A maioria dos candidatos registrados no Distrito Federal (DF) para as próximas eleições é formada por homens brancos na faixa etária dos 45 aos 49 anos. Mulheres, negros e indígenas ainda figuram como minorias. O levantamento foi feito pela reportagem do Brasil de Fato no portal de estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Os homens representam 65% do total de candidatos que solicitaram registro ao Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF). Das 851 candidaturas registradas, 555 são de homens e somente 296 de mulheres - 35%.
“Isso está mudando muito devagar. Nós temos cotas desde 1995 mas os partidos sempre burlaram a lei de cotas. Somente a partir de 21014 é que conseguimos ter o cumprimento médio dos 30% obrigatórios de mulheres nas eleições proporcionais. A gente ainda tem um percentual que fica flutuando em torno desses 30%. Os partidos não querem recrutar mulheres. Isso tem a ver como o processo de decisão de candidaturas é tomado dentro dos partidos políticos”, avalia Danusa Marques, professora e diretora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB).
No somatório de candidatos que se autodeclararam pretos ou pardos, essas candidaturas são ligeiramente superiores às de autodeclarados brancos, totalizando 429 pessoas negras. Mas no detalhamento do dado, são 311 pardos e 118 pretos frente a uma maioria formada por 393 brancos.
Ibaneis
Uma informação se destacou na pesquisa para esta reportagem. O governador Ibaneis Rocha (MDB), candidato à reeleição, se declarou pessoa de cor parda. “Acho preocupante que o governador se apresente como pardo, mas também entendo que a autoidentificação racial passa por muitos fatores. Há indícios de que pessoas que mentem sobre sua autodeclaração, muito embora a maior parte das candidaturas não façam isso. A implicação disso é que o financiamento de campanha tem que seguir a proporção de apresentação das candidaturas por raça. Então, embora não tenhamos cotas para apresentação mínima de candidaturas, isso tem implicação no financiamento de recursos”, ressalta Danusa.
Para a professora, a autoidentificação do governador não implica em ativismo na causa. “Alguém se declarar preto ou pardo não significa que seja ativista. Todos têm uma autodeclaração, isso é uma dimensão da nossa vida em sociedade, mas o governador Ibaneis não é um ativista antirracista declarado e também não é entendido como tal. Não parece ser um tema central na agenda política dele".
Representatividade
A representatividade fica ainda mais prejudicada no que diz respeito às mulheres negras ou indígenas.
São apenas 15,54% autodeclaradas pretas e 31,73% pardas. Há ainda uma candidata autodeclarada amarela e três candidaturas de indígenas, sendo uma delas uma proposta de mandato coletivo de mulheres indígenas. Seis candidatas não declararam raça ou cor.
Três pessoas vão concorrer nas urnas com seus nomes sociais nestas eleições; uma ao cargo de deputado federal, as outra duas a deputadas federais.
Para Danusa, seria natural que a quantidade de mulheres em cargos políticos fosse proporcional ao percentual de mulheres na população - 50%. Isso ocorre, segundo ela, porque as candidaturas de mulheres, principalmente as pretas, deixam de receber apoio e financiamento suficientes para que sejam competitivas.
“O filtro da eleição é um reflexo do investimento que a candidatura teve, não somente financeiro, mas de apoio. As candidaturas que não têm organização política nem financiamento têm chances mínimas de eleição, como no caso das mulheres pretas. Isso é um indicativo muito perigoso para a democracia”.
Onde elas estão
Mesmo em minoria, as mulheres concorrem em todos os cargos, sendo duas candidatas ao cargo de governadora e sete ao de vice-governadora.
Por oferecer mais vagas, o cargo de parlamentar distrital também é o que reúne maior número de postulantes do sexo feminino - são 205 candidatas; outras 75 mulheres disputam para deputada federal; e quatro para senadora. Os cargos de primeiro e segundo suplente têm três e duas mulheres concorrendo, respectivamente.
De 30 candidatos que tentam a reeleição no DF, apenas três são mulheres. Quem busca continuar no mandato são as deputadas federais Bia Kicis (PL), Erika Kokay (PT), e ainda a deputada distrital Jaqueline Silva (Agir).
“De todas as candidaturas registradas, cerca de 20% são realmente competitivas. Dentre esses 20% não há pessoas negras e praticamente não há mulheres. Isso é um problema de organização política piorada pelos partidos, por ser um reflexo do baixo investimento em carreiras políticas de longo prazo de pessoas não brancas e de mulheres. Quem não tem o perfil do homem branco está em desvantagem na competição por votos. Mesmo havendo uma apresentação de candidaturas equilibrada, de acordo com o perfil populacional, isso não é garantia de que teremos 50% de eleitas. Nas últimas eleições tivemos uma média de 15% de mulheres eleitas. A sub-representação de mulheres e pessoas não brancas na ocupação dos espaços de tomada de decisão e de poder é responsabilidade dos partidos”, encerra Danusa.
Redução
Neste ano o eleitor do DF vai ter que lidar com menos candidatos nas ruas. Os pedidos de registros diminuíram 32%, passando de 1.258 candidatos em 2018 para 851. Todas as candidaturas aguardam julgamento do TRE.
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Edição: Flávia Quirino