É indispensável refletir sobre a educação que queremos e o professor ou a professora que devemos ser
Costumo dizer que se eu não fosse professora, seria professora. Quando criança, foi a educação que abriu caminho para que eu buscasse uma vida menos sofrida que aquela vivida em uma casinha de taipa e sapê em um sítio em Niquelândia, Goiás. Depois de crescida, já com o curso de Pedagogia concluído, a educação me mostrou que a escola é o espaço mais vivo e mais alegre que a gente pode ter.
A escola vai muito além dos muros que a delimitam: ela gera o sentimento ativo e indescritível de buscar, inovar, lutar, querer. É o esperançar sempre.
Em tempos de retrocesso sociopolítico e econômico, é indispensável refletir sobre a educação que queremos e o professor ou a professora que devemos ser.
Faremos coro a um modelo de educação que não abre espaço para a solidariedade, para a troca de ideias; que ensina a lidar com números, mas ignora as vidas e suas relações sociais?
Ou cerraremos fileiras por uma educação que permite às pessoas a construção do pensamento crítico, da consciência social e de classe; que permite a construção de escolas que rompem com a reprodução da desigualdade e do preconceito?
Essa é uma decisão definitiva para superarmos ou perpetuarmos os alarmantes números que se apresentam quando falamos em desemprego, fome, miséria, concentração de renda, criminalidade. É consentir o retrocesso ou se indignar com ele. É se conformar com a barbárie ou lutar pela democracia.
Neste e nos próximos anos, nós, professoras e professores, estamos ainda no centro da recuperação da educação, que foi devastada pela pandemia da covid-19, com proporções ainda mais graves no Brasil devido à ausência de políticas públicas para o setor.
E estar no centro dessa recuperação não significa ser individualmente responsável por ela, mas ser prioridade nas propostas e projetos dos governos federal, estadual, distrital e municipal.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), “o êxito da recuperação da educação depende de maior investimento no bem-estar, na formação, no desenvolvimento profissional e nas condições de trabalho dos 71 milhões de docentes do mundo para recuperar as perdas de aprendizagem e gerir as transformações no ensino e na aprendizagem impostas pela pandemia da covid-19”.
A orientação do organismo, que reúne ampla coalizão de organizações internacionais, sociedade civil e o setor privado, fica totalmente inviabilizada quando deparada com a realidade do Brasil. Aqui, no Ministério da Educação, temos um negacionaista que atua para uma educação excludente. E no Ministério da Economia, um banqueiro que tem negócios em paraísos fiscais e lucrou 15 bilhões com a mesma política econômica que impôs ao povo brasileiro a corrida por ossos para enganar a fome.
Além disso, também temos um presidente que facilita a compra de armas e pede taxação para livros; que subtraiu quase R$ 5 bilhões da Educação em apenas um ano; que diz que professores existem em “excesso” e isso “atrapalha”; que quer acabar com os serviços públicos, inclusive com a educação, com a reforma administrativa (PEC 32).
No Distrito Federal, o cenário não é tão divergente. Servidores do magistério público estão há mais de seis anos sem reajuste salarial. Como se não bastasse, o governador Ibaneis Rocha (MDB) ainda tenta todas as manobras para deixar de pagar a última parcela do reajuste salarial conquistado em 2012, devida desde setembro de 2015.
Para além disso, como forma de precarizar os direitos dos docentes, o GDF infla a rede pública de ensino com contratação temporária e faz vista grossa à nomeação dos 373 professores e professoras que estão no banco do último concurso público, homologado em 2017.
Por isso, se cabe a nós, professores e professoras, refletir sobre a educação que queremos, a sociedade que almejamos e nosso papel nessa construção, cabe também refletir sobre o governo que pode proporcionar esse cenário.
Que neste 15 de outubro, Dia dos Professores e das Professoras, possamos promover essa reflexão e que, acima de tudo, tenhamos a certeza de que a educação que conscientiza é sempre a saída e que o professor que esperança nunca é entrave!
*Rosilene Corrêa é professora aposentada da rede pública de ensino do DF e dirigente do Sinpro-DF e da CNTE.
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato - DF.
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Edição: Flávia Quirino