O líder indígena Aílton Krenak é o mais novo Doutor Honoris Causa da Universidade de Brasília (UnB). O reconhecimento, um dos mais importantes da instituição, é concedido a personalidades que tenham se destacado pelo saber ou pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou do melhor entendimento entre os povos.
O ato de entrega ocorreu na tarde desta quinta (12), no auditório do Conselho Universitário (Consuni), que fica no campus Darcy Ribeiro. A data foi definida em memória ao lançamento oficial da Aliança dos Povos da Floresta ocorrida em 12 de maio de 1989, em São Paulo, sob a liderança de Ailton Krenak, da União das Nações Indígenas (UNI), e Chico Mendes, do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS).
Ailton Krenak é um dos mais proeminentes intelectuais brasileiros da atualidade e uma liderança histórica do movimento nacional indígena. Ele é integrante do povo indígena Krenak (ou Borun), e vive no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. Nascido em 1953, em Itabirinha (MG), Krenak ganhou notoriedade nacional na década de 1980, no processo de luta pela redemocratização do país, que culminou com a aprovação de uma nova Constituição Federal, em 1988, que assegurou os direitos originários dos povos indígenas brasileiros.
"Eu acabei me constituindo como um sujeito coletivo, com experiência profunda de pertencimento a essa terra, a esse território, dessa parte do planeta que nós nos apegamos de maneira tão determinada, que nós enfrentamos qualquer desafio para honrar essa Mãe Terra", disse, emocionado, no discurso após receber a honraria, atribuindo este reconhecimento não à sua pessoa, mas a comunidade da qual ele faz parte.
Em sua manifestação, Krenak falou sobre dar salto de conhecimento, e rebateu a mistificação que faz em torno da genialidade das pessoas.
"Quando alguém consegue dar um salto de qualidade, ele é considerado um gênio. É que o Ocidente adora fazer esse tipo de mistificação. Na verdade, em outras culturas, [gênio] é um ser desperto. O ser desperto, ele é capaz de causar, de promover isso que é chamado disrupção. Disrupção não é um evento só da técnica, ele é do conhecimento. A gente pode saltar em conhecimento desde que a gente esteja disposto a ser uma experiência cotidiana de uma mente alerta. Nós somos seres que podemos viver em estado permanente de consciência. É exatamente o ser alerta que é aquilo que o Ocidente chama de genialidade. Vamos ficar alertas, vamos ser geniais", provocou.
Reitora da UnB, a professora Márcia Abrahão afirmou que é esse tipo de homenagem é uma forma de honrar a própria universidade. "Nós que nos sentimos honrados em ter na nossa lista Honoris Causa de ter alguém com Aílton Krenak a partir de agora. A UnB nos seus 60 anos mostra suas prioridades, o que a universidade pensa do conhecimento e do saber", afirmou. Ela também disse que o título é uma homenagem à memória do antropólogo Darcy Ribeiro, fundador da UnB, aliado dos povos indígenas.
A recomendação da homenagem ao líder indígena foi feita pelo Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam) da universidade e havia sido aprovada pelo Consuni em dezembro do ano passado, por aclamação.
:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato DF no seu Whatsapp ::
Edição: Flávia Quirino