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Reconstruir o Brasil passa pelas urnas

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Todas e todos às urnas no dia 2 de outubro de 2022. - Divulgação
As eleições de 2022 se mostram como uma das mais importantes da história do país.

No próximo dia 9 de abril, o povo, mais uma vez, ocupará as ruas de todo Brasil contra Bolsonaro.

Responsável pela volta da fome e da miséria, o presidente da República deixará um rastro de destruição inapagável. Além da carestia, do aumento do custo de vida e da precarização dos serviços prestados à população, esta também foi a gestão que permitiu a morte de quase 660 mil brasileiras e brasileiros (dados de 27/3) em uma pandemia que escancarou a desigualdade social e o racismo estrutural no país.

Dois mil e vinte e dois é ano eleitoral.

O momento que deveria ser percebido como oportunidade de guinada dos rumos do país acaba sendo irrelevante para parte da classe trabalhadora, que questiona a real importância do voto e reproduz o equivocado discurso de que qualquer candidato eleito vai apenas continuar a velha política de privilégio para poucos.

A descrença e a desesperança são estratégicas para quem pretende dar continuidade à política da fome, do desemprego, da flexibilização das leis trabalhistas, da precarização do Estado. Mais que isso, o sofrimento alheio se torna vantajoso para o fortalecimento da política antipovo: barateia a mão de obra, facilita o congelamento de benefícios, impõe a impossibilidade de novas conquistas. 

Tudo caro

A perda da esperança e a condenação do processo eleitoral se tornam ainda mais grave quando o cenário imposto é dramático. Segundo pesquisa realizada pelo Dieese, em janeiro deste ano, 16 capitais registraram alta nos preços dos alimentos.

No Distrito Federal, a cesta básica ficou em R$ 661,09, valor que representa 58,9% do salário mínimo (R$ 1.212). Os mantimentos que sofreram maior reajuste são exatamente os mais procurados pela população: café, óleo e açúcar, que na capital federal subiram 11,6%, 4,69% e 4,66%, respectivamente. Também houve aumento nos preços do arroz, do leite e do feijão.

A conjuntura é consequência da mudança abrupta na política federal aplicada a partir de 2016 e intensificada em 2018, com Bolsonaro. Depois do golpe que destituiu o mandato da presidenta Dilma Rousseff – afastada sem cometer crime de responsabilidade –, a alimentação passou a ser enxergada não como direito básico da população, mas como possibilidade de gerar lucro àqueles que já possuem acúmulo de bens e riquezas.

Com a valorização do agronegócio em detrimento da agricultura familiar, os valores dos alimentos começaram a ser pautados pelo mercado internacional.


O Brasil conseguiu a façanha de contabilizar 20 milhões de famintos e miseráveis no ano de 2021. / Foto: Roberto Parizotti

No passado, o governo aplicava uma política de controle dos valores baseada no estoque, o que ajudava tanto os produtores quanto os consumidores. Quando havia um tempo produção excedente de café, por exemplo, o governo federal ajudava o produtor comprando e estocando o produto. No ano seguinte, quando a confecção caía, era a vez do consumidor ser beneficiado com a garantia da oferta nos estoques públicos.

Isso ficou pra trás. Assim como a política de contenção do preço dos combustíveis. Neste mês março, a Petrobrás anunciou mais um aumento. O reajuste foi de 18,8% no valor da gasolina, 16,1% sobre o gás de cozinha e 24,9% a mais no preço do diesel. 

Na esteira dos preços absurdos, a tarifa de energia também sofreu ajustes excessivos, o que está atrelado à privatização de empresas públicas do setor.

Em comum, todas essas medidas têm o dedo do mercado internacional e de um entreguismo mesquinho. O resultado é cruel: em um país que produz alimentos suficientes para sustentar 1,6 bilhões de pessoas, mais de 19 milhões de habitantes passam fome, e metade da população está em estado de insegurança alimentar. 

Caminho planejado

A carestia é também resultado de escolhas que começaram a ser implementadas após o golpe de 2016, quando as políticas voltadas ao combate à fome, à geração de emprego e renda e à prestação de serviços públicos começaram a ser desmontadas.

Logo após o afastamento da presidenta Dilma Rousseff, foi aprovada a Emenda Constitucional 95, conhecida pelos movimentos sociais como “PEC da Morte”, já que congela investimentos sociais por 20 anos.

A limitação nos gastos prejudicou políticas sociais estruturantes de combate à pobreza extrema, além de contribuir de forma substancial com a progressiva precarização do serviço público: interessante ao grande empresariado. Não por acaso, no dia da aprovação EC 95, foi utilizada uma ostensiva força policial para inibir os manifestantes, que lotaram a Esplanada dos Ministérios em protesto contra o desmonte do Estado de proteção social.

Reação

Nos últimos seis anos, a classe trabalhadora vem enfrentando um dos piores períodos já vividos após a redemocratização do Brasil. No momento de treva, foi possível abrir luz sobre os parlamentares e partidos políticos que se mantiveram ao lado dos trabalhadores e das trabalhadoras mesmo diante das retaliações e negociações arbitrárias.

A partir disso, temos a oportunidade de romper, de uma vez por todas, com a falácia da despolitização, da descrença em candidatos, partidos e no próprio processo eleitoral, garantido com o sangue, o suor e a luta de muitas brasileiras e brasileiros.

::Posicionamentos de Bolsonaro, antes e durante pandemia, chocam mídia estrangeira::

Desatrelar a política do cotidiano e fechar os olhos para os impactos diretos que ela causa na vida da população é dar aval ao massacre do povo brasileiro.

É preciso investir na educação e na politização da classe trabalhadora para que ela, definitivamente, se compreenda como geradora de riquezas e pilar do país. É necessário continuar ocupando as ruas e expondo que existem culpados pelo empobrecimento do povo, pelo aumento da miséria, pelo fim dos direitos. Assim como é indispensável reconhecer aqueles e aquelas que sempre atuaram em defesa de trabalhadores e trabalhadoras.

Na mesma medida, é urgente que haja compreensão de que o voto tem potencial de virar o cenário atual do avesso, e que as eleições de 2022 se mostram como uma das mais importantes da história do país.

Todas e todos ao ato Fora Bolsonaro no dia 9 de abril e às urnas no dia 2 de outubro.

*Ana Paula Cusinato é servidora pública e secretária de Comunicação da CUT-DF.

** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

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Edição: Márcia Silva