Na luta por um outro mundo, seguir na contramão do medo é parte da resistência; é semear esperança.
Faz escuro, mas eu canto. Não sou do coro dos contentes, mas também não afino com o coro dos medrosos. O medo produz fantasmas e os fantasmas mergulham o comportamento geral na insanidade. O medo da vacina. A fobia de sair de casa. O medo de não ter casa. Medo, medo, medo.
O medo de perder o emprego, a renda, o pão que o diabo amassou, empurra a massa trabalhadora para a precarização. O desemprego forma um banco de reservas que aceita qualquer contrato, qualquer vínculo. Os salários caem, o assédio aumenta. A desigualdade prolifera. Fome, desemprego, desespero. O medo de perder o pouco que tem esmaga a sociedade no atraso.
A sociedade do atraso nega a ciência e tem medo da vacina. Joga o Brasil numa terceira onda onde, em alguns estados, 90% dos internados não se vacinaram ou não completaram o ciclo vacinal. Mas o discurso do medo não combate a pandemia, ele se alastra sem controle e compromete a confiança das pessoas em qualquer coisa, inclusive na ciência. Sem controle, o medo afeta a saúde mental de toda uma geração, espalhando fobias, ansiedade e depressão.
Em tempos de fascismo o medo contamina todas as esferas do convívio humano. Implode a paz social. Famílias entram em conflito, amigos se distanciam, casais se separam. Nos governos autoritários o medo é política pública. Justifica o ódio. Assina a pena de morte, de fome ou revólver. O medo do diferente, da mudança, desperta o ódio dos reacionários. Eles reagem com violência pensando perder o único mundo que conhecem, sem enxergar que há muitos mundos possíveis.
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Na luta por um outro mundo, seguir na contramão do medo é parte da resistência; é semear esperança em meio ao caos. Quando usamos máscaras, evitamos grandes aglomerações e vacinamos, são atos de amor próprio e amor ao próximo.
Cuidar é um ato de amor, não de medo. E amar é um ato de coragem. Coragem para ocupar as ruas contra a demência do governo e ajudar em ações de solidariedade contra a fome. Mesmo a maior crise política, econômica e sanitária desde a redemocratização não foi capaz de arrancar toda a coragem do povo brasileiro. E o início de 2022 traz consigo bons presságios, novos ventos.
Pesquisas recentes indicam que a pandemia está saindo de seu momento mais agudo através da vacinação, mesmo com o avanço da variante Ômicron. Outras pesquisas apontam a derrota de Bolsonaro na eleição presidencial, em todos os cenários possíveis.
Os novos ventos trazem aquele cheiro de chuva depois da seca. Não quero fazer um chamado à irresponsabilidade. É preciso estar atento e forte. Mas sonhar é um estado de esperança, é fonte de axé, de energia pra lutar, de coragem.
E como versa o querido poeta Thiago de Mello: “Fica decretado / que os girassóis terão direito / a abrir-se dentro da sombra”.
Então fica acordado que caminharemos na contramão do medo, onde cresce a esperança.
*Diego Ruas é escritor, designer e engenheiro florestal.
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
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Edição: Flávia Quirino