Reconhecer o poderio histórico da Revolução Bolchevique é olhar objetivamente para a história!
Estamos em pleno aniversário do maior e mais importante feito da classe trabalhadora na história da humanidade: são 104 anos da Revolução de Outubro de 1917, a Revolução Russa, comemorada dia 7 de novembro pelo calendário moderno (gregoriano).
Nunca antes uma revolução havia sido capaz de mudar o modo de produção vigente e, simultaneamente, o seu regime de propriedade.
Ou seja, além de instituir a autogestão produtiva, sem patrão nem empregado, a Revolução Russa de Outubro extinguiu a propriedade privada dos meios de produção, de maneira que máquinas, instalações, equipamentos, terra, matéria prima, tecnologia, energia, etc., passam a ser propriedade pública, social, de todo o país, de todo o povo.
A Revolução Francesa de 1789, a mais radicalizada até então, que marcou o início de uma nova Era na história pelo seu caráter de “revolução burguesa anti-feudal”, manteve a propriedade privada dos meios de produção também dominante no anterior modo de produção feudal.
E como os trabalhadores russos conseguiram tal proeza?
Apoiando-se na experiência acumulada de luta da classe operária européia, principalmente nos países-símbolo da emergência capitalista (França, Inglaterra e Alemanha), bem como na própria história da Rússia, que vivia sob a ditadura monárquica Czarista, contra a qual o povo já havia se levantado, na Revolução de 1905 sem lograr vitória e, em fevereiro de 1917, depondo o Czar Nicolau II e instituindo o Governo Provisório de Alexander Kerensky, para finalmente marcar a história do planeta com a Revolução de Outubro, dirigida pelo Partido Comunista, sob a destacada direção de Lenin e Trotsky.
A Revolução Russa de Outubro instituiu um novo patamar de conquistas para a classe trabalhadora.
Além de promover a paz, retirando a Rússia da sangrenta I Guerra Mundial, extinguiu a monarquia e instituiu a República dos Soviets, decretou a reforma agrária, extinguindo o latifúndio e as relações de servidão no campo, disponibilizando a terras para os camponeses.
Na mesma toada, a Revolução de Outubro consolidou a jornada de trabalho de 8 horas, conquistada na Revolução de Fevereiro, o controle operário nas unidades produtivas, igualou o salário entre homens e mulheres, reconheceu o direito das nacionalidades (autodeterminação), estendeu o direito de voto para as mulheres e para pessoas analfabetas e estabeleceu o direito ao divórcio e os direitos reprodutivos das mulheres. Além disso, separou o Estado da Igreja, instituindo o Estado laico.
A primeira ministra de estado mulher da história também surgiu da Revolução Russa de Outubro: Alexandra Kollontai, Ministra de Assistência Social.
Todos esses avanços só foram possíveis, por um lado, pelo papel de um instrumento vital de intervenção da população russa: os Soviets (conselhos), que foram se consolidando desde 1905 como uma estrutura de disputa de poder contra o czarismo e contra a incipiente burguesia russa.
Outro instrumento estratégico para o triunfo da Revolução foi o Partido Bolchevique, que se destacou dentro dos soviets pela ousadia política, centralização e unidade de seu comando e identidade político-programática com a população camponesa e com a classe.
No mais, as condições objetivas favoreciam plenamente à Revolução Socialista de Outubro.
O capitalismo europeu e mundial já vinha acumulando crises em cima de crises (de subconsumo e sobreacumulação de capital) e tentava resolver suas debilidades estruturais promovendo guerras.
A I Guerra Mundial fragilizou sobremaneira a monarquia russa.
O povo queria paz, que só foi alcançada com a Revolução Bolchevique, tendo como vanguarda operários, camponeses e soldados, que eram maioria nos Soviets.
Se a historiografia reconhece a Revolução Francesa como um marco histórico, determinando que ali iniciou a “Idade Contemporânea”, por que não reconhecer a Revolução Russa de Outubro como uma nova Era, uma nova “Idade”?
A “Idade do Socialismo”!
Enfim, reconhecer o poderio histórico da Revolução Bolchevique é olhar objetivamente para a história!
De fato, um novo patamar de relações de trabalho estava criado; e muitos governos capitalistas passaram a governar guiados pelo conceito de “estado de bem estar social”, ou seja, a Revolução Russa de Outubro e a criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) sacudiu o planeta e deixou profundas raízes, fortalecidas com a vitória sobre o Nazi-fascismo na II Grande Guerra Mundial.
Além disso, serviu como farol para o povo trabalhador de todo mundo. Sob impulso da Revolução Russa e da União Soviética veio a China Socialista, Cuba, Vietnã, Coréia Socialista, além de dezenas de movimentos de libertação anticolonial e nacionalistas revolucionários nos continentes africano, asiático e latino-americano.
A URSS acabou formalmente, mas mostrou que é possível unir o povo pela causa socialista, pela igualdade de direitos, por uma sociedade justa e solidária e que a integração de países, nações e etnias é uma necessidade inexorável da história e só o Socialismo é capaz de promovê-la.
As raízes da Revolução Bolcheviques e da União Soviética estão mais vivas do que nunca, e mais ainda frente ao debacle de um sistema capitalista que assume nesta quadra centenária da história sua forma mais concentrada, parasitária e belicista: o capital financeiro, rentista e imperialista!
E mesmo a Rússia, que deu uma reviravolta de 180º nos anos 90, não consegue esconder suas raízes que a definem como uma Rússia de base soviética!
Parabéns aos trabalhadores e trabalhadoras da Rússia e de todo o mundo pela passagem do 7 de novembro!
*Afonso Magalhães é Economista e Coordenador de Direitos Humanos e Relações Internacionais da Central de Movimentos Populares (CMP-DF)
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato DF no seu Whatsapp ::
Edição: Márcia Silva