As regiões administrativas do Plano Piloto, Taguatinga e Ceilândia são palco das atrações do Festival Marco Zero, que reúne performances artísticas de dança, roda de conversa e oficina ao ar livre e vai até o dia 30 de agosto.
De acordo com a organização do Festival, a proposta é atrair a atenção para o fazer artístico e para a apropriação cultural da cidade, alterando o olhar cotidiano das pessoas sobre estas localidades e chamar a atenção por meio de performances para temas como meio ambiente, o feminino, as culturas LGBTQIAPN+, negra e indígena, a infância e, também a arquitetura.
A curadora do projeto, Flávia Meireles, destaca que o festival é pioneiro no gênero e explica a forma como foi pensado.
"O Marco Zero é um festival de dança em paisagem urbana que é pioneiro numa articulação bastante orgânica entre o que a cidade oferece e as intervenções artísticas que são feitas. As performances foram pensadas para cada um dos locais e se relacionam com o ambiente. Serão abordados temas como ancestralidade, coletividades e os modos de resistências políticas".
Flávia ressalta ainda que o evento pretende fazer aparecer dimensões da cidade que estão presentes para além do plano urbanístico, mas pouco é notado. "Apresentaremos a relação com a ancestralidade, as formas de resistência afro diaspóricas e indígenas. Contribuiremos para refletir esse território pindorama a partir da diáspora negra, para pensar caminhadas e paisagens e trazer o fio condutor de encantarias da cidade".
Para a multiartista Fabiana Balduína, de nome artístico FabGirl, que também apresentará o espetáculo "Matrizes", o festival é uma política de democratização e acesso à arte.
"O Marco zero vai onde o povo está. Ninguém precisa necessariamente escolher a melhor roupa, esperar um buzão por horas num final de semana para ir a um teatro para poder assistir a um festival e depois chegar super tarde em casa. É quebrar a cabaça e espalhar a semente, entende? Pode ser que alguém esteja saindo de um dia cansativo de trabalho e se depare com arte ali acontecendo, bem na calçada do seu trampo! E aquilo pode mudar todo o dia, todo estresse, porque a arte tem esse poder", diz.
Programação
A estreia do festival foi realizada nesta terça-feira (23) com apresentação do espetáculo "Rio Novo, Tempo e Minhas Mães" com o artista Francisco Rio. A apresentação ocorreu na L2 Sul, próximo ao CBV, na quadra 613 e discorreu sobre a dissidência de um corpo transgênero e cultura de teatro de terreiro.
Marcelle Lago, idealizadora do festival, ressalta a sutileza da apresentação de Francisco que iniciou as intervenções do Marco Zero.
"Essa intervenção teve muita sutileza e delicadeza em sua desenvoltura. Ela narrou a transição de gênero do artista Francisco Rio, e foi também uma homenagem à mãe e a avó que faleceram em decorrência da Pandemia Covid 19. Um espetáculo que exprimiu uma carga emocional grande", diz Marcelle.
Nesta quarta-feira (24) acontece às 16 horas a apresentação de "Garota Crossfit" com Larissa Hollywood e Gustavo Letruta no Taguaparque. Na quinta-feira, 25, o palco será a Praça do Relógio, também em Taguatinga, às 16 horas com a apresentação de "Lourença" do Coletivo Entrevazios.
Além das performances, o festival oferecerá roda de conversa e oficina. Na sexta-feira, 26, após o ciclo de apresentações artistas e bailarinos se reunirão com o público em frente a Pastelaria Viçosa, na Rodoviária do Plano Piloto, para bate papo sobre os temas "Pessoas pretas e indígenas na cidade planejada" e "Muralha Antifa".
Já a oficina "Dançando os kms/ dramaturgia da experiência'' acontece no domingo (28), às 16 horas, com Juana Miranda, no Eixão 208 Norte.
Para fechar o festival que ao todo reunirá 12 apresentações artísticas nestas regiões, a artista Fab Girl realizará a performance "Matrizes", dia 30 de agosto, às 17h45, no Conic, na Praça Zumbi dos Palmares.
"Matrizes diz sobre lugares que venho e que haviam sido esquecidos por mim. Ao me deparar com as culturas afro diaspóricas, como o Breaking na adolescência e depois a Capoeira angola na fase adulta, pude reconstruir a minha identidade, mesmo que com muitos "ruídos" de um sistema que é feito para que eu esqueça de onde venho, minha história e meu povo. É sobre conflito, simbologias e rastros que meu povo deixou pelo mundo e que encontrei na arte".
O Festival Marco Zero é realizado por meio do fomento do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal. A programação completa do Festival pode ser conferida no site do evento.
Serviço
Marco Zero – Festival de Dança em Paisagem Urbana
De 23 a 30 de agosto de 2022
Entrada franca para todas as atividades
Classificação indicativa: livre para todos os públicos
Mais informações no site do Festival
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Edição: Flávia Quirino