Nunca foi fácil e não será, mas temos o povo que necessita de história, arte e cultura.
Voltamos a nos apresentar com a presença do público. Tensão. Medo. Como agir? Máscaras? Fotos? Contato? Portas Fechadas? E agora? Situações que se tornaram comuns em nossas rotinas e que entram em conflito. A insegurança se tornou tão grande que o ofício de apresentar ficou em segundo plano. Será que o público vai entender? Qual vai ser a devolutiva? Tudo ok: cenário, figurino, marcações, transições… E o texto?
Retomamos um projeto que iniciamos em 2019, perante a um governo que nega e destrói a cultura, que criminaliza os movimentos sociais, nossa principal fonte de pesquisa na construção desse projeto. Fomos para suas áreas, regiões e casa, ouvimos, vimos e aprendemos ali, olho no olho. Respirando o mesmo ar, pisando nesse chão pavimentado de muita luta e conquista. Saímos com um material rico, com vontade de fazer e levar a história dessas mulheres, Margarida Maria Alves e Roseli Nunes, para onde pudermos.
Enfrentamos dois anos de pandemia que nos fizeram parar com a construção do espetáculo, que estava quase finalizado. Ao retomar tudo se modifica, temos que remontar e desfazer de muitas coisas construídas no passado distante. Novamente longas rodas de conversas, inseguranças e questionamentos, mas sempre movidas pela garra do fazer e estar presente.
Espetáculo pronto. Vamos estrear dentro de um assentamento. E não qualquer assentamento, sim o Pequeno Willian, na Comuna Panteras Negras. Grandes mulheres que estão na linha de frente do movimento aqui do DF na platéia. Amigas e companheiras de luta, que se veem nessa história, que são parte dessa história, ou melhor, que estão avivando essa história de luta diária. Sentimos ali a potência desse espetáculo.
Chegou a vez de nos apresentarmos na 6º ENAFOR. Mais de 300 pessoas do Brasil inteiro. Mais uma vez uma grande comoção, em meio aos desafios tecnológicos que enfrentamos, vimos e ouvimos a satisfação de muitos vendo suas vidas, lutas e conquistas sendo representadas por meio do nome dessas guerreiras.
Tivemos uma primeira apresentação dentro de escola. O medo presente, mas temos uma platéia que vibra, interage. Tornam uma história passada uma forma de gritar os seus desafios em meio aos cortes de verbas e mudanças diárias na rotina dos estudantes. A sagacidade da atriz em ouvir, acolher e seguir torna a proximidade ainda maior entre o grupo e público. Vimos ali que temos um espetáculo denso, porém necessário. Sabemos que não será fácil.
Estamos enfrentando grandes desafios. Aumento de casos de contaminação, cancelamentos, medos nas escolas e nossos próprios medos diários. Vemos nos olhos dos presentes a saudade de ver histórias, se inspirarem, de buscar nessas mulheres a vontade de lutar e fazer mais, dia após dia. Nunca foi fácil e não será, mas temos o povo que necessita de história, arte e cultura. E nós vamos continuar semeando a nossa paixão em fazer o papel principal do teatro: estar com o povo e fazer com o povo.
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*A Cia Burlesca é uma companhia de teatro político do Distrito Federal.
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato DF.
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Edição: Flávia Quirino