A pouco menos de um ano para as eleições gerais de 2022, já começam as movimentações para a construção de futuras candidaturas ao Congresso Nacional.
Essa semana, em Brasília, o Partido dos Trabalhadores (PT) realizou um ato de filiação da drag queen Ruth Venceremos, que deve concorrer a uma das oito cadeiras na Câmara dos Deputados pelo Distrito Federal.
No evento de filiação, transmitido pelas redes sociais, a drag queen teve sua ficha abonada pela presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann, do Paraná. Representantes de movimentos populares e da comunidade LGBTQIA+ do DF também estiveram presentes.
A trajetória política de Ruth Venceremos tem origem no Movimento Sem Terra (MST), onde atua desde os 13 anos de idade, e atualmente integra a coordenação nacional de educação da entidade.
Ela também é diretora do coletivo artístico Distrito Drag, fundado há quatro anos no Distrito Federal, que atua na produção e difusão da cultura da comunidade e em pautas como direitos humanos, capacitação profissional e da inclusão social de pessoas LGBTQIA+. Sua pré-candidatura também expressa uma estratégia do MST em ampliar o número de representantes da organização em parlamentos, com o lançamento de candidatos ao legislativo em diversos estados.
Em conversa com Brasil de Fato DF, ela conta que o novo projeto é fruto de uma construção coletiva.
"Essa pré-candidatura vem como resultado não de um interesse pessoal ou individual. Ela é resultado de algumas prosas, a partir do MST, de onde eu venho, mas também tem a ver com esses processos que foram se construindo no espaço urbano, nas várias frentes de atuação em coletivos da cidade. Essa pré-candidatura vem consentida nesses mandatos coletivos populares, como a pauta da terra, a pauta LGBTQIA+, a pauta racial", afirma.
A ativista se vê em um ponto de intersecção de diferentes lutas sociais, que começam na reforma agrária e educação popular e alcançam a luta contra o racismo e em favor dos direitos da comunidade LGBTQIA+.
"Busco olhar de maneira articulada para de fato a gente avançar num projeto de emancipação social. A fragmentação dessas pautas é uma coisa impulsionada pelo capitalismo até como forma de desarticular a representatividade. Não se trata de se buscar a representatividade pela representatividade, mas sim em aliança com um projeto de transformação social do país".
Sem cara de povo
Ruth Vencermos, que é uma pessoa negra, nordestina e oriunda da zona rural, afirma que é preciso mexer com as estruturas de poder, inclusive nos partidos políticos, para romper com um ciclo em que o Congresso Nacional não tem "cara de povo".
"Embora a esquerda é quem mais faz esse debate da representatividade, isso não se traduz numa representação do que é o povo brasileiro. O Congresso Nacional não traduz o que é de fato povo brasileiro. E não basta apenas que os partidos abram espaço para esse tipo de candidatura, mas que construam condições para que essas candidaturas tenham êxito eleitoral", reivindica.
Escolha do PT
Sobre a escolha do PT, Ruth Venceremos aponta a longa relação do partido com os movimentos sociais, em especial o MST, e a capacidade da legenda em incidir nos setores populares.
"O MST tem uma relação histórica, quase uma relação de origem [com o PT], eles nascem quase no mesmo período histórico. E, com todas as críticas que a gente possa ter ao PT, é o partido de esquerda que tem o maior engajamento popular, o que tem maior enraizamento nas lutas do povo. Está praticamente em todos municípios e, com todos os limites da política institucional, ainda conseguiu fazer muita coisa pelo povo pobre desse país".
Problemas do DF
Para avançar na construção da pré-candidatura, Ruth Venceremos pretende estabelecer um processo de diálogo e escuta com coletivos e movimentos do DF.
"A gente acredita muito na construção coletiva, e como a gente vem de uma experiência de construção coletiva, essa candidatura deve se expressar dessa forma, conectada com as demandas reais do povo, fazer um processo de escuta. Quem sabe os problemas reais é quem tá na ponta", diz.
Segundo Ruth, transporte público, saúde, emprego e segurança seguem sendo o topo das preocupações do brasiliense, especialmente os mais pobres.
Ao longo das últimas eleições, o DF tem sido visto como um enclave conservador, em que candidaturas conservadoras têm ampliado espaço político, inclusive na esteira do bolsonarismo. Para Ruth, ainda que mantenha uma força importante, esses setores entrarão na próxima luta mais enfraquecidos.
"Estamos vivendo em outro contexto, o preço da energia, do gás, as pessoas voltaram a cozinhar à base de lenha, o desemprego altíssimo, que no DF é maior que a média nacional. Ainda que tenha um núcleo importante do bolsonarismo no DF, a população local está mais empobrecida, vivendo os mesmos problemas estruturais do restante da população brasileira".
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Edição: Flávia Quirino