A escola precisa transpor de uma vez por todas os estereótipos, a reprodução dos modelos de opressão
A criança que chega à escola, mesmo que pequenina, traz consigo vivências. O dia a dia em casa, as experiências na comunidade. Em todos os espaços, ela capta e reproduz; inclusive os exemplos de machismo e sexismo.
Não é raro ver crianças de 4 anos dizendo “isso não é coisa de menina”. Infelizmente, também não é raro ver meninas adolescentes de 14 anos ou menos vítimas de violência sexual – muitas vezes cometida por um homem da família.
Não é incomum ver meninas com a capacidade intelectual desacreditada. Afinal, não só seus corpos são atacados, mas também suas mentes. Muitas vezes, elas sequer sonham em ser astronautas, engenheiras, cientistas, presidentas, mesmo que estejam no espaço apropriado para aprender e poder ser o que quiserem.
É diante dessa realidade que educadoras e educadores precisam estar comprometidas(os) com a função social da escola. Nesse espaço, o desenvolvimento da formação intelectual é tão importante quanto o desenvolvimento do ser enquanto humano.
O processo de aprendizado não deve estar restrito a letras e números. É preciso que o espaço da escola rompa com as estruturas sociais que condenam mulheres a não quererem muito; e formam homens que, pelo fato de serem homens, acham que podem mais. Aliás, é preciso que os meninos criem consciência de que os homens sempre puderam tudo, e que por isso têm tanta dificuldade em ter menos, ainda que seja um pouco menos.
É preciso sim que o espaço da escola ensine que mulheres não podem ser assediadas, mulheres não podem ser agredidas, mulheres não podem ser assassinadas. Isso deve ser definitivo, e nunca poderá ser tolerado.
É urgente que crianças e adolescentes aprendam que a premissa é sempre o respeito. Não existe “mas ela tava pedindo”, “mas olha a roupa dela” ou qualquer outra tentativa de justificar o injustificável. O não é não deve ser absoluto.
A escola precisa transpor de uma vez por todas os estereótipos, a reprodução dos modelos de opressão e a desigualdade cruelmente estabelecidos. E não se trata de direita ou esquerda. O que está em jogo é a civilidade, os direitos humanos, a vida.
Se o Brasil vem, desde 2017, em uma crescente de números e estatísticas lastimáveis quando o recorte são as mulheres, seja no trabalho, na divisão das atividades domésticas, nos dados sobre violência e assassinatos, que a reviravolta seja realizada por nós, educadoras e educadores, fazendo das escolas um espaço-resistência.
Que o currículo escolar traga muitas e muitas mulheres como referência; que os livros didáticos tenham vozes femininas; que a pluralidade seja comum em sala de aula.
A educação libertadora é o melhor caminho para que todas nós sejamos livres.
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*Rosilene Corrêa é professora aposentada da rede pública de ensino do DF e dirigente do Sinpro-DF e da CNTE.
** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato - DF.
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Edição: Flávia Quirino