No mês de março, o ar das ruas é inundado pela respiração pulsante das mulheres em marcha.

Aproveite o início da leitura e pegue um fôlego. Isso, respire fundo e lembre-se que sob isso você pode exercer algum controle. Exercite vai, respire, sinta o ar entrar no seu corpo e solte devagar.

Estamos em março de 2022, terceiro mês do ano. Que ares sente em suas narinas? Há aromas ao teu redor? Tem comida cheirando no fogão para aguçar seu organismo? Há queimada ou mofo perto de ti? Que ventos nos tocam? Ainda consegue sentir?

Inspiração vem do latim inspiratio, "in" significa dentro, "spirare" respirar. Levar o ar para dentro. Nos últimos dois anos, levar o ar pra dentro só foi possível com máscara. Medida vital para filtrar o ar que inalamos e nos livrar do vírus letal que causa a pandemia.

Mas fora a máscara, temos algum controle sobre o ar que respiramos?

A água, os minérios, a terra e o ar, eles insistem em usurpar. Levar o ar para dentro deles, do bolso deles, capitalizar.

Uma das principais substâncias para o corpo humano se manter vivo é o oxigênio. Para isso, ele conta com um complexo sistema respiratório que começa pelo nariz e boca, passando pelas vias aéreas até chegar aos pulmões. Todo este caminho é necessário para o nosso organismo manter o oxigênio internamente e colocar para fora o dióxido de carbono.

As árvores fazem o percurso contrário. Na fotossíntese consomem o gás carbônico e liberam o oxigênio. Elas produzem o que os seres humanos precisam para sobreviver, porém a cada dia vemos mais delas derrubadas no chão. Mortas.

O ano começou, ainda que não pareça um novo ano, e outubro está logo ali. Esta proximidade com um mês decisivo para os próximos tempos das brasileiras e brasileiros poderá modificar o ritmo da respiração.

Respire fundo.

O pulmão esquerdo é um pouco menor que o direito, pois divide espaço com o coração. Este que pulsa sem o nosso controle enviando sangue aos pulmões e contribuindo para a liberação do dióxido de carbono. Inspiração para a libertação.

A palavra inspiração também é utilizada para aquelas e aqueles que criam, isto é, para todas as pessoas. Criamos sempre e cotidianamente. Alguns chamam a criatividade de dom e aguardam a inspiração chegar. Por aqui, nossa crença está no exercitar, no intencionar.

Artistas, professores, políticos e pastores se utilizam do exercício da palavra para as suas atividades. Exercitam o gesto, a postura, o tempo e a fala para criar e comunicar imagens, narrativas, atmosferas. Nós respiramos estas criações.

No mês de março o ar das ruas de diversos países ao redor do mundo é inundado pela respiração pulsante das mulheres em marcha. Elas que sempre estão presentes nas ruas, nos trabalhos, nas organizações e em casa, no mês de março se juntam e se tornam diversos rios que correm pelas avenidas rumo ao mar da igualdade.

Como árvores, transmutam o que não serve à humanidade e liberam oxigênio de esperança ao anunciarem Carolina Maria de Jesus, Maria da Penha, Heleieth Saffioti, Marielle Franco, Roseli Nunes, Dandara, Santa Dica, Maria Bonita, Dilma Rousseff, Margarida Alves, Erica Malunguinho, Chiquinha Gonzaga, Elza Soares, Duda Salabert, Nísia Floresta, Bertha Lutz, Alexya Salvador, Zilda Arns, Paula Beatriz de Souza Cruz e tantas, tantas outras.

Vamos aproveitar esses bons ventos, aguçar o faro e conduzir as nossas inspirações?

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*A Cia Burlesca é uma companhia de teatro político do Distrito Federal.

**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato DF.

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Edição: Flávia Quirino