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Filme Mato Seco em Chamas fatura premiações em festivais europeus

Longa produzido por Ardiley Queirós e Joana Pimenta retrata periferia do DF num híbrido de ficção e documentário

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Cena de Mato Seco em Chamas, filme de Ardiley Queiroz e Joana Pimenta, consagrado no festival IndieLisboa com as principais premiações do júri - Joana Pimenta/Divulgação

Desde que começou a circular em importantes festivais europeus, o filme Mato Seco em Chamas - o mais novo longa-metragem de Adirley Queirós, codirigido com a portuguesa Joana Pimenta - vem ganhando amplo reconhecimento da crítica.

Após estrear com sucesso na 72ª edição do Festival de Cinema de Berlim, um dos mais prestigiados do mundo, em fevereiro, Mato Seco recebeu, em março, o grande prêmio do Festival Cinéma du Réel (Cinema do Real, em tradução livre), em Paris. Trata-se de um dos mais importantes festivais de documentário da Europa.

:: A periferia do DF em cartaz no Festival de Cinema de Berlim ::

Mas a consagração veio mesmo no último domingo (8), quando o filme venceu dois dos prêmios mais importantes do IndieLisboa Festival Internacional de Cinema. Foi o escolhido do júri que para o Grande Prêmio de Longa Metragem Cidade de Lisboa, o mais importante do festival.

Venceu também o Prêmio Allianz para Melhor Longa Metragem Portuguesa, já que é codirigido por uma mulher portuguesa. Ao sagrar-se vencedor nas duas categorias de melhor filme, Mato Seco em Chamas realizou um feito histórico e inédito no IndieLisboa, um festival criado em 2004 e que se dedica a mostrar obras que se encontram fora do radar da regular circulação de filmes. Nessa mesma edição, o filme de Adirley e Joana conquistou ainda o prêmio Universidades.

Híbrido de documentário e ficção, Mato Seco em Chamas narra a história de um grupo de mulheres que se apossa do petróleo que abunda no subsolo e passa a comandar toda uma rede de comércio ilegal do produto em uma favela do Distrito Federal, mais precisamente no Sol Nascente, a periferia da periferia da capital do país.

O filme conta com a participação de não-atores, pessoas da própria comunidade, cujas histórias reais se incorporam ao roteiro que nunca é previamente fechado. É uma metodologia já consagrada na filmografia de Adirley e em seus trabalhos com Joana.

"Este filme de carga social e política mergulha-nos num transe fascinante do princípio ao fim. É um filme magnífico e hipnótico que explora brilhantemente o papel ativo deste grupo de mulheres fortes que lutam pela sua sobrevivência e a resistência de uma comunidade", diz a declaração do júri do IndieLisboa ao conceder uma das premiações.

Os jurados também destacaram a "atmosfera magnética ao longo de todo o filme" e o classificou como uma "verdadeira Epopeia do século XXI".

Em fevereiro, Adirley Queirós conversou com o Brasil de Fato sobre sua trajetória cinematográfica. Reconhecido nacional e internacionalmente por filmes como "Rap, o canto da Ceilândia" (2005), seu primeiro curta, e longas premiados como "A cidade é uma só?" (2011), "Branco Sai, Preto Fica" (2014) e "Era uma Vez Brasília" (2017), o diretor que nasceu no interior de Goiás, mas se criou na Ceilândia, a periferia mais emblemática do Distrito Federal, buscou um caminho pouco usual de fazer cinema, que ele mesmo define como um abordagem etnográfica da ficção. Ele se firmou como o maior expoente do Coletivo de Cinema de Ceilândia (Ceicine)

"Muitas pessoas lidam com o mesmo objeto, o mesmo território com que a gente lida. O que acho o que é diferente no nosso cinema talvez seja essa perspectiva de produção, do modelo de produção. Os filmes demandam um tempo, a gente propõe uma ficção, mas filma como um documentário. A gente propõe histórias loucas e no final a gente quer que as pessoas vivam aquelas histórias loucas, e isso transforma o filme, depois, numa abordagem quase etnográfica. Essa coisa que a gente chama etnografia da ficção, de certa forma não é nova porque Jean Rouch fez lá atrás, mas no cinema brasileiro tinha pouco essa abordagem", analisa.

Ainda não há previsão de quando Mato Seco em Chamas será exibido no Brasil, após sua turnê europeia pelos festivais. Em seu país, Adirley Queirós espera poder circular com o filme em salas de cinema e até mesmo exibi-lo na rua, diretamente para o povo.

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Edição: Flávia Quirino