Nos próximos oito meses, as Caixeiras Cia. De Bonecas, precursoras do Teatro Lambe Lambe do Distrito Federal, oferecerão gratuitamente em comemoração aos 15 anos de trajetória dedicadas às artes cênicas, uma oficina de Teatro de Objetos e variados espetáculos, incluindo peças inéditas.
A próxima atividade desta celebração será a oficina de Teatro de Objetos nos dias 15 e 16 de julho. Na sexta-feira, a oficina acontece das 19h às 22h e no sábado das 10h às 17h. O workshop será ministrado por Jô Fornari, artista e bonequeira do Rio Grande do Sul, no Instituto de Artes da Universidade de Brasília.
"Vou trabalhar a linguagem do teatro a partir dos objetos de memória e de afeto. Com peças particulares que as pessoas carregam consigo e que tem memória daquele bem. Precisa conter história e que seja particular da pessoa. A partir daí vamos criar algumas ações artísticas desde uma instalação até uma pequena cena. Serão histórias autobiográficas", explica Jô.
Segundo ela, podem se inscrever pessoas acima de 18 anos que tenham alguma experiência artística com teatro, artes visuais e com o viés da cena, da criação e da contação de histórias. As inscrições poderão ser realizadas pelo telefone (61) 9.8402-3120 (WhatsApp).
Contempladas pelo Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, além da oficina, as Caixeiras circularão com uma programação de espetáculos exibidos nas praças do Plano Piloto, Itapoã, Taguatinga, Vila Planalto e Paranoá, entre os dias 30 de junho e 6 de agosto. Realizarão ainda, exibições pelos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.
No dia 23 de julho, As Caixeiras apresentam quatro espetáculos, “Amor- Título Provisório e Inalterável”, "Amor de Cão", "Revoar" e a "Trilogia Enquanto Houver Amor Eu Me Transformo". O evento acontece às 15 horas, na praça Zumbi dos Palmares, no Setor de Diversões Sul.
As apresentações têm duração de 2 a 6 min, a depender da peça. As obras serão apresentadas ao longo de 1h30. Todas as apresentações são gratuitas e de classificação indicativa livre para todos os públicos.
Trajetória
Mariana Baeta, Jirlene Pascoal e Amara Hurtado iniciaram a jornada do teatro Lambe Lambe em 2007 em um momento em que não haviam compromissos com outros grupos teatrais. Deram margem a pesquisa que fez surgir o fazer artesanal, autoral e criativo de construção do teatro dentro das pequeninas casas de espetáculos com mini bonecas, cenários, sistemas de som e de iluminação, bem como a estrutura das caixas cênicas.
"Quando iniciamos o teatro Lambe-lambe, a primeira reação do público foi de muito estranhamento e ao mesmo tempo curiosidade. Este tipo de teatro tem essa característica porque são essas casas de espetáculo misteriosas. São pequenas caixas onde vai uma pessoa por vez. Havia interesse, mas ao mesmo tempo uma certa desconfiança se podia ou não chegar perto ou se era uma pegadinha", conta Amara Hurtado, integrante das Caixeiras Cia. De Bonecas.
Por serem mulheres, as artistas contam que passaram por constrangimentos e desqualificações ao exercerem a arte.
"Pelo fato de sermos mulheres ouvimos piadas machistas. Um grupo de artistas mulheres enfrenta muito isso. A gente enfrenta não só apresentando, muitas vezes em conversas com outros artistas, com a produção do evento. É a coisa do homem dizendo qual o nosso lugar. Mostrando autoridade de forma desnecessária que machuca", expõe Amara.
Com 15 anos de atuação, as Caixeiras possuem 11 espetáculos. Uma história, que segundo Amara Hurtado, é cheia de alegria, tristeza, revolta e persistência.
"Somos um grupo reconhecido pela qualidade, criatividade e por ter insistido neste tipo de teatro. Há alguns anos havia uma diferenciação entre o teatro de bonecos e o de atores, como se o de bonecos fosse restrito somente às crianças. Então somos caracterizadas também pela resistência de nos manter na linguagem que queríamos. Resistimos às pressões financeiras, de relacionamento e linguagem", comemora Amara.
Atualmente, no Distrito Federal, As Caixeiras Cia. de Bonecas são a única companhia profissional que pesquisa e difunde o Teatro Lambe-Lambe.
Lambe-lambe
O nome da modalidade teatral é inspirada nos antigos fotógrafos lambe-lambe, das décadas de 1940 a 1970, que utilizavam uma câmera escura, em formato de caixa, e tinham de lamber os filmes para revelar as fotos. As atrizes-animadoras baianas de Salvador Ismine Lima e Denise dos Santos são as inventoras dessa modalidade no ano de 1989.
O teatro é apresentado no espaço reduzido de uma caixa cênica e para um público de até três pessoas, que assistem à ação cênica através de uma pequena abertura. Todo o espetáculo é encenado dentro dessa pequena estrutura, onde as atrizes manipulam bonecos em miniaturas, controlam a iluminação e som.
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Edição: Flávia Quirino