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Coluna

Advento e natal: tempo de desacelerar, esperançar e solidarizar

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Somos desafiados a nadar contra a corrente do consumismo desenfreado - Divulgação
Vamos desacelerar para poder desfrutar deste momento especial e importante em nossas vidas?

Final de ano, época corrida para a maioria das pessoas... chega o Advento para nos convidar a desaceleramos nossas atividades, a fim de podermos nos preparar com alegria e expectativa para o Natal. 

Somos convidados a tirar tempo para refletirmos e reconhecermos a importância deste momento litúrgico em nossa vida, em que nos preparamos para receber o menino Jesus, pois a celebração do Advento traz consigo o mistério da Salvação.

Somos desafiados a nadar contra a corrente do consumismo desenfreado, onde a cada ano a decoração natalina chega mais cedo às lojas e centros comerciais, onde reinam renas, trenós, duendes e papais noéis com promessas de satisfazer os desejos das crianças...  

Raramente encontramos um presépio para nos lembrar da verdadeira motivação do Advento e Natal: o menino Jesus envolto em panos numa manjedoura de uma estrebaria, ao lado de Maria e José.

Vamos desacelerar para poder desfrutar deste momento especial e importante em nossas vidas? Vamos acompanhar José e Maria a caminho de Belém? 

Advento é tempo de espera, expectativa, esperança, pois lembramos que Cristo é a nossa esperança (I Tim. 1:1). 

O profeta Isaías anunciou: “Virá um descendente do rei Davi, filho de Jessé, que será como um ramo que brota de um toco, como um broto que surge das raízes. O Espírito do Senhor estará sobre ele e lhe dará sabedoria e conhecimento, capacidade e poder... Ele não julgará pela aparência, nem decidirá somente por ouvir dizer. Mas com justiça julgará os necessitados e defenderá os direitos dos pobres... com justiça e com honestidade ele governará o seu povo. Lobos e ovelhas viverão em paz, leopardos e cabritinhos descansarão juntos. Bezerros e leões comerão uns com os outros, e crianças pequenas os guiarão” ( Is 11 ).

Ao resgatarmos as profecias do Antigo Testamento, lançamos luz sobre Jesus como aquele que chega para dar esperança, um ramo que brota de um toco, num mundo onde reinará a paz com justiça, pois Ele não julgará pela aparência, mas defenderá os direitos dos pobres e governará seu povo com justiça e honestidade. 

Paulo Freire nos ensina um novo termo: Esperançar.

 É um verbo próprio a nós, cristãos, pois “Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo... Por isso, é muito diferente  de esperar; temos mesmo é de esperançar!”

A narrativa do nascimento de Jesus está presente nos evangelhos, cada um apresentando uma parte desta história, cabendo a nós juntar as narrativas para termos a visão global e a participação de cada protagonista.

Mateus nos fala da gravidez de Maria antes de seu casamento com José, descrito como “um homem que sempre fazia o que era direito”; foi necessária a visita de um anjo a José em sonho para convencê-lo a casar com Maria. 

Ele relata também a visita de alguns homens do Oriente, seguindo a estrela que apontava o nascimento do “menino que nasceu para ser o rei dos judeus”. 

A intenção deles era adorá-lo e ofertar os presentes que trouxeram: ouro, incenso e mirra. 

Depois desta visita ao menino Jesus, Deus avisou, em sonho, para José fugir imediatamente para o Egito. Nasce neste momento uma família imigrante, exilada, refugiada.

Lucas nos oferece uma visão mais completa do nascimento de Jesus. 

Ele identifica como Gabriel, o anjo portador da boa nova a Zacarias, de que Isabel lhe daria um filho que se chamaria João.

Ele também relata o diálogo do anjo Gabriel com Maria sobre sua gravidez, informando-lhe da gravidez de Isabel, já no sexto mês de gestação.

Essa informação motivou Maria a visitar Isabel, pois ela sabia que tinham algo incomum em comum: o agir de Deus em suas vidas, “porque para Deus nada é impossível” (Lucas 1:37).

 Que visita abençoada! 

Inspirada pelo Espírito Santo, a Ruah divina, Maria louva a Deus com seu belíssimo Magnificat. 

A visita de Maria a Isabel durou três meses, e neste tempo puderam trocar histórias e experiências, se aconselharem e juntas preparam o enxoval para seus filhos João e Jesus.

Uma anciã e uma jovem, ambas mães de primeira viagem, com medos, inseguranças, expectativas e sonhos... ambas com a fé no Deus da vida. 

As vidas destes dois meninos estavam entrelaçadas, pois Zacarias, depois do nascimento de João, profetizou: “... E você, menino, será chamado de profeta do Deus Altíssimo e irá adiante do Senhor a fim de preparar o caminho para ele ( Lucas 1: 76).”

Lucas nos informa o motivo de Jesus ter nascido em Belém, e não em Nazaré. 

Foi convocado um censo, uma contagem da população, e todos tinham que se apresentar em sua própria cidade: “Por isso José foi de Nazaré, na Galileia, para a região da Judéia, a uma cidade chamada Belém... Então Maria deu à luz o seu primeiro filho. Enrolou o menino em panos e o deitou numa manjedoura, pois não havia lugar para eles na pensão. (Lucas 2: 4 e 7)”.

Imagino que uma corrente solidária se formou em Belém para ajudar aquele casal que não encontrou lugar para eles na pensão. 

Um estábulo foi oferecido para dar guarida, mulheres se mobilizaram para ajudar Maria em seu trabalho de parto. 

O berço feito por José e o enxoval de Jesus foi feito por Maria, em Nazaré, então Jesus foi enrolado em panos e deitado numa manjedoura.

A estrela guiou os homens do Oriente, e eles chegaram até Belém para serem solidários, trazendo presentes valiosos. 

Os pastores receberam a visita de anjos para anunciar a Boa Nova, e foram pessoalmente conhecer o Salvador, o Messias, o Senhor. 

Eles foram solidários e contaram o que os anjos tinham dito e o seu canto de louvor a Deus.

 E “Maria guardava todas essas coisas no seu coração e pensava muito nelas (Lucas 2:19)”.

Neste tempo de Advento e Natal, somos chamados/as a fazer como Maria, que guardava todas essas coisas no seu coração e pensava muito nelas... 

Queremos te convidar a desacelerar para ouvir a voz de Deus, a esperançar na espera e expectativa da vinda do Salvador, Messias e Senhor e a solidarizar doando um pouco do que temos, um pouco de nosso tempo, um pouco do imensurável amor que recebemos de Deus.

Texto:  Presbítera Anita Whright Torres, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e Primeira Vice-presidente do CONIC

*Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), nasceu em 1982, em Porto Alegre. Atualmente sua sede encontra-se no DF.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa  a linha do editorial  do jornal Brasil de Fato - DF.

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Edição: Márcia Silva