Negligenciado, o Parque Distrital Boca da Mata, que corta Taguatinga e Samambaia, está cada vez menor, mais poluído e pode desaparecer devido à falta de gestão, à diversas práticas ilegais e degradação ambiental observadas em sua área.
O Coletivo Boca da Mata, uma organização social de conservação ambiental fundada em 2020 para atuar na proteção do Parque Distrital, tem denunciado a elevada supressão do território, bem como, da vegetação nativa, somada ao “descarte irregular de resíduos sólidos, contaminação de nascentes e solo, erosões, construções irregulares, criação de animais domésticos e queimadas anuais”.
A Coordenadora do Projeto de Extensão “Interação do Coletivo Boca da Mata e o Instituto Federal de Brasília”, Andreia França, ressalta que o parque abriga uma importante flora característica da região, conhecida como Campo de Murundus, aspecto raro no Distrito Federal “e possui afloramento natural do lençol freático em período chuvoso, desenvolvendo-se nas proximidades de cabeceiras, veredas e margens de drenagens”.
O parque também abriga e protege as nascentes do Córrego Taguatinga, afluente do Rio Descoberto que compõem a Bacia do Rio Corumbá, localizado em Goiás.
“Entretanto, o Parque Distrital Boca da Mata, encontra-se em situação de vulnerabilidade, que tem se acentuado com o passar dos anos. O mesmo local que já foi frequentado por moradores da região como um atrativo natural, tem sua vegetação, corpos hídricos e fauna postos em risco por práticas irregulares dentro de seus limites”, aponta a coordenadora.
Para além da deterioração já existente, o coletivo destaca que há um projeto de duplicação da via Boca da Mata em curso na Secretaria de Desenvolvimento Urbano (SEDUH), junto ao Detran-DF e as Administrações de Taguatinga e Samambaia, que, segundo França a “obra irá, com certeza, trazer maiores degradações a esta Unidade de Conservação que já sofre grande pressão urbana. É urgente e necessário o cercamento da área para barrar essas degradações ambientais”, ressalta.
Mobilização e preservação
O Coletivo Boca da Mata, que reúne profissionais da área ambiental, estudantes e egressos do IFB do Campus Samambaia, lançou uma petição on-line solicitando “a imediata instalação de cercas ao redor do Parque Distrital Boca da Mata a fim de evitar a entrada de poluidores em uma área extremamente importante para a manutenção de um meio ambiente ecologicamente equilibrado”.
De acordo com Andreia França, a degradação ambiental tem ligação direta com a ausência da gestão pública. “E a especulação imobiliária se apresenta para somar a esta ausência. O Parque desde a sua criação já perdeu mais de 60 hectares, e em uma dessas áreas perdidas foi construído um edifício”, denuncia. “Além disso, há o impacto indireto do aumento da população do entorno, forçando a necessidade de ampliação da via Boca da Mata”, completa.
Em dossiê, o grupo frisa que, conforme o decreto distrital nº 38.367, de 26 de julho de 2017 e a lei complementar nº 827, de 22 de julho de 2010, não pode haver propriedades privadas na área do Parque Distrital Boca da Mata, “pois trata-se de uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, isto é, apenas o uso indireto é permitido”.
O documento aponta que, as moradias com o tempo promovem o aterramento de Áreas de Preservação Permanente (APP) e a descaracterização de matas de galeria, com a introdução de espécies vegetais exóticas, a fragmentação de corredores ecológicos e a mudança no microclima, tendo um aumento da temperatura local.
“O setor de oficinas foi construído em cima de nascentes, no período chuvoso diversos produtos poluentes escoam pelas águas pluviais e deságuam dentro do parque”, revela o dossiê do Coletivo Boca da Mata.
A reportagem do Brasil de Fato DF entrou em contato com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação do Distrito Federal (Seduh-DF) questionando sobre estudos de impactos ambientais na região devido à duplicação da via que corta Taguatinga e Samambaia, mas não obteve retorno até a primeira edição desta matéria.
Após a publicação da reportagem, a Secretaria informou que o projeto não é da alçada da Seduh. “A equipe técnica da Seduh não encontrou nenhuma informação a respeito desse projeto. Recomendamos procurar a Secretaria de Obras sobre esse assunto. Com relação ao parque, essa redução deve ser tratada com o Instituto Brasília Ambiental (Ibram)”.
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Edição: Flávia Quirino