A 18ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL), que começou no último dia 4 e vai até 14 de abril, reúne cerca de 7 mil indígenas de todo o país.
Eles estão acampados na área do Complexo Cultural da Funarte, região central de Brasília, para denunciar a política anti-indígena do governo Jair Bolsonaro, que paralisou a demarcação de terras, e ameaça as reservas tradicionais com projetos que podem desencadear um desmatamento descontrolado das florestas brasileiras.
Em meio a tamanha mobilização, a logística para manter um acampamento desse porte, com milhares de pessoas, demanda uma ampla articulação entre os movimentos populares. É nesse contexto que surge a cozinha unitária do acampamento.
:: Brasil é denunciado na ONU por violações aos direitos dos indígenas ::
Fruto de uma parceria entre a Articulação de Povos Indígenas do Brasil (Abip) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o espaço envolve o trabalho direto de 31 homens e mulheres do campo, sob a orientação de três nutricionistas.
São mais 400 quilos de carne, duas toneladas de arroz e cerca de duas toneladas de feijão servidos diariamente nesta cozinha, além de legumes, hortaliças, frutas, entre outros produtos que são oriundos de assentamentos da reforma agrária no DF, Goiás, norte de Minas Gerais e até Rio Grande do Sul.
"Todo alimento que vem aqui, vem fruto de uma história de resistência que é a história do MST, que luta pelos seus territórios também. Que luta pelo seu espaço, pela Reforma Agrária. E nós temos pautas em comum. Por vários anos, nós estamos caminhando de forma conjunta, mas sempre num campo político. Em alguns momentos temos a luta conjunta na prática, mas isso era difuso dentro do campo de atuação dos movimentos sociais e no Acampamento Terra Livre nós conseguimos concretizar de fato a luta dos povos indígenas e a luta do MST, representada através dos seus alimentos”, explica o líder indígena Dinamam Tuxá, integrante da coordenação executiva da Apib.
Adonildo Rodrigues Souza, coordenador do MST e acampado da área 8 de março, em Planaltina, destaca que o trabalho na cozinha é a prática da solidariedade que só existe entre a classe trabalhadora.
“Para nós, esse espaço é de grande importância, não só de estar montada a cozinha, mas do cultivo da relação de solidariedade. Apesar da pouca diferença que temos, são as causas, as pautas que nos unem para lutar contra esse governo fascista que todo dia tenta prejudicar nós trabalhadores. É evidente que este governo atua para exterminar os pobres”, afirma.
Ele explica que o cardápio foi pensado para abranger a diversidade cultural do Brasil e o acompanhamento de profissionais nutricionistas busca nutrir a força para a lutar.
“Como num país igual ao Brasil, em que não se investe na agricultura familiar e reforma agrária a gente consiga tirar tantos alimentos da agricultura, sem nenhuma política para isso. Quem alimenta o povo brasileiro são os agricultores familiares”, assinala. Entre os alimentos oferecidos e que marcam essa diversidade estão mandioca, cuscuz, inhame, batata doce, banana, laranja. Toda carne consumida é de produção orgânica dos pequenos agricultores.
Doações
Para garantir a estrutura de alimentação, limpeza e higiene do 18º ATL, bem como cuidados com a saúde dos manifestantes, a Apib lançou uma campanha de arrecadação. As doações podem ser entregues diretamente no acampamento, na tenda de logística.
:: Articulação promove campanha de arrecadação para o 18º ATL ::
Em paralelo, a entidade indígena lançou uma campanha virtual para doações financeiras. Para doar, basta acessar o link http://doa.re/terralivre ou enviar para o Pix: [email protected]. De acordo com a organização, participam do acampamento indígenas de 172 povos, de todo o território nacional.
*Com informações da Apib.
:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato DF no seu Whatsapp ::
Edição: Flávia Quirino