Distrito Federal

Arte Visual

Festival nacional de fotografia promove periferias brasileiras

Ceilândia, periferia da capital do país, abriga a segunda edição do projeto Foto de Quebrada

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Fotografias que retratam a cultura popular nas periferias, como os Bate-bolas (RJ), estão em exposição no DF - Foto: Ratão Diniz

Está aberta até o dia 14 de junho, na Galeria Risofloras, em Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal, a Exposição Foto de Quebrada. A mostra é fruto da segunda edição do Festival Foto de Quebrada, que aconteceu nos dias 12 a 14 de maio, com debates sobre o futuro da fotografia e a importância de registrar as memórias da periferia.

De acordo com Vinícius Remer, assessor de comunicação e produtor do evento, o Festival  Foto de Quebrada é pensado para a promoção da arte fotográfica produzida sobre e para a periferia e um espaço para valorizar o fotógrafo nascido e residente local.

A proposta principal consiste em ampliar o olhar positivo sobre a "quebrada" (gíria utilizada nas periferias do Distrito Federal para se referirem aos locais de moradia) que em geral é representada pela mídia de forma negativa e com a maioria de  registros em perspectivas violentas ou sobre violência.

"A primeira edição foi realizada pela internet, por conta da Pandemia. Nesta oportunidade também só abrimos para fotografias realizadas por fotógrafos do DF. Agora na segunda, realizamos presencialmente, com convidados destaques da fotografia popular e as inscrições foram abertas para todo o país", diz Vinícius Remer.

Ao todo o projeto recebeu 614 inscrições de fotógrafos de todo o Brasil com imagens  que retratavam espiritualidade, moda com foco na estética periférica, vigor juvenil e a regionalidade de cada estado.


Ancestralidade e estética periférica estão entre os temas da exposição / Foto: Tamara Santos

Segundo Vinícius, o que foi percebido com as fotografias recebidas é que não existe uma identidade única entre as periferias do país, sendo tão plurais quanto às manifestações juvenis. O Festival Foto de Quebrada é realizado pelo Coletivo Duca em parceria com o Projeto Jovem de Expressão e a Rede Urbana de Ações Socioculturais com apoio do Fundo de Apoio a Cultura do Distrito Federal (FAC).

"Fotografia era moda de galeria"

O Festival é um sonho antigo dos fundadores do Coletivo Duca. Desde 2010, ao realizar dentro do Festival de Cinema Cine Periferia Criativa a exposição fotográfica "Além das Telas" que reunia registros de mais de oito regiões administrativas periféricas do Distrito Federal, o grupo imaginava um festival que pudesse registrar e ressignificar a imagem da periferia perante a sociedade.

"Eu era estudante de publicidade e a fotografia era uma paixão que surgia. Naquele contexto, a construção do saber e da linguagem fotográfica enquanto fenômeno urbano e popular da quebrada não tinha a mesma difusão de hoje. Os jovens das periferias tinham mais dificuldade de acesso a tecnologias. A fotografia era moda de galeria e utopia para a gente. Todo mundo queria ser Sebastião Salgado. Então tínhamos a ânsia em criar um encontro para falar sobre fotografia e narrativas diversas sobre nós. Queríamos Januários e Firminos para contar nossa história. E ainda, plantar ideias contestadoras para construção de novos olhares e saberes", diz Hugo Pereira, designer gráfico editorial, fotógrafo, mídia ativista e membro fundador do Coletivo Duca. Atualmente dirige a Casa Taiwo - Experiências Gráficas Visuais. 

Concurso Nacional

Além do espaço de debates e formações que aconteceram nos dias de Festival, 30 fotógrafos foram selecionados para compor a exposição na Galeria, localizada na Praça do Cidadão.

Para Rayane Soares, curadora do festival e coordenadora do Programa Jovem de Expressão, o sentido do concurso nacional foi pluralizar o olhar da quebrada. “Tentamos escolher coisas características das quebradas, valorizamos a diversidade das periferias".


Webert fala que o projeto permite "enxergar as quebradas com olhares mais profundos entendendo que a fotografia é um lugar de poder" / Foto: Coletivo M.A

"Foi uma curadoria muito difícil, mas também de muita felicidade. De poder enxergar as quebradas com olhares mais profundos entendendo que a fotografia é um lugar de poder, mas de cura e a depender de qual perspectiva, também de muita dor. Foi possível perceber que o trabalho de fotografia, de arte visual da quebrada está realmente rumo à emancipação", diz Webert da Cruz, fotógrafo, educador popular e curador do festival.

Retratos

Selecionada para a Exposição, a fotógrafa Tamara dos Santos, moradora de Mauá (SP) enviou fotografias que falam sobre como o aquecimento global influencia diretamente e principalmente as pessoas pretas.

"Meu trabalho retrata o resgate ancestral de plantar e cultivar o próprio alimento. Mostro como nós, mulheres pretas, somos a base alimentar e nutritiva de uma família, tanto o alimento físico como espiritual. Através das nossas mãos toda a família é nutrida. Somos a base fundamental para que as coisas aconteçam divinamente como são". 

Formado pela Escola de Fotógrafos Populares, Ratão Diniz, que divide residência entre a Favela da Maré no Rio de Janeiro e o interior da Paraíba, participa do gênero de fotografia documental e promove a cor em seus trabalhos. Fotografa festas populares que utilizam a máscara para desenvolver cultura, por ser uma busca do subconsciente artístico.


Fotógrafo que reside no Rio de Janeiro foi um dos selecionados para a mostra / Foto: Ratão Diniz

"Eu fotografo Bate-bolas há 12 anos de forma independente. Quero que minha fotografia fortaleça a história desses personagens. O bate-bola é marginalizado no Rio de Janeiro. São colegas de rua do subúrbio carioca que se organizam e fazem o carnaval deles. É como se fosse uma mini escola de samba. Aquela turma todo ano lança uma nova fantasia. Eles juntam dinheiro ou pagam em parcelas com carnê, porque a fantasia fica cara. Sobre a máscara, penso que esconde a identidade e assim é possível ser quem se quer. Aquele sujeito que é oprimido durante o ano cria um corpo único com várias outras pessoas sem ser julgado. Com a máscara e a fantasia não importa gênero ou tipo físico, desconstrói inclusive estética”. 

Uma das perspectivas da organização do Festival, “é rodar a exposição Foto de Quebrada em galerias pelo Brasil”, aponta Marcelo Vinícius, produtor do evento.

Votação

Até o dia 13 de junho estará aberta a votação popular para premiar duas das 30 fotografias selecionadas para a exposição Foto de Quebrada. Além destas, a curadoria do Festival também vai escolher mais duas fotografias. Cada vencedora receberá um prêmio no valor de R$ 2 mil reais. 

A votação acontece pelo site do Festival

Serviço

Exposição Foto de Quebrada

Galeria Risofloras, Praça do Cidadão, Ceilândia

Até o dia 14 de junho

De segunda à sábado, das 14h às 18h

Evento gratuito

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Edição: Flávia Quirino