Uma travesti, identificada como Bruna Ciclone, de 24 anos, foi encontrada morta com marcas de facada pelo corpo em uma via pública do Gama, no Distrito Federal, na madrugada de quarta-feira (11). O caso está sendo investigado pela Polícia Civil como homicídio.
De acordo com a 20ª Delegacia de Polícia, o crime ocorreu próximo ao Conselho Tutelar. No local, segundo o boletim de ocorrência, foi encontrado um corpo com vestes femininas. Também foi observado um rastro de sangue desde o local onde o corpo estava até o Mercadão do Oeste.
Ainda segundo apurações da polícia, uma testemunha informou ter ouvido pedidos de socorro por volta das 2h15, mas não viu ninguém fugindo do local. Em seguida, ligou para a Polícia Militar (PM) e o Corpo de Bombeiros, que chegaram ao local e constataram o assassinato.
Não há informações sobre possível suspeito do crime. Amiga da vítima, Bruna Santuário informou ao Brasil de Fato que Bruna Ciclone já tinha sofrido um atentado em 2019, motivado por ódio. Ela era de Valparaíso (GO), na região do Entorno do DF, e trabalhava como garota de programa.
"Esse ciclo de ódio é comum na prostituição. Existe uma disputa por clientes e agressão dos próprios clientes", afirma.
As duas se conheceram em um grupo de teatro oferecido pela Prefeitura da cidade goiana. "Bruna sonhava em ser atriz e já tinha atuado em um filme local fazendo um personagem masculino. O personagem era de policial", conta.
Para Lucci Laporta, secretária-executiva do Fórum de Lutas LGBTQI do DF e Entorno, militante travesti e assistente social, o assassinato da Bruna Ciclone é mais um episódio da situação de brutalidade vivida por pessoas trans no Brasil. Revela ainda, segundo Laporta, um ambiente de omissão por parte do poder público na promoção de direitos dessa população, uma das mais marginalizadas da sociedade.
"O assassinato da Bruna Ciclone, mais um nas brutais estatísticas de transfeminicídio no Brasil, é consequência de uma sociedade transfóbica, que desumaniza quem não segue um padrão. Consequência ainda de um Estado omisso, que na falta de políticas de empregabilidade e Educação inclusivas, relega a 90% das travestis e mulheres trans brasileiras a prostituição, como única forma de obtenção de renda".
Transfobia
No ano passado, duas mulheres trans foram mortas no DF, segundo dossiê elaborado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Em todo o país, o número de homicídios apurados pela entidade chegou a 175, colocando o Brasil no triste 1º lugar no ranking internacional de assassinatos de pessoas trans.
Um dos casos mais recentes ocorridos na capital do país foi a morte da travesti Juliana da Cruz Costa, de 33 anos. A vítima se alimentava em uma quadra do Sudoeste quando foi abordada por um homem, que teria pedido comida e, em seguida, atacou a vítima com uma facada no peito. O caso ocorreu em dezembro de 2020.
Em janeiro do ano passado, outra mulher transexual, de 38 anos, foi assassinada na Asa Norte, em Brasília. Segundo a Polícia Civil, a vítima era garota de programa e foi atacada por um cliente "em fúria". A mulher foi identificada como Ana Clara Lima e era conhecida como Júlia. Ela morreu no próprio carro enquanto tentava chegar ao hospital para pedir ajuda.
"Infelizmente, a gente não tem nenhum dado computado pelo Estado brasileiro em relação a essas violências que travestis e transexuais sofrem no país, acaba que o movimento social precisa dar conta de uma tarefa que deveria ser de políticas públicas", observa Ludymilla Santiago, da ANAVTrans Associação do Núcleo de Apoio e Valorização a Vida de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Distritos Federal e do Entorno, ligada à Antra.
Edição: Flávia Quirino