A crise tem colocado em margens cada vez mais estreitas a condição humana, atentando à própria vida
A precarização, informalidade e superexploração do trabalho que marcam historicamente a classe trabalhadora brasileira tem sido aprofundada pela pandemia da covid-19, tornando ainda mais central a disputa do Fundo Público e a organização dos trabalhadores na luta por melhores condições de vida.
No Distrito Federal, a situação é extrema, sendo a Unidade da Federação onde a desigualdade e o preço da cesta básica mais aumentaram no último ano, de acordo com o Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas (Dieese). A situação atual potencializa as contradições da formação social e econômica distrital, pautada na garantia de um conjunto de políticas econômicas e sociais que privilegiam o Plano Piloto e a manutenção dos equipamentos públicos distritais e federais em detrimento das outras Regiões Administrativas, deixando a maior parte da classe trabalhadora à margem, contando com a própria sorte.
Ademais, o Governo do Distrito Federal é condizente e apoiador da atual política governamental nacional, que nunca garantiu os meios necessários de sobrevivência da população em face da pandemia, com um auxílio emergencial insuficiente para despesas básicas, como alimentação e moradia, além da má gestão e demora na vacinação da população.
Nessa mesma linha, o governador Ibaneis implementou a Renda Emergencial no DF, no valor de R$ 408,00 -quantia irrisória tendo em vista o custo de vida da região - que teve uma série de problemas de subnotificação e negação do benefício sem justa causa.
Ao mesmo tempo, Ibaneis não mediu esforços para o aumento do repasse de recursos públicos para as empresas de transporte, assim como, operou outras medidas que privilegiam as necessidades do capital em detrimento às necessidades humanas. Dessa forma, é necessária a responsabilização desse Governo pelas péssimas condições de vida do povo.
Com a experiência de construção da campanha de solidariedade Periferia Viva junto aos movimentos sociais do DF ao longo da pandemia, percebemos de perto a realidade de miséria das famílias do DF. Já na questão da alimentação, percebe-se cada vez mais como a segurança alimentar da população está ameaçada, tornando-se cada vez mais frequente a comercialização de ossos, como alternativa à carne, e arroz quebrado, por exemplo. A cobiça capitalista chegou ao ponto de venderem nos supermercados caixas de papelão já utilizadas. Tudo isso demonstra o nível de precarização da vida da classe trabalhadora no DF.
Como pode ser observado, a crise, para além de não cumprir seu desígnio – no sentido de reorganização da produção e reprodução social para uma recuperação econômica - tem colocado em margens cada vez mais estreitas a condição humana, atentando à própria vida. A gestão da sobrevivência de parte da classe trabalhadora tem significado viver entre os riscos trazidos pela covid-19 e a capacidade de se furtar da fome e de outras questões objetivas e subjetivas que vem nos acometendo.
Diante disso, percebemos diariamente a violação de direitos da população que possibilitem a dignidade humana e a continuidade da exploração, da apropriação do Fundo Público e da acumulação do capital. Cabe a nós, setores populares, a solidariedade de classe na construção de alternativas de vida e de trabalho, associada à luta pela exigibilidade dos direitos historicamente conquistados frente ao Estado, que tem o dever de garanti-los.
* Adda Luisa de Melo Sousa é estudante de Direito, militante do Levante Popular da Juventude e da Consulta Popular.
** Olivio José da Silva Filho é gastrônomo, doutorando em Política Social pela Universidade de Brasília, militante do Levante Popular da Juventude e da Consulta Popular.
***Este é um artigo de opinião. A visão das autoras não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Flávia Quirino