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Eleições 2022

Líder do MST em Goiás se filia ao PT e lança pré-candidatura a deputado

Valdir Misnerovicz vai disputar uma vaga para a Câmara dos Deputados, em Brasília

Brasil de Fato | Palmeiras de Goiás (GO) |
Valdir Misnerovicz discursa durante ato de filiação ao PT, no Assentamento Canudos, em Palmeiras de Goiás (GO) - Pedro Rafael Vilela/Brasil de Fato

Uma marcha reuniu dezenas de pessoas no assentamento Canudos, em Palmeiras de Goiás, a cerca de 80 km de Goiânia, no ato de filiação do geógrafo e agricultor Valdir Misnerovicz ao Partido dos Trabalhadores (PT), ocorrido na manhã deste sábado (19).

Liderança histórica do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Goiás, Misnerovicz, de 52 anos, também lançou sua pré-candidatura a deputado federal nas eleições deste ano. Seu nome ganhou ampla adesão de movimentos populares do campo e é parte de uma estratégia do MST para eleger candidatos comprometidos com a pauta agrária do movimento em pelo menos 15 estados do país, além do Distrito Federal.


Marcha de apoiadores percorre assentamento em ato de filiação de Valdir Misnerovicz ao PT / Pedro Rafael Vilela/Brasil de Fato

O ato de filiação e lançamento da pré-candidatura ocorreu justamente no lugar que marca a trajetória de luta do gaúcho Valdir Misnerovicz em solo goiano. Militante forjado nas fileiras do movimento popular, ele chegou à região no final dos anos 1990 para ajudar a construir o MST no estado. Antes disso, ele já tinha atuado na construção do MST no Mato Grosso. 

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Reforma agrária

No final de 1997, uma série de ocupações na Fazenda Palmeiras, então um latifúndio com mais de 12 mil hectares, foi o pontapé da luta pela conquista da terra pelos trabalhadores rurais da região, organizados pelo MST. Valdir esteve à frente de todo o processo, que resultou na desapropriação da área em 2001, e passou a ser ocupada por cerca de 400 famílias.

Atualmente, a produção é diversificada, com hortaliças, frutas, legumes, carnes e laticínios, em um modelo agroecológico que não usa agrotóxicos e prioriza a produção de alimentos saudáveis. O assentamento contrasta com a região, que é dominada por fazendas de soja e outras monoculturas voltadas à exportação.

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"Nós insistimos que era importante fazer aqui nesse lugar, que é carregado de significado, de simbologia, e queríamos potencializar ainda mais o aspecto simbólico da nossa caminhada. Esse lugar era um latifúndio há cerca de 23 anos. Tem sangue e suor de trabalhador aqui, mas é uma prova de que nada é impossível quando os trabalhadores lutam de forma organizada", afirmou Valdir durante o ato.

"O MST tomou a decisão de participar de forma orgânica da disputa eleitoral e Valdir simboliza toda a luta histórica do movimento em 38 anos", destacou Alexandre Conceição, da direção nacional do MST.  

Homenagem

Antes da marcha que percorreu uma estrada de terra dentro do assentamento, as pessoas presentes plantaram mudas de árvores em uma área batizada de Bosque José Porfírio. Trata-se de uma homenagem ao camponês que liderou a Revolta de Trombas e Formoso, na região de Uruaçu, norte de Goiás, e que resultou na conquista de terra para centenas de famílias de agricultores.

Porfírio também foi o primeiro deputado federal de origem camponesa eleito no Brasil. Com o Golpe de 1964, Porfírio acabou sendo preso e torturado por agentes do Doi-Codi, em Brasília, e depois desapareceu. Seus restos mortais jamais foram encontrados. O caso do líder camponês está entre os investigados pela Comissão Nacional da Verdade.    


Assentados do MST plantam árvores em bosque criado para homenagear líder camponês José Porfírio / Pedro Rafael Vilela/Brasil de Fato

"Nós devíamos essa homenagem ao José Porfírio. Ele se foi, mas nós ficamos e seguimos o seu exemplo. Não nos rendemos, como ele não se rendeu", destacou Misnerovicz, que ainda explicou a simbologia do plantio de árvores.

"Plantamos árvores porque as árvores têm significado muito importante. As árvores que têm raízes profundas não têm medo da tempestade. pode vir tempestade, que ela se manterá firme. Olha o que tentaram fazer com o PT, com o MST, mas não nos destruíram porque temos raízes profundas".

Perseguição

O próprio Valdir Misnerovicz também tem sido alvo constante da perseguição política por sua atuação no MST. Ele chegou a ser preso algumas vezes, a última delas em 2016, quando ficou encarcerado por cinco meses, sob acusação de integrar uma organização terrorista, com base na Lei Antiterrorismo.

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Os mandados de prisão se relacionavam à ocupação de uma parte da usina Santa Helena, em recuperação judicial, onde havia mais de 1,5 mil famílias sem-terra. Na época, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) concedeu habeas-corpus a favor de Valdir e ainda criticou a criminalização de movimentos sociais. 

Mandato popular

O ato de filiação e lançamento da pré-candidatura de Valdir Misnerovicz pelo PT contou com a presença das principais lideranças do partido em Goiás, como a presidenta do diretório estadual, Kátia Maria, o ex-prefeito de Goiânia Pedro Wilson e o professor Wolmir Amado, pré-candidato petista ao governo do estado.

"Isso aqui é a demonstração da maturidade e do compromisso desses movimentos organizados do campo em Goiás, em um estado extremamente conservador e com grande poder do agronegócio", enfatizou Katia Maria. Segundo ela, a expectativa é que o PT goiano consiga eleger ao menos três deputados federais pelo estado nesta eleição. 

"Nós não precisamos de mandato pelo mandato. Precisamos de um mandato que venha fortalecer as lutas sociais. Só tem sentido se for caminhar na perspectiva da superação desse sistema que a gente vive, construir as bases de uma sociedade com justiça, e isso tem nome, chama-se socialismo", finalizou Misnerovicz. 

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Edição: Flávia Quirino