As reivindicações da comunidade LGBTQIA+ por inclusão são também pelo direito à vida
Dia 19 de agosto celebramos o Dia do Orgulho Lésbico no Brasil. A história da data remete à luta das mulheres lésbicas pelo seu direito à visibilidade, ao livre exercício do amor e da organização política.
Aconteceu que, em 1983, o proprietário de um bar chamado Ferro's, em São Paulo, local de encontro de um público progressista, inclusive LGTQIA+, proibiu a circulação do jornal "Chanacomchana", editado pelo Grupo Ação Lésbica Feminista (Galf). No dia 19 de agosto daquele ano, as mulheres do Galf tomaram o local com um grande protesto denunciando a censura - notem que a ditadura militar estava em seu final - e exigindo visibilidade e respeito. Ao final da ação, o proprietário do Ferro's pediu desculpas às mulheres e permitiu a venda do jornal. Foi assim que a data se tornou um marco da luta das mulheres lésbicas.
Esse episódio, como tantos outros que seguem acontecendo cotidianamente, atestam que a luta continua sendo muito necessária. No atual período de trevas no qual o Brasil está mergulhado, o desprezo pelos direitos humanos é uma bandeira para o presidente da República e seus seguidores. É o chefe do executivo quem mais incita a violência, encontrando eco em sua base de sustentação na sociedade e nos parlamentos Brasil afora.
A frequente defesa do armamento da população põe em risco sobretudo a vida da comunidade LGBTQIA+, mulheres, pessoas negras, moradores das periferias. Os cortes orçamentários nas áreas sociais, a criminalização de educadores(as) que debatem direitos humanos nas salas de aula, o descaso com a saúde do povo, a ciência e a produção de conhecimento e de cultura atingem principalmente esse setor da população.
Por isso, é mais importante do que nunca eleger políticos(as) comprometidos(as) com a pauta LGBTQIA+. Precisamos fortalecer essa agenda no Congresso Nacional, nos estados e municípios para garantir a dignidade desse segmento da população, defender sua liberdade e sua vida.
Pauta atualíssima
As reivindicações da comunidade LGBTQIA+ por inclusão são também pelo direito à vida: as agressões físicas e morais chegam a se tornar assassinatos - e, infelizmente, isso não é raro no Brasil. Entretanto, a lesbofobia e os ataques às mulheres lésbicas têm contornos e dimensões específicas que exigem, portanto, políticas públicas dirigidas.
Segundo um estudo realizado por pesquisadoras da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), os assassinatos de mulheres em razão de serem lésbicas, aumentou 237% no Brasil entre 2015 e 2019. Um levantamento feito pela revista eletrônica Gênero e Número a partir de dados obtidos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan, parte do Ministério da Saúde) aponta que, em média, 6 lésbicas foram estupradas por dia em 2017, em um total de 2.379 casos registrados. Em 61% dos casos notificados, a vítima foi estuprada mais de uma vez.
Graças à luta incansável das mulheres lésbicas, o "estupro corretivo" tornou-se um agravante para o crime de estupro. É apenas nos organizando que faremos frente às ideias medievais do p\residente e seus apoiadores, que já demonstraram centenas de vezes seu particular desapreço pelas mulheres - que dirá pelas mulheres lésbicas.
Luta e esperança sempre
Todos os avanços e conquistas que tivemos ao longo da história foram sempre produto da luta coletiva. Nossa cor é o arco-íris, que expressa nas suas cores a alegria, a diversidade, a esperança e - sim! - o orgulho.
Os tempos são de trevas, mas nós temos nossa alegria, nossa diversidade, nossa esperança e nosso orgulho em que nos agarrar. São nossas armas para iluminar e superar este triste momento em direção a um mundo onde caibamos todas, todos e todes com o mesmo direito à felicidade e ao amor! Viva o Dia do Orgulho Lésbico!
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* Élbia Pires é professora da rede pública de educação do DF e coordenadora da Secretaria de Saúde do Sinpro-DF.
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato - DF.
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Edição: Flávia Quirino