Não há espaço nem tempo para o silêncio.
O futuro já chegou. Nunca antes na história desse país, e do mundo, houve tantas ferramentas de comunicação instantânea. Para o bem e para o mal. Podemos encurtar as saudades e matar alguns quilômetros num clique, em uma chamada de vídeo, mas também receber mensagem do seu chefe no zap depois do expediente. Há sempre alguém para responder, nos lembram as incessantes notificações no celular, no computador, no relógio e, em breve, até nos óculos.
Não há espaço nem tempo para o silêncio.
Nos últimos meses este cronista deu um tempo nas redes sociais. Um tempo para o silêncio.
Hoje, de volta no fuzuê das redes, consigo refletir sobre o que é estar fora, no limbo do século 21. Principalmente quando falamos de um período de isolamento social imposto pela pandemia do coronavírus.
Estar fora das redes sociais é se ausentar da construção de relações na hipermodernidade. Veja só, não abri mão do celular nem do zapzap, a comunicação instantânea direta ainda era possível, mas a questão é: quem não é visto não é lembrado.
Postar, compartilhar e reagir nas redes sociais vem sendo uma das principais formas de edificação das relações contemporâneas, das novas que surgem às antigas que permanecem. Estar fora é abrir mão de fofocas, de trocas e de conhecer melhor outras facetas de personagens da nossa vida real, por mais que hajam muitas fakes e ilusões no mundo digital.
Acompanhamos o dia a dia de pessoas que só víamos no fim de semana, ou em instantes pontuais. Nada de mal nisso. O problema é que para as empresas donas destas redes, te manter o máximo de horas possível no aplicativo é o objetivo maior.
Lidar de outra forma com as redes é um dilema dessa hipermodernidade.
A questão não é virar um ermitão, ou passar mais de quatro horas do seu dia com os olhos pregados em coisas aleatórias. Bloquear notificações inúteis, estabelecer um alarme de horas para uso dos apps, parar de achar que é uma obrigação postar e reagir todo dia nas redes, são pequenas ações, mas podem fazer a diferença.
O importante é frear a aceleração da vida, que alimenta nossa ansiedade e nos tira a beleza do silêncio. Quem sabe assim sobra tempo para outras redes: as de algodão, balançando no alpendre, balançando na sala, balançando mais vagarosas que o seu feed.
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*Diego Ruas é escritor, designer e engenheiro florestal.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
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Edição: Flávia Quirino