Aqui nossa “guerra” tem que estar direcionada ao combate à fome, à miséria e ao desemprego
No 21º. dia de intervenção político-militar da Federação Russa na Ucrânia, cresce o debate sobre a atuação de movimentos neonazistas ou neofascistas no mundo.
Mas, afinal de contas, o que é nazismo ou fascismo??
São regimes totalitários representando a fase imperialista – e última – do capitalismo. O desespero histórico das classes dominantes frente à crise provoca o descolamento de suas frações internas das ideias “democrático-burguesas” rumo a ações violentas e belicistas que deem conta de centralizar o modus-operandi do Capital, excluindo todos os atores sociais, políticos, raciais, etc, que sejam considerados indesejáveis para tal: pessoas desempregadas (também chamados de “vagabundos”), minorias étnico-raciais, negros e negras, LGBTQIA+, socialistas, comunistas, liberais progressistas, sindicatos de trabalhadores não-cooptáveis, etc.
Tudo passa a ser centralizado por um estado dividido em “cotas” para os grandes capitalistas, dentro da lógica de “se o capitalismo só consegue funcionar para 1/3 da população com capacidade plena de consumo, eliminemos os 2/3 restantes...”, tudo isso em escala planetária! Visto que estamos falando não de um capitalismo larvar, nascente, com seus “estados nacionais”, mas de um capitalismo em sua fase final: imperialista.
:: A geopolítica do imperialismo: a importância de 2014 para a Ucrânia atual ::
Esse lado “podre” do Capitalismo ficou bem mais evidente para o mundo a partir da Revolução Russa de outubro de 1917. Logo depois desse marco histórico, com a criação do primeiro Estado dos Trabalhadores do Mundo, foram instaurados, em resposta, no lado ocidental da Europa, os carros-chefes do nazifascismo: os governos de Adolf Hitler, na Alemanha, e de Benito Mussolini, na Itália, com ramificações de apoiadores e simpatizantes em todo mundo. Foram, sim, derrotados na II Grande Guerra Mundial, mas como a raiz desses regimes (o sistema capitalista) não foi extirpada, eles voltam a se insinuar em alguns países, ainda que sem a mesma força de antes.
Eis, portanto, a mais profunda raiz da operação da Federação Russa para desnazificar a Ucrânia, desencadeada em 24 de fevereiro: esmagar o ódio de classe imperialista contra os povos, representado na presente situação pelo apoio dos EUA e EU ao golpe de estado na Ucrânia em 2014 e pelos sistemáticos ataques militares e paramilitares às Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk (violando os Acordos de Minsk e matando 13 mil civis nestes últimos oito anos), junto com a feroz guerra midiática contra a Rússia, que agora inclui até as redes sociais do facebook que liberaram mensagens de ódio à Rússia e de elogio aos nazistas que atuam na Ucrânia!
:: Globo, Ucrânia, Cuba e os guerreiros frios da mídia brazuca ::
É isso: todo liberal de fachada assume o seu nazismo quando o processo os obriga a “descer do muro” e optar, por exemplo, entre a “Rússia, de base histórica e social soviética” ou a “Ucrânia nazificada”. Sempre vão optar pela segunda.
Para o brasileiro médio toda a informação e análise acima pode soar bastante confusa, visto que aqui nossa “guerra” tem que estar direcionada ao combate à fome, à miséria e ao desemprego, como muito bem coloca o Presidente Lula. Mas junto a isso também tem a luta contra o neofascismo aberto ou velado.
A propósito, parece ser bem mais complexo lutar contra um neofascismo disfarçado do que denunciar as mais de 400 células nazistas em funcionamento no Brasil, fato gravíssimo denunciado recentemente na imprensa.
:: Cresce o número de denúncias contra grupos neonazistas no Brasil, aponta pesquisa ::
De qualquer sorte, o nosso ponto de interseção com a Rússia tá aí bem à vista: lá no leste europeu, por determinações históricas e políticas, a luta contra a verminose neofascista ou neonazista está sendo feita à base de tanques de guerra.
Aqui no Brasil, a “batalha final” será dia 2 outubro, onde as “armas da crítica” se sobrepõem à “crítica das armas”, para derrotarmos no voto aqueles que, a partir do Brasil, se alinham aos que imaginam conseguir impor , à humanidade, um retrocesso de quatro séculos na história.
*Afonso Magalhães é Economista e Coordenador de Direitos Humanos e Relações Internacionais da Central de Movimentos Populares (CMP-DF). Leia outras colunas.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
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Edição: Flávia Quirino