Uma pesquisa inédita estima que há 2.938 pessoas vivendo em situação de rua no Distrito Federal atualmente. O levantamento, divulgado nesta terça-feira (14), foi feito pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), em parceria com o Fundo de População das Nações Unidas, Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) e apoio da Secretaria de Economia (Seec), Câmara Legislativa (CLDF) e movimentos sociais.
Trata-se da pesquisa mais abrangente sobre esse segmento populacional na capital do país em pelo menos 12 anos. Os dois levantamentos anteriores, realizados em 2010 e 2011, identificaram 2.310 e 2.512 pessoas em situação de rua, respectivamente.
Agora, do total de pessoas mapeadas na pesquisa de 2022, 1.767 foram diretamente entrevistadas pelos recenseadores e outras 927 não puderam ou não quiseram responder o questionário, mas foram contabilizadas. A coleta de dados ocorreu em meados de fevereiro. Mais de 100 territórios foram verificados em todas as 33 Regiões Administrativas (RAs) do DF. Elas foram localizadas em logradouros urbanos, mas também em unidades da rede de acolhimento do poder público e em comunidades terapêuticas.
“A pesquisa sobre a população em situação de rua surge da demanda dos movimentos sociais que atuam com o tema, que necessitavam de informações sobre esse segmento”, aponta o presidente da Codeplan, Jean Lima.
Segundo ele, os dados serão discutidos com organizações da sociedade civil no próximo dia 21, para que sejam pensadas propostas de políticas públicas para esse segmento. No segundo semestre, a Codeplan deve divulgar uma segunda etapa da pesquisa, dessa vez com análise qualitativa dos dados.
"Vai ficar pendente uma parte qualitativa da pesquisa, que vai capturar aspectos sobre a trajetória dessas pessoas em situação de rua, razões pelas quais elas foram para a rua ou razões do porquê permanecem na rua", explica Daienne Machado, diretora de estudos e políticas sociais da Codeplan, uma das responsáveis pela pesquisa.
O Censo da População em Situação de Rua pode ser consultado diretamente no Painel InfoDF mantido pela Codeplan na internet, com todos os dados da pesquisa detalhados.
Crianças e adolescentes
Do montante de quase 3 mil pessoas em situação de rua identificadas, 244 são crianças ou adolescentes. Desse público, 42,7% são do sexo masculino e 52,4%, do sexo feminino. As informações foram fornecidas pelos seus pais ou responsáveis que afirmaram, ainda, que 37,7% das pessoas nesse grupo são pardas e 34% são indígenas.
Ainda, 42,7% dessas crianças e adolescentes em situação de rua estavam matriculadas e frequentavam escola ou creche, mas outros 40,7% nunca frequentaram a escola, aponta a pesquisa.
Perfil social
O estudo levantou informações sobre diversas características da população em situação de rua no DF, como identidade de gênero, cor de pele, localidade de origem e etnia. No universo das pessoas identificadas, aproximadamente 80,7% são do sexo masculino e 19,3% são do sexo feminino. Do total de pessoas entrevistadas, 92,7% afirmaram ser heterossexuais, 1,9% gays e 1,7% lésbicas.
Quase metade dessa população tem entre 31 e 49 anos (47,2%). Pessoas entre 18 e 30 anos são 22% e pessoas de 50 a 59 anos são 13% do total.
Dentre as pessoas entrevistadas, 50,4% se autodeclararam pardas, 20,7% pretas e 14,7% se autodeclararam brancas. Outros 11,6% são indígenas.
O número significativo de crianças indígenas se explica, segundo a Codeplan, porque há um grupo de indígenas venezuelanos da etnia Warao, que vivem em unidades de acolhimento após terem emigrado do país de origem.
Mais da metade da população em situação de rua no Distrito Federal (51,7%) são migrantes internas, ou seja, pessoas que nasceram em outros estados brasileiros e se mudaram para a capital do país. Outros 47,2% disseram aos entrevistadores que sempre moraram no DF.
Sobre o tempo nas ruas, 46,3% das pessoas entrevistadas disseram estar em situação de rua há mais de cinco anos, mais de um terço há 10 anos ou mais. Outros 38,2% dos entrevistados afirmaram terem ido para a rua durante a pandemia, ou seja, há dois anos ou menos, e 3,9% não sabem ou não responderam.
Trabalho e renda
A maioria das pessoas entrevistas declarou que as principais atividades que realizou para geração de renda nos dias anteriores à pesquisa foram as de a coleta de material reciclável, lavagem ou cuidados de automóveis, venda de produtos em semáforos ou, menor escala, mendicância.
"Quase 70% trabalha em atividades autônomas. Menos de 1% tem carteira assinada. E 57,6% recebem até meio salário mínimo (606 reais)", explicou Daienne Machado, diretora de estudos e políticas sociais da Codeplan, uma das responsáveis pela pesquisa.
O levantamento mostrou que 37,7% dessa população relatou ter depressão e transtornos mentais e 35,7% relataram problemas de saúde bucal. Outros 41,3% afirmaram terem ficado 24 horas sem comer na semana da pesquisa.
O comércio local foi a principal fonte de obtenção alimentos (40,8%) e de água pra beber (26,7%), por meio de doações. Já o Centro de Referência em Atendimento de População de Rua (Centro Pop) é o local mais utilizado por essas pessoas quando querem ir ao banheiro. Há dois Centros Pop no DF, um em Taguatinga e outro no Plano Piloto.
Acompanhamento
Para a secretária de Desenvolvimento Social do DF, Mayara Noronha, a metodologia dessa nova pesquisa é diferente dos levantamentos anteriores e, por isso, "não tem como fazer um comparativo com gestões passadas". Segundo ela, é importante que os governos sigam atualizando as informações, a partir desse levantamento atual, ao longo dos próximos anos.
Noronha também citou dados da sua pasta que abrangem a assistência social de famílias que estão ou estiveram em situação de rua. "Hoje, 4.293 famílias, que passaram pelas ruas, recebem o programa Auxílio Brasil. E dessas, 1.487 também estão inseridas no DF Social. Também dessas, 576 estão também recebendo o auxílio Prato Cheio", informou a secretária.
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Edição: Flávia Quirino