Cerca de 400 pessoas estiveram na quinta-feira (2) no Centro Educacional nº 01, da Estrutural, para protestarem contra a tentativa de censura em trabalho escolar que tratava do Dia da Consciência Negra e exibia material que criticava a violência policial direcionada à população negra.
A ação, que contou com a participação de parlamentares, lideranças comunitárias, do movimento negro, da pastoral da criança e do adolescente, além de organizações estudantis e sindicais, também tinha como objetivo apoiar à vice-diretora da escola, Luciana Pain, e a comunidade escolar que teve a unidade invadida no dia 24 de novembro pelo deputado bolsonarista Heitor Freire (PSL-CE) que “proferiu ameaças e falsas acusações” contra a gestora.
Representantes do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF) estiveram no ato e, em nota, a instituição frisou que, juntos às demais organizações “repudiou a censura e o racismo, além de questionar a militarização” da escola. O CED 01 da Estrutural é uma das escolas públicas sob intervenção militar na cidade.
O Sinpro-DF informou que solicitou ao Ministério Público Federal (MPF) que averigue “a atitude autoritária e abusiva do deputado Heitor Freire (PSL-CE), da base de apoio de Jair Bolsonaro, contra a vice-diretora”.
Nas redes sociais, o corpo docente do colégio publicou que repudia “toda e qualquer forma de perseguição, cerceamento e censura ao livre trabalho docente dessa Unidade de Ensino”. Mencionou ainda que o deputado do PSL disse “em alto e bom tom, que iria judicializar o acontecido, exigindo a exoneração imediata da vice-diretora”.
Entre o material exibido no mural da escola pelos alunos constava a reprodução de charges e tirinhas que evidenciavam a violação de direitos contra a população negra. Trabalhos do chargista e ativista Carlos Latuff estampavam a coleção de cartazes que registrava ainda a luta contra o racismo e a intolerância.
:: Chargista visita escola militarizada que sofreu censura em mural sobre racismo ::
Em solidariedade à diretora Luciana Pain, professoras e alunas, o chargista visitou a escola no dia 30 passado. Em vídeo, Latuff disse que o país é racista e que o “Estado mata, sim, preto e pobre”. Nesse sentido, disse ser fundamental debater as questões de violência no Brasil e parabenizou a diretora pela coragem de abordar o tema.
Censura constante
Em 2019, o Sinpro-DF denunciou que no início do ano letivo, a primeira atitude da Polícia Militar (PM) no Centro Educacional nº 01, da Estrutural, que já se encontrava sob intervenção militar, foi apagar o grafite de Nelson Mandela e uma frase do ex-presidente da África do Sul, considerado, mundialmente, o ícone da luta em defesa da igualdade e contra o apartheid racial.
Na época, o sindicato emitiu uma nota na qual ressaltava que em um movimento oposto ao de Mandela, o Governo do Distrito Federal (GDF), com a Polícia Militar, “busca a eliminar qualquer lembrança dos métodos democráticos da construção da cidadania nas escolas da periferia de Brasília”.
“É que, para esse projeto excludente dar certo, é preciso transformar os(as) jovens cidadãos(ãs) da classe trabalhadora em indivíduos autômatos, robotizados e alienados de conhecimento filosófico, sociológico, histórico, entre outros. É importante mantê-los adestrados, ignorantes de seus direitos sobre o planeta. Daí a urgência em apagar dos muros da escola os registros da identidade de uma liderança com a qual a juventude carente e excluída se identifica e procura, na escola e no aporte de conhecimento novo, tornar-se cidadã”, destaca a nota da entidade sindical.
:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato DF no seu Whatsapp ::
Edição: Flávia Quirino