois de trabalhar nossa juventude dentro dos hospitais e postos de saúde”, desabafou a técnica, que atua no hospital do Gama.

Já Rosilda Crhod, também técnica em enfermagem da Secretaria da Saúde, é preciso o governador Ibaneis Rocha (MDB) e os deputados distritais terem uma consideração com a categoria, que tanto ajudou a sociedade nos últimos anos. “A gente precisa de valorização. Foram dez anos sem aumento e a população precisa saber, por que enfermeiros e médicos ganharam e para nós nada? É muito despeito do governador e dos deputados, sendo que fomos nós que cuidamos de todos na pandemia”, lembrou Rosilda.

Cerceamento da greve

Na avaliação da deputada Dayse Amarilio (PSB) houve um cerceamento do direito a greve por parte do governo do DF nas negociações com a categoria. “A gente foi avisado no colégio de líderes que não havia negociação enquanto a categoria estivesse em greve. O que é na no nosso entendimento um cerceamento do direito de greve”, avalio Dayse, que antes de assumir o mandato foi presidente o Sindicato dos Enfermeiros do DF.

“A gente vai continuar não só acompanhando, mas também pedindo apoio político a todos os deputados que possam nos ajudar a sentar a mesa com o governo para achar uma solução. O que a gente queria é que fosse aberto um diálogo, até porque estamos vivendo um momento muito difícil e os técnicos não queriam fazer greve, mas precisaram fazer para que houvesse alguma negociação”, destacou.


Dayse Amarílio: cerceamento do direito de greve / Carolina Curi/CLDF

A mobilização e a Assembleia das Técnicas e Técnicos em Enfermagem aconteceu em frente a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) e contou com a presença do deputado distrital Jorge Viana (PSD), que apesar de ser da base de Ibaneis afirmou apoiar o movimento e atual para conseguir a reunião da categoria com os secretários. “A categoria precisa ser valorizada e essa greve é legítima”, defendeu Viana aos grevistas.

Secretaria de Saúde

Em nota, a Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) afirmou que: “entende que, em um regime democrático de direito, é legítima a luta sindical”. Antes do anúncio da suspensão, a Pasta reconheceu que a maioria das unidades de saúde do DF tinham aderido ao movimento grevista.

“A SES-DF informa que o chefe do executivo do Governo do Distrito Federal tem envidado todos os esforços mantendo o diálogo frente às demandas da saúde. Por fim, a pasta destaca que tem feito investimentos constantes e permanentes no setor na busca de entendimento com a categoria”, acrescentou a nota.

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Edição: Márcia Silva