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Com Bolsonaro, o desmonte da produção científica nacional segue ladeira abaixo

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Com um drástico corte no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que caiu de R$ 165 milhões para apenas R$ 91 milhões. - Divulgação
A irresponsabilidade de Bolsonaro e seus aliados é cruel com a vida dos brasileiros.

Deputados bolsonaristas aprovaram, na semana passada, em comissão especial o texto-base de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que, na prática, privatiza a produção de insumos para exames e tratamentos nucleares, especialmente para o SUS. 

Trata-se da PEC que quebra o monopólio estatal da produção de radioisótopos, que são componentes que emitem radiação usados na produção de radiofármacos. 

Essas substâncias são essenciais em exames diagnósticos, como raio-X, cintilografia, mamografia e em tratamentos de câncer, como a radioterapia, por exemplo.

No Brasil, atualmente apenas a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e institutos como o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), podem produzi-los. 

O Ipen produz radiofármacos desde 1959 e atende mais de 430 clínicas e hospitais no país. 

Isso é produção industrial nacional, patrimônio da ciência e da pesquisa pública, do Estado brasileiro.

A PEC autoriza que empresas privadas entrem nesse mercado, ou seja, privatize a produção de uma importante substância para a medicina nuclear e para o SUS, que mantém 65 procedimentos incorporados que utilizam radiofármacos. 

A proposta foi apresentada em 2010 pelo senador Álvaro Dias, do Podemos do Paraná, aliado de primeira hora de Sérgio Moro - que quando juiz foi responsável pelo desmonte de importantes setores da economia nacional e pela perseguição política ao Presidente Lula, que culminou com sua prisão injusta por meio da forja de acusações falsas, já desfeitas pelo STF. 

Bolsonaro e Moro são variações do mesmo projeto neoliberal e antidemocrático. 

Em 2021, o Governo Bolsonaro, seguindo sua agenda privatista e neoliberalista, longe dos interesses nacionais e da população, resolveu pautar na Câmara dos Deputados mais essa matéria que busca liquidar a produção de ciência e pesquisa nuclear brasileira. 

Para relatar a PEC foi escolhido outro deputado aliado, o bolsonarista General Paternelli (PSL/SP). 

Não por acaso, a imprensa noticia que a PEC, que desmonta com a produção nacional de radioisótopos, é apoiada pelo Governo Bolsonaro, especialmente pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Por meio dele, o Governo Bolsonaro também provocou a interrupção nos trabalhos do Ipen no mês de novembro, com um drástico corte no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que caiu de R$ 165 milhões para apenas R$ 91 milhões. 

O Ipen necessita de R$ 89 milhões para garantir a produção e o fornecimento de radioisótopos até o fim deste ano. 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, liberou apenas R$ 19 milhões, colocando em risco dois milhões de pessoas que necessitam do insumo para tratamentos e diagnósticos de saúde.

Depois de 11 anos de tramitação da PEC, aliados do governo têm pressa em atender o mercado e pressionam o presidente da Câmara, Arthur Lyra (PP-AL) a submeter ao Plenário o relatório da comissão especial ainda este ano. 

De um só golpe, o governo Bolsonaro e seus aliados destroem a indústria estatal - logo eles que se afirmam como patriotas, mas vendem o Brasil ao capital internacional - e desmontam a ciência e a pesquisa brasileiras.

 A irresponsabilidade de Bolsonaro e seus aliados é cruel com a vida dos brasileiros. 

É um vale tudo em nome do interesse financeiro de poucos, pouquíssimos. 

O desmonte do Estado brasileiro segue ladeira abaixo.

*Arlete Sampaio é médica e deputada distrital.

** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato - DF.

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Edição: Márcia Silva