“O problema da mulher, sempre foi um problema dos homens”. O Segundo Sexo (1949).
Para falar sobre esse significado na sua forma mais completa, precisaremos recorrer a esta pergunta negativamente: O que não significa ser mulher?
E ao nos depararmos com o processo histórico de formação das sociedades e por quem ela foi contada, entendemos que toda essa construção se deu justamente na virada de chave da significação para a não significação do ser mulher. De lá até os dias de hoje as inversões do papel da mulher desde, as antigas comunidades foram violentamente substituídas pela significação do homem e do dinheiro no centro do poder masculino ou patriarcal.
Heleieth Saffioti nos dá passos para essa compreensão e nos diz que existe uma simbiose entre patriarcado e capitalismo, mesmo que cada um tenha sua particularidade, aponta que eles não caminham paralelos.
Reforça sempre sobre a importância de reformularmos as relações e que não avançaremos para uma nova sociedade sem que compreendamos e destruamos os nós que estruturam a velha e ao mesmo tempo atual sociedade, sendo eles: gênero, classe e raça.
Concordando com Saffioti, que, se por um lado, o gênero não é o principal fator de estabelecimento das desigualdades entre homens e mulheres, mas quando se imbrica com classe e raça/etnia, a configuração muda e daí conseguimos compreender as relações de exploração dentro do patriarcado, e suas diferenças de acordo com as construções históricas de cada lugar e sistema vigente.
Isso explica porque um brasileiro, classe média alta e no uso de um cargo público, se sente no direito de sair do Brasil rumo a Ucrânia – País em guerra atualmente – com o entendimento equivocado do que representa a palavra solidariedade e se aproveita de mulheres já fragilizadas pelo contexto, afirmando que “refugiadas ucranianas são fáceis porque são pobres”.
O mais cruel e desolador, é saber que esse não é um pensamento isolado deste deputado, mas que faz parte da construção patriarcal brasileira, que no uso dos privilégios em saber e vivenciar a situação de insegurança e vulnerabilidade financeira de muitas mulheres em relação aos homens, sejam pais, irmãos, ou maridos é enorme e nos últimos seis anos, piorou com o desmonte de muitas políticas públicas e a falta de rigor no cumprimento das leis criadas para a proteção da mulher.
Quando acrescentamos a palavra raça à classe das mulheres trabalhadoras no Brasil, é compreensível o porquê de tantas mulheres negras, não se identificam com a luta feminista que não contemple suas especificidades, por entenderem que antes da luta pela liberdade do corpo e outras conquistas, vem a questão econômica, que bate forte nos lares de milhares de mulheres negras e mantenedoras de famílias.
Conquista importante e que deveria ser comemorada por toda a população, mas que até hoje a burguesia (muitos homens, mas também mulheres), não aprovam e desrespeitam sua integralidade, se beneficiando ainda pela falta de fiscalização do Ministério do Trabalho.
Bom, sinceramente gostaria de finalizar esse texto com ânimos sobre as mudanças em relação a luta das mulheres no Brasil, mas infelizmente essa não é nossa realidade e ainda temos um longo caminho a percorrer e demorará mais ainda, se os homens não compreenderem que essa também é uma luta deles.
Essa constatação já nos foi apontada por outra grande pensadora que muito contribuiu para as lutas feministas no mundo, Simone de Beauvoir que nos disse a simples e verdadeira frase: “O problema da mulher, sempre foi um problema dos homens”. O Segundo Sexo (1949).
Diante disso, ainda temos muito desafios que a luta feminista e antirracista precisa enfrentar nos próximos períodos, e tanto os movimentos populares feministas como os mistos tem o dever de pautar com mais centralidade e unidade, os caminhos para a libertação das mulheres, sejam relacionadas a independência financeira, doméstica e todo e qualquer tipo de violência que nos paralisa de conquistar os espaços de fala, engajamento, estudos e profissões, como é permito aos homens, por serem homens.
Afinal de contas, só queremos desfrutar do direito de termos nascido e nos tornado mulheres na mais plena completude do que significa ser mulher!
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*Adriana Dantas é educadora popular, militante do MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens, atualmente contribui no Distrito Federal.
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato DF.
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Edição: Márcia Silva