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Volta às aulas: é preciso vacina para as crianças e recursos para as escolas

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Audiência pública pelo passaporte vacinal nas escolas, aconteceu na CLDF, no dia 11 de fevereiro - Foto: Márcia Acioli
Vacina no braço, recursos na escola são condições mínimas para o início de uma nova jornada

A volta às aulas presenciais no Distrito Federal está marcada por muita ansiedade e sérias incertezas. A pandemia que havia arrefecido, retorna com força, como previam cientistas ao considerar as festividades de final de ano, os encontros e aglomerações previsíveis.

Ansiosos, todos/as desejavam um pequeno alívio no isolamento que demorava. Hoje, com hospitais lotados (taxa de ocupação de 100% das UTIs para adultos), a população está refém de falsas notícias e informações contraditórias. A vacinação é fundamental para o retorno às aulas, junto com medidas sanitárias, adequações com relação ao espaço, número de estudantes por sala, maior número de professores.

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Predomina o medo do que pode vir a acontecer com o retorno das atividades totalmente presenciais. Mais do que nunca as escolas precisam de orientações seguras e coerentes para minimizar riscos e assegurar que todas as crianças e adolescentes acessem de forma igualitária o direito à educação de qualidade. Grande estrago já foi feito e difícil será reverter o cenário.

Não bastasse o fato de o Brasil ser um dos países com maior número de óbito de crianças no mundo, dados do Ministério da Saúde referentes a janeiro de 2022 mostram que as hospitalizações deste público triplicaram, saltando de 697 para 2.122 (de zero a 19 anos) e as mortes quase dobraram.

Os números nos indicam a urgência para se vacinar crianças e adolescentes. Em meio a tantas notícias falsas e orientações incoerentes e contraditórias disseminadas especialmente pelo presidente da república e seus seguidores, a Sociedade Brasileira de Pediatria informa que “A população não deve temer a vacina, mas, sim, a doença que ela busca prevenir, bem como suas complicações, como a Covid longa e a Síndrome Inflamatória Multissistêmica, manifestações que consolidam a necessidade da imunização do público infantil.”

Para compreender os impactos da pandemia na educação - com o recorte no Ensino Médio do Brasil - o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), realizou em 2021 a pesquisa de opinião em âmbito nacional “A experiência do ensino durante a pandemia de Covid-19 no Brasil

Não foram poucas as crianças e os adolescentes que se perderam para o trabalho infantil impulsionadas pelo dramático quadro de empobrecimento no Distrito Federal.

A pesquisa revela que “quando os dados são analisados por sexo e renda familiar, percebe-se que, mesmo dentro de uma única rede, o sexismo aparece, pois as meninas (31,7%) assumiram mais atividades domésticas do que os meninos (19,3%).” A necessidade de trabalhar é uma das principais causas do abandono escolar entre estudantes da rede pública que atinge de formas diferentes meninas e meninos. Segundo estudo do Unicef (2021), estima-se que mais de 5,5 milhões de crianças e adolescentes no Brasil não tiveram acesso à educação.

A pesquisa do Inesc também evidencia que a pandemia provocou abalos emocionais que afetaram os estudantes tanto das escolas públicas quanto da rede privada.

Obviamente quem mais sofreu com as piores circunstâncias de vida e de acesso às atividades escolares foram os/as estudantes de escolas públicas, a grande maioria negras, quilombolas, indígenas e/ou ciganas. Crianças de escolas privadas (maioria branca) mesmo com o cansaço das telinhas, tiveram condições diferenciadas tanto no que se refere aos cuidados com a saúde quanto com às atividades escolares. Grande parte do sofrimento emocional é decorrente de estruturas sociais que sustentam as desigualdades.

Os desafios impostos pela pandemia exigiam uma ação imediata, uma reorganização não só da estrutura escolar como da política de educação. Novas questões vieram à tona – além das que se referem ao acesso aos recursos tecnológicos como a impossibilidade de acompanhar aulas, aumento da violência e a fome. Novos conteúdos deveriam ser considerados.

O que significa um ano escolar? O que ensinar nesse período? Como? Como motivar a participação? Como evitar a evasão? Como cuidar do ambiente educativo e de todos os sujeitos? Questões que se resolvem com debate e olhar atento às realidades.

Na ausência do Estado as equipes de profissionais das escolas foram obrigadas a lidar com o caos e desespero das famílias. Criatividade foi imprescindível, muita dedicação e exaustão! Foi inevitável a angústia e a insegurança entre os/as professores. Coube às escolas a responsabilidade para o trato direto com desafios nunca antes vivenciados.

Neste contexto o orçamento da educação na esfera federal caiu significativamente inviabilizando uma política séria e responsável. E o Programa de Descentralização Financeira e Orçamentária (PDAF) no Distrito Federal foi reduzido em 10 milhões de reais em 2022.

Se a escola faz todo o esforço para acolher com dignidade os/as estudantes, pessoas desorientadas por um executivo irresponsável vociferam contra a vacina, não escutam as orientações médicas, não debatem. Vivemos uma realidade de absurdos.

A vacina é um direito, a vida é um direito inalienável. A questão deixa de ser somente sanitária, é humanitária! Vacina no braço, recursos na escola são condições mínimas para o início de uma nova jornada pela realização plena do direito à educação.

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*Márcia Acioli é arte-educadora, mestre em antropologia aplicada à educação e assessora política do Inesc.

** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato - DF.

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Edição: Flávia Quirino