Qual a lógica do voto útil? Fortalecer o bolsonarismo para o GDF em 2026?
Na reta final da eleição de 2022, o voto útil ocupa a centralidade do debate nacional, para liquidar a eleição presidencial em primeiro turno e derrotar a ameaça golpista da ultradireita. Mas no DF, o debate do "voto útil" para o Senado arrasta a esquerda para uma casca de banana. Na última pesquisa do Ipec (ex-Ibope), as ex-ministras de Bolsonaro, Damares Alves e Flávia Arruda ,aparecem empatadas no primeiro lugar com 28% dos votos, cada uma. Rosilene Correa, do PT, segue em terceiro com 12%. O movimento do voto útil que contagiou a esquerda e os progressistas na última semana das eleições tem suas razões, mas pode ser uma verdadeira cilada Bino.
Primeiro: pesquisas para o Senado costumam errar, não por teorias loucas de conspiração do bolsonarismo, mas por fraqueza amostral. No geral, mais da metade dos entrevistados para presidente decidem o voto para o Senado na última semana, dado esse das próprias pesquisas, não da minha cabeça. Vejamos a Dilma em 2018. Estava em primeiro lugar nas pesquisas para o Senado em Minas Gerais. Foi de 28% para 15% nas urnas. Terminou em quarto. Com Lula no patamar de 32% dos votos no DF, o PT pode sim virar o jogo com Rosilene. Improvável, mas pode, já que a direita está rachada em duas candidaturas.
Será que vale a pena decidir o voto por pesquisas que podem errar por mais de 10 pontos, para um "mal menor", talvez nem tão menor assim?
Imagine você leitora progressista, que Rosilene fique em segundo lugar nas urnas, qual a qualidade do seu "voto útil”, qual o tamanho do seu arrependimento?
::Políticos e personalidades reagem para manter eleitores de Rosilene Corrêa (PT) no DF ::
Vamos lá, as duas foram ministras do Bolsonaro, então qual a diferença? Houve alguma sinalização da campanha de Flávia Arruda ao eleitorado de esquerda? Não, nenhuma. Inclusive, ela é a presidente do PL no DF, partido que abrigou o fascismo brasileiro e a família Bolsonaro. Uma das famílias mais influentes e corruptas da política candanga, os Arruda se alinharam já em 2018 com Bolsonaro.
A deputada Flávia foi Ministra da Secretaria Geral da Presidência. Em sua propaganda na TV diz com orgulho que foi a melhor ministra de Bolsonaro. A melhor entende-se, a mais alinhada no discurso ou a mais eficaz em comprar voto?
Um de seus principais feitos divulgados em campanha: ajudou a destruir o Bolsa Família e criar o Auxílio Brasil, que vamos lembrar, era de 200 reais. A oposição no Congresso que elevou o programa aos 600 reais. Ajudou também no diálogo com a Câmara Federal para a maracutaia do orçamento secreto. Aqui a questão principal é: Flávia Arruda ajudou mais o presidente fascista a ampliar apoios e votos do que as bravatas e políticas de Damares no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos.
Dizem as línguas bem intencionadas do voto útil: Flávia Arruda pode dialogar com um possível governo Lula 3, dado o pragmatismo dos Arruda para mamar nas tetas do Estado. Será? Qual o cálculo eleitoral? Vamos supor que, sem possibilidade de assumir um cargo no governo federal (nem preciso explicar o porquê), Flávia Arruda mire no GDF em 2026. Ela já foi candidata a vice do Frejat, contra Rollemberg (PSB) no segundo turno de 2014.
Nesse sentido, Flávia não pode ter diálogo nenhum com a esquerda, deve ser oposição ferrenha, se não perde sua principal base eleitoral, já que infelizmente o bolsonarismo no DF é quase metade do eleitorado, ainda. Aparentemente, se ela ocupar a vaga no Senado, é um nome muito mais viável para o bolsonarismo do que Damares, que tem alta rejeição. Não atoa é a candidata oficial de Bolsonaro e de seu PL para o Senado em Brasília.
Então qual a lógica do voto útil? Fortalecer o bolsonarismo para o GDF em 2026?
Faço esse apelo para você que vota no DF, você que se identifica com o campo progressista ou com a esquerda, e quer derrotar Bolsonaro: não deixe seu voto útil chocar o ovo da serpente nessas eleições. Ele pode ser inútil, quando gesta o contrário do que se quer.
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*Diego Ruas é escritor, designer e engenheiro florestal.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
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Edição: Flávia Quirino