Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) fizeram um protesto, na manhã desta quinta-feira (30), em frente à mansão do senador Flávio Bolsonaro (Patriotra-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, num dos bairros mais nobres de Brasília. O imóvel, que possui cerca de 2,4 mil metros quadrados, foi comprado no início do ano pelo valor de quase R$ 6 milhões.
"Enquanto o povo está na fila do osso, a família Bolsonaro esbanja luxo com dinheiro duvidoso", afirmou Guilherme Boulos, da coordenação nacional do MTST, em uma postagem nas redes sociais.
Com salário líquido de cerca de R$ 25 mil mensais, Flávio Bolsonaro financiou mais da metade do imóvel, com parcelas de cerca de R$ 20 mil por mês, o que levanta suspeitas sobre possível enriquecimento ilícito, já que a renda do parlamentar seria incompatível com a aquisição de um imóvel desse porte.
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) chegou a abrir uma investigação preliminar, em abril, para apurar possíveis irregularidades na concessão do financiamento pelo Banco de Brasília (BRB) para a compra da mansão de Flávio.
Fome e miséria
No Brasil, há quase 20 milhões de pessoas passando fome, segundo dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN), divulgados no início do ano. A extrema pobreza quase triplicou, passando de 4,5% da população para 12,8%.
Segundo a pesquisa, nos últimos três meses de 2020, 19,1 milhões de pessoas estavam passando fome no Brasil e cerca de 116 milhões de pessoas não tinham acesso pleno e permanente a alimentos.
:: Sem teto e sem comida: na capital do país, só doações salvam famílias da fome ::
Numa cena que se tornou comum nos últimos meses, centenas de pessoas são vistas diariamente em diversas cidades do país formando filas para receber doação de ossos descartados por açougues. A coleta de restos de comida por pessoas em situação de extrema pobreza e o aumento da população de rua também são facilmente perceptíveis, especialmente nas grandes metrópoles.
Em um manifesto sobre o ato de hoje, o MTST apontou a contradição da família do Presidente da República multiplicar seu patrimônio num dos piores momentos da história do país, com milhares de vidas perdidas pela pandemia e uma crise sem precedentes.
"No momento em que o país passava o pior momento da pandemia, seu filho, Flávio Bolsonaro, conhecido como Zero Um, adquire esta mansão,no valor de R$ 6 milhões, um valor que é quase quatro vezes maior do que o seu patrimônio declarado em 2018. Não é nenhuma novidade que a única coisa que a família Bolsonaro fez bem nessas décadas de política foi montar esquemas e multiplicar seus imóveis. Mas é indignante que isso aconteça sobre os corpos de mais de 580 mil brasileiros e e enquanto 19 milhões passam fome".
O movimento lembra ainda que o governo Bolsonaro acabou com o programa de habitação popular Minha Casa Minha Vida e vetou um dispositivo legal que impedia o despejo de famílias pobres que tivessem dificuldade de pagar o aluguel, em decorrência da crise econômica causada pela pandemia. O desemprego no país afeta mais de 14% da população economicamente ativa, num contingente de cerca de 15 milhões de pessoas.
Inflação dispara
A inflação também está em disparada no país e fechou em quase 10% nos últimos 12 meses encerrados em agosto. Os alimentos subiram ainda mais, quase 14% neste período, segundo estimativas oficiais.
A crise dos preços altos é tão grave que, em apenas um mês, o Banco Central subiu de 5,8% para 8,5% a estimativa de inflação para o ano de 2021, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
De acordo com um relatório do órgão, entre os fatores da revisão para cima, estão a inflação observada recentemente maior do que a esperada, a elevação dos preços de commodities, produtos básicos que funcionam como matéria-prima, o câmbio e o crescimento das expectativas de inflação do mercado financeiro indicadas no Boletim Focus, pesquisa semanal divulgada pelo Banco Central.
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Edição: Flávia Quirino