Uma pesquisa inédita lançada pela Companhia de Desenvolvimento do Distrito Federal (Codeplan), nesta quarta-feira (30), mostra que as mulheres dedicam muitas horas a mais do que os homens em afazeres domésticos e cuidados não-remunerados com dependentes, como crianças, idosos e pessoas com deficiência.
Os dados foram obtidos por meio de um questionário complementar da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) feita pela Codeplan em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com o objetivo de mostrar a diferença na utilização de tempo entre mulheres e homens na realização de atividades.
A PED é realizada mensalmente, de modo contínuo, em domicílios de áreas urbanas para captar informações sobre a inserção no mercado de trabalho da população em idade de trabalhar, a População em Idade Ativa (PIA), ou seja, pessoas com mais de 14 anos.
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Como a PED utiliza a construção de sexo biológico, ela não captura a identidade de gênero dos informantes. Dessa forma, os resultados do estudo não têm recorte para a população transgênero.
O questionário complementar foi aplicado entre outubro de 2020 e setembro de 2021, abrangendo uma amostra total de 23.060 domicílios. As perguntas pediam informações sobre quantas horas a pessoa dedicou, na semana de referência da pesquisa, a atividades como cuidados com terceiros, como alimentação, acompanhamento e transporte, e em tarefas domésticas como preparo da comida, limpeza da casa, realização de compras e pagamento de contas.
Cuidados de pessoas
Da População em Idade Ativa (PIA) pesquisada, 2,5% das mulheres declararam cuidar todos os dias de adultos que necessitam de cuidados, enquanto apenas 1,8% dos homens se dedicam à mesma tarefa, o que leva a média 9,7 horas a mais, toda semana, para aquelas de sexo feminino.
Já nos cuidados de crianças de até 14 anos, as mulheres também ficam sobrecarregadas, com 23,7% delas na função diariamente, levando-as a trabalhar 7 horas a mais por semana que os homens. Aliás, apenas 14,4% deles exercem as mesmas obrigações.
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As atividades em rotinas de alimentação e higiene pessoal, dar medicamentos e colocar para dormir são aquelas em que há maior diferença entre mulheres no DF. Isso vale tanto para o cuidado de idosos e ou outras pessoas adultas dependentes, quanto para o cuidado de crianças e adolescentes até 14 anos.
Afazeres domésticos
Já quando se analisa o cuidado com a casa, a pesquisa mostra que 93% das mulheres se dedicam à tarefa, enquanto a proporção de homens é de 79,7%. Apenas 46,1% homens declararam realizar essas tarefas todos os dias, enquanto 70,8% das mulheres cumprem tarefas domésticas diariamente. Neste quesito, as mulheres se dedicam 8 horas a mais em média do que os homens, por semana.
As atividades de cuidados com as roupas (lavar, passar e guardar) são aquelas em que há maior diferença entre mulheres (86,5%) e homens (56%) no DF.
Conclusões da pesquisa
O levantamento mostrou que as mulheres gastam mais horas que homens em cuidados com adultos, independentemente da renda, das Regiões Administrativas (RAs) do DF em que vivem, e também de raça/cor, faixa etária, nível educacional, status de ocupação e perfil da composição familiar.
A maior diferença na participação de homens e mulheres no cuidado de adultos se dá entre homens e mulheres idosos (4,8% das mulheres com mais de 60 anos se dedicam ao cuidado de adultos, enquanto essa proporção para os homens é de 2,7%). As maiores diferenças de tempos dedicados por mulheres e homens no cuidado com os adultos são observadas entre mulheres (26,4%) e homens (14,1%) desempregados (uma diferença de 12,3 horas por semana).
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A maior diferença em proporção de participação no cuidado de crianças entre mulheres e homens se dá nos grupos de desempregados e de jovens. Ao todo, 41,4% das mulheres desempregadas se dedicam ao cuidado de crianças, enquanto essa proporção de homens é de 21,9%. Já 35,1% das mulheres jovens se dedicam ao cuidado de crianças enquanto apenas 17,7% dos homens jovens fazem a mesma atividade.
Quando há a presença de crianças de até 3 anos no domicílio, essa diferença é 14 pontos percentuais (93% das mulheres e 79% dos homens). A maior diferença entre tempo dedicado por mulheres e homens se dá justamente por aqueles que têm uma criança de até 3 anos (11,1 horas por semana).
A maior diferença na participação no cuidado com a casa por mulheres e homens acontece entre os residentes em regiões administrativas de baixa renda e os inativos. Ao todo, 95,3% das mulheres em grupos de RAs de baixa renda se dedicam ao cuidado da casa, enquanto essa proporção para os homens é de 75,7%.
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Uma conclusão sobre isso, segundo a pesquisa, é que as desigualdades na realização das atividades domésticas e de cuidados, entre mulheres e homens, diminuem conforme o nível de renda das RAs aumenta.
Entre a população inativa, 89,7% das mulheres se dedicam ao cuidado da casa enquanto 71,8% dos homens em inatividade laboral fazem a mesma atividade.
Quando há a presença de cônjuge em domicílio, a diferença entre mulheres e homens que realizam atividades domésticas passa de 1,9 ponto percentual para 14,3 pontos percentuais. A maior diferença de jornadas também se dá quando há a presença de cônjuge no domicílio, com 10,8 horas por semana de diferença entre mulheres e homens em cuidados com a casa. A conclusão da pesquisa neste tópico é que presença de cônjuge diminui a desigualdade de participação entre mulheres e homens, mas aumenta significativamente a diferença jornada semanal entre os dois gêneros.
Ações afirmativas
Os autores da pesquisa apontam a necessidade de políticas públicas afirmativas para que essa diferença de dedicação entre homens e mulheres no cuidado de terceiros e nas tarefas da casa sejam reduzidos.
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Uma das medidas mais imediatas seria o aumento da oferta de serviço público voltado para o cuidado de crianças e adultos, políticas de empoderamento econômico feminino e a necessidade de promover empregos de maior qualidade, políticas de proteção à mulher, suporte à permanência de meninas na escola, políticas de planejamento familiar e aumento da representação social e política das mulheres.
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Edição: Flávia Quirino