Cerca de 4 mil pessoas participaram, neste domingo (26), da 2ª Marsha Nacional pela Visibilidade Trans, em Brasília. Pessoas trans de todo o país, apoiadores e parlamentares marcharam pela Esplanada dos Ministérios em defesa de “Vida, direitos e futuro para a população trans”, lema da manifestação.
A deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) discursou durante a marcha e destacou a importância da luta trans no país. “Ninguém pode parar a força de um movimento organizado, revolucionário e que segue vivo e de pé em um país que ainda insiste em nos matar, que ainda acha que a nossa cidadania é de segunda classe, que a nossa carne é barata e o nosso direito é negociável. Mas nós estamos aqui pra dizer não: nossos direitos não são negociáveis, nossa cidadania não vale menos, o nosso futuro não pode ser a vala, a morte, o cárcere. Nós queremos existir com plenitude, nós queremos estar e estaremos em todos os lugares”, afirmou a parlamentar.
Os manifestantes se concentraram em frente ao Congresso Nacional e de lá marcharam pela Esplanada em direção ao Museu Nacional da República. A 2ª Marsha Trans, que recebe essa grafia em homenagem à ativista Marsha P. Johnson, foi organizada pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e pelo Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (Ibrat).
Bruna Benevides, diretora da Antra e responsável por redigir o dossiê da Associação com dados sobre a violência contra as pessoas trans e travestis no Brasil, que será lançado nesta segunda-feira (27), celebrou o crescimento da ‘Marsha’ em relação à edição do ano passado.
“Eu vejo toda a diversidade da nossa comunidade aqui hoje e isso é o reflexo da capacidade de influência e da agenda que nós estamos construindo em defesa dos direitos humanos”, afirmou. Benevides também destacou as principais pautas do movimento: “Vamos lutar por cotas trans, pelo futuro vivível para as nossas crianças trans, por dignidade, por um envelhecimento digno, por trabalho e renda, por liberdade sobre nossos corpos e, principalmente, pelo direito à vida para travestis e transexuais”.
Em 2024, o Brasil foi, pelo 17º ano consecutivo, o país que mais mata pessoas trans no mundo, segundo dados preliminares de dossiê organizado pela Rede Trans Brasil. O documento aponta que, no ano passado, 105 pessoas trans foram mortas no país.
“A ‘Marsha’ é um momento de nos mostrar para a sociedade, porque nós somos corpos e corpas invisibilizados”, afirmou a presidenta do Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (Fonatrans), Jovanna Baby.
“Estamos aqui hoje para mostrar pra sociedade e para esse Congresso que nós somos seres humanos, nós votamos e pagamos todas as imposições públicas. Nós merecemos direitos. Eles só nos enxergam na noite, mas precisam nos enxergar durante o dia enquanto cidadãs de fato e de direito”, defendeu.
O coordenador nacional do Ibrat, Fabian Algarte, relembrou que os índices de suicídio da população trans são altos, especialmente entre os transmasculinos. “Nossa 2ª ‘Marsha’ trans acontece pela dignidade e pela livre expressão do corpo. Nós precisamos e lutamos para que as nossas estatísticas de violência se tornem cada vez menores”, afirmou Algarte.
Pessoas trans de todas as regiões do Brasil participaram da manifestação em Brasília. Thaisson Campos é acampado do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no norte do Paraná e esteve na 2ª ‘Marsha’ Trans representando o coletivo LGBTQIA+ do Movimento.
“Nós vemos a importância das políticas públicas em meio ao nosso cotidiano e as pessoas trans têm dificuldade em acesso à saúde, à educação e até ao respeito das pessoas. E o MST também tem essa pauta do respeito à diversidade. Temos homens e mulheres trans em nossos espaços do MST, acampados e assentados. A luta pela terra dialoga também com a diversidade”, destacou Campos.
Pessoas trans na política
O deputado distrital Fábio Félix (Psol-DF) participou da manifestação neste domingo (26) e celebrou o crescimento da representatividade trans nos movimentos sociais e nos parlamentos municipais e estaduais. “É um orgulho enorme para nós estarmos aqui hoje na frente do Congresso Nacional enfrentando a agenda conservadora e dando um recado nacional”, discursou o parlamentar.
Félix apontou que apesar da derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro nas urnas, o bolsonarismo e a extrema direita seguem atuantes: “precisamos nos organizar em todo o país para enfrentar a agenda ultraconservadora que quer retirar os nossos direitos”, analisou o deputado. “E da pluralidade da nossa sigla LGBT, o segmento mais atacado em seus direitos e usado como bode expiatório é a comunidade trans. Não dá mais pra gente naturalizar sermos o país que mais mata travestis e transexuais”.
Segundo levantamento produzido pela Antra, 26 pessoas trans foram eleitas para as câmaras municipais do Brasil nas eleições de 2024, que contou com mais de 600 candidaturas dessa população.
Várias parlamentares trans participaram da marcha em Brasília e falaram sobre suas trajetórias políticas e de luta. Destacaram também que vereadoras trans driblaram o conservadorismo e foram eleitas inclusive no interior do Brasil.
Edy Lopes (PT-CE) foi eleita como primeira vereadora trans do município de Paramoti, no Ceará, que tem cerca de 11 mil habitantes. “Ser eleita no município com 11.000 habitantes foi um tapa dado na cara do preconceito”, afirmou a parlamentar. “Nossa luta não é só pela nossa comunidade, não é só pela nossa existência, mas sim pelo todo, porque nós estamos em todos os espaços”, conclui Lopes.
Já Giovami Maciel (PT-MG) foi a primeira trans a ser eleita para a Câmara Municipal de Moema, município do interior de Minas Gerais com cerca de 7 mil habitantes. “A educação transforma o mundo. Eu sou formada em jornalismo, sou historiadora e formada em filosofia e sociologia. Peço aos jovens que estudem e se formem, ocupem os espaços da política e que votem em mulheres e homens trans, porque só assim será possível fazermos políticas públicas voltadas para nós”, defendeu Maciel.
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Edição: Flávia Quirino