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Deputados responsabilizam Ibaneis por morte de mulher na fila do Cras

DF vive uma crise sem precedentes na área de assistência social

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Deputados distritais durante sessão da Câmara Legislativa do DF nesta quinta-feira (18) - Carlos Gandra/CLDF

A morte de Janaina Nunes Araújo, 44 anos, em plena fila do Centro de Referência em Assistência Social (Cras) do Paranoá foi o assunto dominante na sessão ordinária da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) na na quarta-feira (17). Deputados da oposição responsabilizaram diretamente o governador Ibaneis Rocha (MDB) pela tragédia e prestaram solidariedade aos familiares e amigos da vítima.

Janaína Araújo passou mal durante a madrugada de quinta, enquanto aguardava a atendimento para se cadastrar como beneficiária de programas sociais. Ela chegou a ser levada para o Hospital regional do Paranoá, mas não resistiu. A capital do país vive uma crise sem precedentes no setor, em que cenas lamentáveis de pessoas esperando a noite inteira para serem atendidas se tornaram quase diárias.  

Para deputado Chico Vigilante (PT), a morte de Janaína foi praticamente uma tragédia anunciada. “O senhor governador vai permitir que estas filas continuem, que pessoas continuem morrendo nestas filas?”, assinalou, acrescentando que o governo deveria utilizar a busca ativa dos beneficiários, realizando o cadastramento nas casas das pessoas.

Vigilante disse que as filas são “fruto da incompetência do governo federal e do governo do DF”. “É uma vergonha que uma pessoa tenha que ficar 48h numa fila para conseguir uma senha para ser atendida depois”, completou.

O deputado Fábio Felix (PSOL) lembrou que as pessoas nas filas do Cras "não estão lá por que querem, mas porque precisam". Há pouco mais de duas semanas, o governador Ibaneis Rocha afirmou, durante a convenção que aprovou seu nome para concorrer à reeleição, que as pessoas que reclamam da fila do Cras "deveriam agradecer". A fala foi duramente repudiada e ele teve que ir às redes sociais tentar se explicar.

“É inaceitável esta situação. Temos uma crise social sem precedentes e há poucos dias o governador teve a cara de pau de dizer que elas deveriam agradecer por ter direito a um benefício”, afirmou Félix. O deputado ainda propôs um pacto contra a fome no DF. “Primeiro é preciso garantir comida no prato destas pessoas, com celeridade na concessão dos benefícios. Minha máxima indignação com o governo Ibaneis Rocha. O governo é responsável por esta morte na fila do Cras”, sentenciou.

A fila de espera para atendimento nos Cras cresceu 278% entre 2019 e 2021, segundo dados levantados pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa, com 185.139 aguardando atendimento em outubro de 2021. Mas a própria Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) do governo do DF (GDF) reconhece haver cerca de 200 mil pessoas na fila atualmente, pelo menos até o mês passado.

O deputado Leandro Grass (PV) afirmou que o governo Ibaneis “mata pessoas”. “Quando a gente fala que este governo mata pessoas, muitas vezes dizem que estamos exagerando, mas este governo mata sim pessoas”, destacou. Para Grass, o governo “mata com cinismo e com falta de vergonha na cara, quando ele vai para a televisão e fala que está tudo bem”. 

Já a deputada Arlete Sampaio (PT) ressaltou que Ibaneis Rocha “se caracteriza por ser um governador de rico para ricos, sem qualquer empatia com a população mais carente do DF”. Segundo ela, atualmente 220 mil pessoas passam fome no DF e 260 mil pessoas tentam acessar benefícios e não conseguem.

A reportagem procurou a assessoria do governador Ibaneis Rocha para comentar as críticas dos parlamentares e se pronunciar sobre a morte de Janaína na fila do Cras, mas ainda não obteve retorno. A Sedes já tinha emitido nota para lamentar a ocorrência e informou estar prestando assistência à família da vítima.

Sucateamento e abandono

O Sindicato dos Servidores da Assistência Social e Cultural do Governo do Distrito Federal (Sindsasc) aponta o sucateamento da estrutura do setor como o principal entrave para o atendimento à população.

Na semana passada, a primeira-dama do Distrito Federal, Mayara Noronha, anunciou seu afastamento como secretária de Desenvolvimento Social para se dedicar à campanha de Ibaneis Rocha. A esposa do governador ficou mais de dois anos à frente da pasta, apesar de não ter experiência na área de assistência social. Em seu lugar, o governador nomeou Ana Paula Marra, que era a então secretária adjunta da pasta. 

Aumento da miséria

As consequências da pandemia aprofundaram os problemas sociais do país. Em 2022, mais da metade da população brasileira (58,7%) vive com algum tipo de insegurança alimentar.

O número de pessoas passando fome passou de 19 milhões para 33,1 milhões de pessoas em pouco mais de um ano, de acordo com dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). No mundo real, o Brasil regrediu para um patamar de insegurança alimentar equivalente ao da década de 1990.

Embora o levantamento não tenha informado os dados por estado, no Centro-Oeste cerca de 12,9% dos domicílios estão em situação severa de insegurança alimentar, ou seja, literalmente as famílias não tem o que comer. A estimativa é que mais de 220 mil pessoas estejam nessa condição de emergência.

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Edição: Flávia Quirino