A população que se identifica como lésbica e sapatão no Brasil conta, a partir desde domingo (29) - quando se celebra o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica - com um formulário virtual que tem o objetivo de levantar informações sobre a realidade e as condições de vida dessa comunidade em todo o país.
Na falta de pesquisas públicas oficiais sobre esse segmento, o I Lesbocenso Nacional é produzido por integrantes da Liga Brasileira de Lésbicas (LBL) e da Associação Lésbica Feminista de Brasília - Coturno de Vênus. Entre 2018 e 2019, a Coturno de Vênus realizou um mapeamento de lésbicas no Distrito Federal, iniciativa também inédita.
De acordo com as organizações, o Lesbocenso busca alterar o cenário de subnotificações de crimes, violação de direitos e da falta de políticas públicas específicas para lésbicas e sapatão. Segundo dados publicados no Dossiê do Lesbocídio, foram mapeados 126 assassinatos de lésbicas, entre os anos de 2014 a 2017, motivadas pela lesbofobia, mas pode haver subnotificação. O lesbocídio é a morte de lésbicas e sapatão por motivo de lesbofobia ou ódio, repulsa e discriminação contra a existência lésbica. Com esse mapeamento, avaliam as organizações, será possível estimar a prevalência das violências e da lesbofobia em relação a esse segmento da população.
O Dia Nacional da Visibilidade Lésbica remete à realização, em 1996, do 1º Seminário Nacional de Lésbicas, que tratou da ocorrência de violações de direitos dessa população. Em 22 anos, a temática lésbica ganhou mais espaço no debate público, mas ainda há preconceito, violência e exclusão social, econômica e política dessa população.
Lesbocenso no DF
O Lesbocenso se baseia em um formulário disponível na internet que reúne dados, como faixa etária, raça/etnia, emprego, religião, grau de instrução, acesso à saúde e índices de violência. No levantamento feito no DF há dois anos, cerca de 800 pessoas responderam. O resultado não significa um número absoluto, mas uma amostragem da situação dessa população.
Ao todo, 83% das pessoas que responderam ao questionário do Lesbocenso no DF afirmam ter sofrido algum tipo de violência lesbofóbica, como assédio, agressões físicas e psicológicas. O levantamento mostrou também que 40% das entrevistadas estavam desempregadas, um número bem acima da média geral da população economicamente ativa no Brasil, que figura em torno de 14% na atualidade. Mais da metade das respondentes, na época, informaram receber salário de até R$ 1.000. A grande maioria das entrevistadas, cerca de 80%, afirmaram possuir ensino superior completo.
No recorte racial, o Lesbocenso do DF mostra que a maioria das lésbicas que se declaram brancas moram na região do Plano Piloto, enquanto aquelas que declaram negras vivem, predominantemente, nas regiões mais periféricas da capital. Essa mesma diferenciação se estabelece em relação à acesso à saúde. Enquanto as lésbicas que vivem na periferia utilizam exclusivamente o Sistema Único de Saúde (SUS), aquelas que moram nas áreas centrais afirmam ter planos de saúde.
Edição: Flávia Quirino