Desde 1978, a ADUnB representa uma das principais resistências pela manutenção do ensino público.
Na última quarta-feira (15), sessão solene realizada na reitoria da UnB deu início às comemorações pelos seus 60 anos.
A inauguração, propriamente, da instituição nascida e erguida da união de ideias, ideais, lutas e talentos de Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Heron de Alencar deu-se em 21 de abril de 1962, dois anos após a inauguração de Brasília como a nova capital do país, mas a lei de criação da UnB foi sancionada em 15 de dezembro de 1961 pelo então presidente João Goulart, e daí a escolha do 15 de dezembro para o início das efemérides.
Alencar, Ribeiro e Teixeira tinham em mente uma “revolução” pela educação, a partir de uma produção acadêmica e científica que transformasse e aprimorasse a realidade social, política e econômica do país e de seu povo. Ainda no ano de fundação, elaborou-se um Plano Orientador, ainda em vigor, com as diretrizes basilares da UnB.
Em 1964, apenas dois anos depois de sua fundação, mais um golpe civil e militar provocou nova fratura na jovem democracia brasileira, e claro que as transformações pretendidas com a UnB, bem como a histórica militância progressista de seus criadores e de boa parte dos docentes convidados a lecionar na nova universidade, não passariam imunes à estupidez (amplo sentido) da ditadura militar – e a UnB, também pela proximidade física com o epicentro do poder federal, foi uma das instituições de ensino mais perseguidas pelo regime que usurpara o poder.
Em 9 de abril daquele ano, a primeira incursão da ditadura ao campus universitário, invadindo salas de aula e revistando estudantes em busca de armas e material “comunista”, tudo a pretexto de uma dúzia de professores que “deveriam” ser presos e interrogados.
Ao fim da invasão, o então reitor, Anísio Teixeira, e seu vice, Almir de Castro, foram sumariamente demitidos.
Em 8 de setembro de 1965, a segunda invasão: em reação à demissão de professores e professoras por “conveniência administrativa”, o corpo docente da UnB entrou em greve por 24 horas. A paralisação se estendeu, estudantes aderiram, e a reitoria pediu a intervenção de tropas militares, que cercaram o campus em 11 de outubro.
Uma semana depois, quinze professores foram demitidos, acusados de “perturbação”.
Dos então 305 professores da UnB, 223 se demitiram, em solidariedade aos colegas.
Em 1968, a ditadura aumentara ainda mais a opressão, com mais perseguições e prisões políticas, torturas e mortes, e uma delas, a do estudante Edson Luis, no Rio de Janeiro, provocou o protesto de 3 mil alunos no campus da UnB, levando a ditadura à terceira e mais violenta invasão, com o seguinte saldo: um estudante baleado na cabeça; detenção de mais de 500 pessoas, 60 das quais foram presas, incluindo 7 estudantes, entre eles, Honestino Guimarães, até hoje “desaparecido” (sic).
Nos anos seguintes, alternaram-se reitores sabujos aos ditadores militares, mantendo a repressão.
Em 1977, tropas militares fizeram nova invasão no campus, prendendo e intimando alunos e professores que protestavam justamente contra as agressões que vinham sofrendo. A partir de 1978, porém, a UnB ganharia nova aliada em suas lutas.
Luta sindical
Fundada em 24 de maio de 1978, a Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB) foi uma das principais resistências pela manutenção do ensino superior público de qualidade no país e representou, dentro da universidade, a luta democrática travada pela sociedade brasileira contra o regime autoritário.
Com quase 2,5 mil filiados e filiadas – um dos índices mais altos do Brasil –, a entidade representa a categoria docente da Universidade de Brasília e atua pelo desenvolvimento de uma sólida política educacional, científica e cultural no Brasil, por meio do resgate desse espírito coletivo e do trabalho por um projeto de inserção social na universidade.
Teve papel determinante não só na luta ao lado da UnB contra a ditadura, mas também nos avanços da universidade a partir da redemocratização, em 1985, e assim seguirá, sempre, parceira de uma das mais importantes universidades federais do país na luta por uma educação inclusiva, laica e com o DNA da transformação social da realidade do país pelo conhecimento.
*Diretoria da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB - S. SInd. do ANDES-SN)
** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
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Edição: Márcia Silva