Acesso à terra e fortalecimento da agricultura familiar são fundamentais para toda a sociedade
Em 2016 estreamos o espetáculo Bendita Dica, que conta a história da Benedita Cipriano Gomes, uma líder comunitária de Lagolândia (GO) que com a ajuda do povo desafiou as forças conservadoras do interior do Goiás lutando por uma divisão mais justa da terra e das riquezas. A República dos Anjos, criada pela Dica e seus seguidores, chegou a ter mais de 600 famílias vivendo de forma comunitária com partilha, solidariedade e construção coletiva.
No dia da primeira apresentação sentimos que o espetáculo nos levaria longe. Mas não imaginávamos a revolução que ele causaria na trajetória da Burlesca e nas nossas vidas.
Bendita Dica consolidou a nossa relação com os movimentos sociais do campo. A gente já vinha se aproximando com participações por meio de oficinas em congressos, seminários e marchas. Com a Dica consolidamos a relação por meio da cena. E de lá pra cá a gente sempre agradece à Santa Dica por essa benção na nossa caminhada.
O espetáculo nos aproximou dos agricultores e agricultoras de um jeito muito especial. Essa convivência nos faz pensar cotidianamente sobre a necessidade de implementação de políticas públicas que garantam as atividades da agricultura familiar. São os(as) pequenos(as) agricultores(as) que produzem grande parte da comida que preenche a mesa da sociedade brasileira. E é esse povo também que produz cuidando do planeta porque a produção é para alimentar a vida e não apenas para gerar lucro.
Já apresentamos mais de 150 vezes o espetáculo Bendita Dica, grande parte dessas apresentações para agricultores e agricultoras. E sempre nos emocionamos muito com o sentimento de pertença que esse povo tem com o espetáculo.
É bonito ver como se enxergam na história e como a trajetória da Dica toca profundamente o coração de cada um reafirmando o desejo de terra dividida, com o povo produzindo comida saudável e com condições de viver no campo com dignidade. É teatro que está próximo. Que coloca a vida das pessoas no centro. E que reúne gente do campo e da cidade na luta pelo bem viver. Porque acesso à terra e fortalecimento da agricultura familiar são fundamentais para toda a sociedade brasileira. Se o campo não planta a cidade não janta!
Hoje no dia do agricultor e da agricultora nós gostaríamos de celebrar a vida desse povo que resiste e insiste em um projeto de país que luta por soberania e segurança alimentar. Que não aceita a miséria como uma condição sistêmica porque gente é para brilhar e não para morrer de fome. Que respeita a terra e não a trata como mercadoria. Que compreende o tempo da natureza, da semeadura e do plantio. Que festeja a chuva, o brotar e a colheita. Que escuta os pássaros, observa as marés, conta as luas e as estrelas e de forma poética gera vida todos os dias.
Viva a agricultura familiar! Viva os agricultores e as agricultoras familiares!
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*A Cia Burlesca é uma companhia de teatro político do Distrito Federal.
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato DF.
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Edição: Flávia Quirino