Manifestantes realizaram um protesto na sede da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em Brasília, na manhã desta quarta-feira (20).
Segundo os organizadores, ligados a movimentos do campo, como o MST, a ação buscou denunciar a aliança entre o agronegócio e o governo de Jair Bolsonaro, responsável por garantir lucros recordes para o setor, enquanto milhões de brasileiros sofrem com a fome e a alta do preço dos alimentos.
“O Brasil só vai ter soberania alimentar, quando de fato acontecer a Reforma Agrária nesse país”, afirmaram em coro.
O grupo de manifestantes levou uma balança, com os dizeres: “quem te alimenta?”, com o propósito de levantar indagações que contraponham à reflexão sobre de onde vem os alimentos que chegam na mesa do povo brasileiro, em contraposição à produção do agronegócio, que é direcionada para commodities, abastecendo o mercado exterior.
A Confederação Nacional da Agricultura foi criada em 1951 e tornou-se, desde então, uma das principais entidades representativas e organizativas do agronegócio brasileiro.
A entidade também compõe, atualmente, o Instituto Pensar Agro, considerado o braço empresarial e econômico da bancada ruralista. A articulação entre estes dois grupos é responsável por colocar em pautas os interesses do agronegócio no Congresso Federal.
Inflação
Em geral, o aumento dos preços dos alimentos atingiu 14,09%, enquanto a inflação oficial foi de 6,29%, em 2020. Além disso, de acordo com estudo realizado pela Rede Penssan, em 2021 cerca de 116 milhões de pessoas viviam com algum nível de insegurança alimentar no Brasil. Destes, mais de 19 milhões estavam em insegurança alimentar grave.
Ao mesmo tempo em que os preços dos alimentos sofrem altas significativas, o agronegócio bateu recordes de exportações de commodities. Em 2021, o total exportado pelo agronegócio resultou em mais de 120 bilhões de dólares, o que representa uma alta de 19,7% em relação ao ano anterior.
Para os manifestantes, esse cenário significa que a potência agrícola brasileira não tem como prioridade a soberania do país, e sim o lucro, vendendo sua produção ao mercado exterior, onde o lucro é em dólar, moeda mais valorizada que o real.
Todo este crescimento do agro é fortemente impulsionado por recursos públicos. O principal mecanismo é Plano Safra, que na edição 2021/2022 está destinando um total de R$251,2 bilhões em financiamentos para produtores rurais (um crescimento de 6,3% em relação ao período anterior). Em 2010, este valor era de R$ 100 bilhões.
"Este montante cada vez maior destinado ao agronegócio representa também uma redução no investimento em políticas públicas para a agricultura familiar, já que os(as) pequenos(as) produtores(as) ainda possuem muita dificuldade de acessar créditos rurais, como o Plano Safra.
Por outro lado, políticas públicas de fomento à soberania alimentar e produção da agricultura familiar, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) tiveram redução de 50% no orçamento nos últimos anos", dizem os manifestante, em nota.
O Brasil de Fato procurou a CNA para obter um posicionamento, mas a entidade ainda não se pronunciou.
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Edição: Flávia Quirino