Às 18h do dia 31 de maio de 2016, no estado de Goiás, José Valdir Misnerovicz foi conduzido ao cárcere por lutar por liberdade, pelo direito à terra, à alimentação saudável e contra a exploração da população brasileira. O dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foi um dos primeiros presos políticos após o golpe jurídico-parlamentar que determinou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Após seis anos da prisão política, a história e memórias de Valdir serão compartilhadas em uma mostra cultural, na Casa Liberté, em Goiânia. “Memória e resistência: cartas da terra” exibirá cartas e registros fotográficos inéditos que envolvem o encarceramento do dirigente do MST.
Misnerovicz, que ficou mais de 130 dias privado de liberdade, experienciou a solidariedade de classe, princípio de luta do Movimento Sem Terra. Entre junho e outubro de 2016, o dirigente recebeu cerca de 300 cartas de familiares, militantes de todo o Brasil, políticos e lideranças religiosas.
Para a exposição, foram selecionadas 15 cartas, com a finalidade de fazer o público imergir na dura realidade vivida por um preso político em Goiás, num momento em que o ideário político nacional adquiria contornos fascistas, com a ampliação da perseguição e criminalização dos movimentos sociais.
Em carta escrita pelo Coletivo de Cultura do Movimento a Valdir, o pedido era que, mesmo diante de dias cinzas, ele ainda pudesse sorrir. “Alegre esse lugar com a rebeldia de um sorriso”.
Em outro trecho, o coletivo escreve: “Não pedimos de você que aguente em silêncio, mas que ainda erga a sua rebeldia. E se, por acaso, a tática demandar silêncio, nos ouça na convicção de que esse movimento, vivo em você, ousa ainda seus gritos de guerra”.
Para Misnerovicz revelar pela primeira vez parte das cartas recebidas e escritas na prisão é um momento muito forte e emotivo, “que será compartilhado com todos e todas que lutam pela liberdade e pela justiça social”.
:: Comitiva visita TJ de Goiás para pedir liberdade a presos políticos do MST ::
Ele destaca ainda que “se a prisão foi uma tentativa de nos fazer recuar, fez foi nos fortalecer e a seguir cada vez mais firme nessas causas tão importantes para a humanidade.
Mesmo diante da injustiça, o dirigente afirma que “a causa vale a pena” e que a solidariedade de tantas pessoas foi essencial para mantê-lo firme diante das adversidades.
“A solidariedade de classe é fundamental na nossa luta, se não fosse a solidariedade, provavelmente, eu sairia da cadeia para o hospício. A cadeia é um muito terrível. Mas quem quer mudar o mundo, transformá-lo, precisa cultivar a solidariedade”, pontua o defensor da Reforma Agrária.
A geógrafa e produtora cultural Larissa Pitman, que fará a curadoria da mostra, ressalta que as cartas selecionadas trazem elementos importantes de solidariedade, da luta coletiva e, principalmente, do afeto.
“A exposição foi pensada com muito carinho cuidado, visto que mexer nessas memórias é doloroso”, ressalta a produtora. Ela conta ainda que a mostra tem como objetivo expor a temática da criminalização e “das perseguições dos movimentos sociais num momento em que a gente vive circunstâncias democráticas questionáveis”.
A exposição fica aberta até o dia 10 de junho, na Casa Liberté, em Goiânia.
:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato DF no seu Whatsapp ::
Edição: Flávia Quirino