Generais andam hoje ocupando cargos na Esplanada e nas empresas estatais. São falsos patriotas.
Hoje trataremos dos seus reflexos diretos e indiretos no Brasil.
A primeira grande greve geral do país, em julho de 1917, já havia refletido a agitação pré-revolucionária na Rússia, mas foi a partir de 1922 que uma sequência de acontecimentos históricos balançaram a República Velha, sustentada pelas oligarquias e o latifúndio.
Em março de 1922, em Niterói, é fundado o Partido Comunista Brasileiro; poucas semanas antes foi realizada a Semana da Arte Moderna, refletindo de alguma forma, no campo cultural, da estética e das artes, as transformações revolucionárias que avançavam pelo mundo; em julho, o Movimento Tenentista, que fermentava nos quartéis, apareceu para o país com o levante do Forte de Copacabana.
O Presidente da República de então, Arthur Bernardes, governou durante todo seu mandato com o país em estado de sítio.
Porém, isso não impediu a eclosão de um levante cívico-militar, a partir de São Paulo, em julho de 1924, movimento que foi sufocado pelas tropas legalistas, mas que derivou para a histórica Coluna Prestes, quando vários oficiais se uniram sob o comando do Capitão Luiz Carlos Prestes, que percorreu 25 mil quilômetros, sofrendo perseguição das forças leais aos governos oligárquicos de então: primeiro Arthur Bernardes e, depois, Washington Luís.
Os combatentes terminaram a jornada de forma invencível, exilando-se na Bolívia.
Luiz Carlos Prestes, então na Argentina, firmou-se como grande referência de liderança popular, de maneira que, apesar de sua formação positivista, já demonstrava grande simpatia pelo marxismo e pelos ideais da Revolução Russa. Poderia ter assumido o comando da Revolução de 1930, uma revolução burguesa incompleta no Brasil, mas que arrastou grandes massas em várias regiões do país, de maneira que, por pouco, Getúlio Vargas e seus comandados não perderam o controle da situação.
Prestes se negou a disputar o comando do movimento por entender que não havia chegado a hora da revolução socialista no Brasil.
Mas em 1935, com o movimento comunista mundial já burocratizado pelo stalinismo e apoiado em avaliação decorrente do chamado “terceiro período” - construído a partir do diagnóstico da crise profunda do sistema capitalista, exposta na Grande Crise de 1929 - optou-se no Brasil por acionar um putsch (golpe), com ações militares em Natal, Recife e no Rio de Janeiro.
Foi um fracasso tanto militar, como político.
A Aliança Nacional Libertadora, hegemonizada pelo PCB, que puxava o movimento, já estava na clandestinidade (bem como o próprio PCB) e não mostrou capacidade de mobilização popular contra o governo de Getúlio Vargas. Era o dia 27 de novembro de 1935.
A derrota do levante de 1935 teve como efeito imediato a repressão contra dirigentes, militantes e aliados do Partido Comunista Brasileiro. Getúlio Vargas inflexionou sua política para a direita.
Filinto Muller, seu braço repressor, aproveitou para barbarizar contra Prestes e vários dirigentes do partido.
Todos foram presos e a companheira de Prestes, Olga Benário, de nacionalidade alemã, foi entregue grávida à Alemanha de Hitler, onde veio a ser executada em um campo de concentração.
Prestes, desde a Coluna Prestes conhecido como o Cavaleiro da Esperança, mesmo preso, crescia em autoridade política e quando foi anistiado em 1945, pôde disputar as eleições nacionais onde ele foi eleito senador por 11 diferentes estados da federação e o PCB teve 10% dos votos, um ótimo resultado em um pleito que elegeu o liberal-conservador Eurico Gaspar Dutra Presidente do Brasil.
A Revolução Russa e, consequentemente, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, teve enorme impacto no mundo e também no Brasil, pois além de possibilitar o crescimento político do PCB (fenômeno evidenciado até o golpe reacionário de 1964), influenciou correntes - mesmo aquelas que não tinham ligação com o PCB - de intelectuais, cientistas, sindicalistas, esquerda trabalhista (daí surgiu Jango, Roberto Silveira e Brizola) e militares democráticos e nacionalistas. Enfim, a forças de direita, atordoadas à semelhança dos hoje “bolsominions”, viam o “fantasma do comunismo” em toda parte.
E a influência das ideias comunistas e anti-imperialistas nos quartéis era, em determinados períodos, maior até que no movimento de massas.
Daí o ódio nutrido por esses generais reacionários - que bem conhecemos desde o golpe de 1964 até os dias atuais – em relação a seus camaradas de farda que abraçaram ideias socialistas, a começar pelo próprio Capitão Luiz Carlos Prestes, como, décadas depois, o Capitão Carlos Lamarca, mas também Generais nacionalistas democráticos como os Generais Horta Barbosa e Estilac Leal (líderes da campanha pela criação da Petrobrás) e três décadas depois o General Antonio Carlos de Andrada Serpa que rompeu com a ditadura militar nos anos 70.
Enfim, Generais com estofo muito diferente desses que andam hoje ocupando cargos na Esplanada e nas empresas estatais, ganhando salários milionários e avalizando o desmonte da Petrobrás e a entrega do pré-sal à ganância de empresas privadas multinacionais.
São falsos patriotas que envergonham as Forças Armadas do Brasil.
Os mesmos que, na Ordem-do-dia deste 27 de novembro, hipocritamente discursarão “pela democracia contra o comunismo...”
*Afonso Magalhães é Economista e Coordenador de Direitos Humanos e Relações Internacionais da Central de Movimentos Populares (CMP-DF)
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
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Edição: Márcia Silva