O trabalho para ganhar mentes e corações contra o projeto bolsonarista deve ser intensificado
O ano de 2022 começa e, inevitavelmente, o tema da vez é a corrida eleitoral. Neste ano, teremos eleição para presidente da República, governadores, deputados (federais, estaduais e distritais) e senadores (apenas um em cada estado e no DF).
Diante de uma conjuntura devastadora, a tendência é focar na eleição do próximo presidente do Brasil. Mas a definição dos rumos do país está também na eleição de governadores e nas eleições legislativas.
Na onda conservadora que elegeu Bolsonaro presidente em 2018, Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal) e governos estaduais também foram marcados com o aumento de representantes alinhados ao discurso abominável da escolha entre emprego ou direito na economia, e conservadorismo ou perseguição nas causas sociais.
Segundo a Radiografia do Novo Congresso Nacional (2019-2023), realizada pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), dos 513 deputados federais, 133 declaram ser empresários profissionalmente, enquanto apenas dois declaram-se agricultores familiares e apenas um pedagogo.
No Congresso Nacional conservador em relação aos valores, de acordo com o estudo do Diap, as principais bancadas temáticas (parlamentares que defendem interesses comuns) são: a ruralista, que entre outras barbaridades retira as terras dos povos indígenas e põe agrotóxicos cancerígenos no prato do povo; a bancada da bala, que prefere fuzil a feijão; e a bancada evangélica, que longe de dialogar francamente com os fiéis, atua contra a proibição de homofobia nas escolas, por exemplo.
Nesse mesmo Congresso Nacional, se fortaleceu o chamado Centrão. O nome não está ligado à moderação na atuação e no posicionamento político, mas vinculado àqueles parlamentares adeptos do “toma lá, dá cá”. Esse é um grupo que tende a reivindicar ainda mais espaço de poder, sendo definidor de pautas essenciais ao povo brasileiro, como a reforma administrativa (PEC 32), que destrói os serviços públicos.
Governadores desalinhados com as necessidades da população nas unidades federativas também foram maioria nas últimas eleições. Aqui no Distrito Federal, por exemplo, Ibaneis Rocha apoiou (e apoia) Jair Bolsonaro, mesmo quando o mundo inteiro aponta o entrosamento do atual presidente com a corrupção, a declarada negação à ciência e às vacinas e a planejada extinção de direitos essenciais à vida.
Diante da terrível radiografia registrada com as últimas eleições, é acertado analisar que propostas e projetos de geração de emprego e renda, educação pública de qualidade, fortalecimento do SUS, eliminação da fome e da miséria e tantos outros decisivos para a consolidação da democracia não foram prioridade nos últimos quatro anos e continuarão dessa forma se a composição do Executivo e Legislativo se mantiver a mesma com as eleições de 2022.
É inquestionável que a eleição de um novo presidente da República é determinante na mudança dos rumos de um Brasil que chegou ao seu pior cenário e, depois disso, foi relegado à própria sorte. Afinal, é o Chefe de Estado que dita as principais políticas a serem desenvolvidas.
Mas é no mínimo urgente entender que o futuro do Brasil está também condicionado à eleição de deputados e deputadas, senadores e senadoras e governadores e governadoras de luta, responsáveis, progressistas. Sem isso, é difícil conceber um Brasil que volte a ser dos brasileiros.
No final de 2021, estive neste mesmo espaço e lembrei do verso “vamos lá fazer o que será”, do cantor e compositor Gonzaguinha. Agora, diante da possibilidade de radicalizar os rumos da história no nosso país, reforço o apelo.
A dez meses das eleições de 2022, o trabalho para ganhar mentes e corações contra o projeto bolsonarista deve ser intensificado em todos os espaços para que em outubro possamos emplacar uma nova radiografia política do Brasil: mais justa e democrática, que faça o povo feliz de novo.
*Rosilene Corrêa é professora aposentada da rede pública de ensino do DF e dirigente do Sinpro-DF e da CNTE.
** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato - DF.
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Edição: Flávia Quirino