Mais um caso de intolerância religiosa contra religiões de matriz africana foi registrado nesta quarta-feira (23) no Distrito Federal. Um homem armado com um facão invadiu o terreiro Ilê Axé Omò Orã Xaxará de Prata/Ofa de Prata, situado na zona rural de Planaltina, durante a manhã, e destruiu diversas esculturas de orixás que ficavam expostas no local, batizado pelos religiosos de Vale dos Orixás.
"Nós tivemos nossa casa invadida por um vândalo, que estava disposto a jogar a imagem do nosso sagrado no chão. É como se ele tivesse querendo quebrar a gente, arrancar de nós o que temos de sagrado", afirmou a yalorixá Suely Gama, em um vídeo que foi feito logo após o ataque.
Na gravação, ela percorre o terreiro e mostra as esculturas, feitas de concreto, totalmente destruídas.
Segundo relatos, o responsável pelo ataque teria se apresentado como pastor evangélico. Vestia roupas brancas e proferia palavras de cunho discriminatório. Além do facão, ele também portava uma marreta. O caso foi registrado e será investigado pela Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin).
Projeto comunitário
As esculturas destruídas foram feitas por um escultor com deficiência visual, irmão de Suely Gama, e era parte de um projeto comunitário que contou com a ajuda de crianças da região.
"Foram dezenas de esculturas de concreto e ferro destruídas, o que mostra a fúria dessa pessoa. Mas esse caso tem que ser tratado pelo que ele é, crime de racismo, crime de intolerância religiosa", afirmou ao Brasil de Fato a conselheira cultural Rita Andrade, que esteve no local um dia antes para gravar cenas para um documentário sobre intolerância religiosa. Ela também é amiga da yalorixá Suely.
A delegada-chefe da Decrin, Ângela Santos, confirmou à reportagem que o autor do ataque já foi identificado e preso pela Polícia Civil horas após o incidente, em sua casa. É um homem de 45 anos, mas a identidade não foi revelada. Ele foi autuado em flagrante delito pelos crimes de dano, invasão de domicílio e racismo religioso. Se condenado, poderá pegar pena de reclusão de até quatro anos.
"Respeitar o sagrado do outro é respeitar o sagrado de todos. Racismo religioso é crime inafiançável e imprescritível. Denuncie pelo 197, na própria Decrin ou também em todas as delegacias nas regiões administrativas do DF", afirmou a delegada.
Só no ano passado, foram registradas 22 ocorrências de discriminação religiosa em todo o Distrito Federal, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública. A grande maioria contra terreiros e religiões de matriz africana.
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Edição: Flávia Quirino