Neste sábado, 7, a partir das 18 horas, artistas de São Sebastião, região administrativa do Distrito Federal, acontece a abertura da exposição Raízes de São Sebastião, que retrata as matrizes culturais da região e que estão sendo soterradas pelo processo de urbanização, como por exemplo, a Olaria Nacional, que recentemente foi derrubada para favorecer a um empreendimento imobiliário.
Serão expostas obras de linguagens variadas que lançam um olhar sobre o reconhecimento da importância histórica e cultural da presença dos migrantes, de olarias, da natureza nativa como o cerrado, as águas e nascentes, e também a coexistência entre as zonas rurais e urbanas.
Under, uma das artistas que compõem o grupo de expositores, estará na exposição com o quadro que se chama "De Rocha", que é como se referem à cidade.
“A expressão é 'São Sebas, quebra de rocha'. Na tela, retrato a vista de São Sebastião sendo olhada lá do Morro Azul, um bairro daqui, que fica localizado perto do Novo Alto Mangueiral, um outro lugar onde vão desmatar árvores e afins e que vai se tornar também um espaço de construções. Retrato também pontos da cidade. É possível reconhecer boa parte de São Sebastião", diz.
O grupo de expositores é formado ainda por Calcifer Zecaiê, Chico Metaformose, Mael Lima, Martiz, Mozart Silva, Dani Dumoulin, Dona Leontina e família e Senhora Teles, que fará uma performance ao longo da abertura. A curadoria da exposição reuniu gerações e expressões artísticas variadas para compor o projeto, uma vez que a diversidade cultural é rica no local.
:: Companhia estreia peças de teatro e circula pelo DF ::
Na abertura da exposição, o poeta e griô Edvair Ribeiro conduzirá o público em uma ação de demarcação onde já existiu uma árvore Gameleira Branca, em frente ao Campo Central da região com o objetivo de relembrar as origens da comunidade e refletir sobre o processo de urbanização.
"A Gameleira tem um valor muito especial. Kitembu (pelo significado religioso é aquele que rege o tempo) é o nkisse (força natural) que me acompanha desde o nascimento. Ele também se manifesta como a gameleira. Foi conhecendo mais sobre o tempo que soube mais sobre mim, sobre a minha cidade e a importância que consiste nessa planta e seu fundamento. Comecei a questionar o nome da avenida comercial que leva o nome de Rua da Gameleira, e o porquê de ter gameleiras próximas às olarias. Entender o nkisse me levou a uma profunda investigação do meu território e história", completa Loba Makua, também artista da exposição Raízes de São Sebastião e membro do grupo Sebastianas, que organiza a mostra.
Gameleira
A gameleira branca da região de São Sebastião fez parte da infância dos artistas da exposição, bem como de outros moradores da cidade. Quem foi criança nos anos 90 e cresceu na redondeza, tem memória sobre a árvore que foi derrubada para a criação de comércios. Sob a sombra da árvore, localizada próximo a uma das Olarias, aconteciam os festejos tradicionais da comunidade, a feira de diversos materiais e o primeiro ponto de telefone.
Carli Ayô, uma das artistas da Exposição Raízes, lembra que morava exatamente na rua da Gameleira. “Sempre que passava por ela, parava alguns segundos para olhar pra cima e admirar a bela copa que ela tinha. Foi muito doloroso me despedir dela. Certo dia, saí de casa e ela já não existia mais. O asfalto tinha chegado e a gameleira não fazia parte do projeto. Perdeu toda a graça. Não existia mais beleza".
Processo de urbanização
A região administrativa de São Sebastião é uma cidade que ainda é considerada rural, mas tem sido urbanizada ao passar dos anos com o surgimento de novos pólos de moradia, como o Mangueiral e o Parque dos Ipês (Bairro Crixá).
O preço baixo da terra, a falta de regularidade do solo e a beleza do local contribuíram para o crescimento acelerado da cidade. Com localização privilegiada, inicialmente atraiu trabalhadores da construção civil e de serviços domésticos, hoje atrai uma população que busca qualidade de vida. A Pesquisa por Amostra de Domicílio (Pdad) 2018 da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), estima que a população de São Sebastião seja de 115.256 mil habitantes.
"Eu sou daquela geração que diz: 'Quando eu cheguei, isso aqui era tudo mato'. A gente era apelidado de pé de toddy porque a nossa rua não tinha asfalto. A luz acabava toda hora. O transporte público tinha estrutura pior do que é hoje. Enquanto pessoa periférica é inevitável entender que a urbanização traz facilidades, conforto e melhoria para qualidade de vida. Mas ao mesmo tempo, a gente precisa refletir sobre o processo de urbanização e as implicações que traz. Ao mesmo tempo que tem ganhos, a vegetação nativa e a natureza não são levadas em conta. Neste processo de urbanização e de desenvolvimento chegam grandes comércios que substituem os comércios familiares. O grande desafio da urbanização é preservar as culturas originárias e a natureza", pontua o diretor artístico da exposição, Ricardo Caldeira.
Serviço
Exposição Raízes de São Sebastião
De 7 de maio a 3 de junho
Rua 44 lote 70 - Centro - São Sebastião/DF, em frente ao Campo Central, RAXIV GALERIA
Acesso gratuito
:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato DF no seu Whatsapp ::
Edição: Flávia Quirino