O projeto de quem tem certeza de que com um povo sem educação nasce também o silêncio, a obediência
A exposição do tráfico de influência dentro do Ministério da Educação mostra para além de um evidente caso de corrupção grotesco e escandaloso.
O esquema que veio à tona esta semana, com flagrante até de pagamento em ouro em troca da atuação para liberar recursos para construção de escolas e creches, escancara que o ataque à educação é um projeto do governo Bolsonaro.
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Na dança das cadeiras, o terceiro ministro da Educação, Milton Ribeiro, deu continuidade a um antiprojeto de educação. Não há metas para alfabetizar crianças, o Ensino Básico perdeu recursos como nunca, o Enem foi esvaziado; a possibilidade de ingressar na universidade foi surrupiada daqueles que sonhavam em fazer curso superior para ter alguma chance de alcançar melhores condições de vida.
A educação no governo Bolsonaro foi relegada à indigência gerencial. Oportunamente, se desaprendeu a lidar com a coisa pública. Ficou no passado o tempo em que a distribuição de verbas para a educação obedecia a critérios demográficos ou de quantidade de matrículas por município. Foi-se o tempo em que os projetos para a educação eram pensados a partir de índices internacionais que o país deveria alcançar.
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Na contramão de tudo que é digerível, o espaço da escola foi tensionado a excluir pessoas com deficiência, e os debates permitidos se restringem àqueles que perpetuam uma sociedade machista, racista, homofóbica, capacitista. Não fosse a luta de educadores e educadoras – e seus pares na luta pela defesa da educação pública –, escolas já estariam mais para gaiolas que para trampolins da emancipação.
Por mais duro e inaceitável que seja, tudo isso compõe um projeto meticuloso. O projeto de quem tem certeza de que com um povo sem educação nasce também o silêncio, a obediência, o atraso e, sobretudo, a perpetuação das vantagens de quem sempre teve muito.
A qualidade de um governo se mede (também) pela forma como ele trata a educação. Essa máxima pode ser comprovada quando falamos de Jair Bolsonaro.
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*Rosilene Corrêa é professora aposentada da rede pública de ensino do DF e dirigente do Sinpro-DF e da CNTE.
** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato - DF.
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Edição: Flávia Quirino