As andanças que fiz DF afora nos 45 dias de campanha eleitoral renderam lições para a vida toda. Sempre estive junto ao povo; é o lugar que pertenço. Mas pela primeira vez percebi de forma clara e direta a esperança que esse povo deposita em quem escolhe concorrer a um mandato parlamentar.
Nunca havia me apresentado ao povo do DF como candidata a senadora ou a qualquer outro cargo político. Ouvi muitos pedidos de ajuda, tendo a fome e o desemprego como uma das principais pautas. Mas também vi sorrisos largos ao dar abraços e rostos iluminados pelo simples fato de posar lado a lado para a fotografia. A falta do que comer mata. Mas a invisibilidade imposta pelo sistema a quem mais sofre é, na mesma medida, cruel.
Também foi nessas andanças que me indignei com quem tem a desfaçatez de se apresentar a este povo que sofre para prometer, para distribuir abraços; mas tudo isso não passar de uma encenação. Como alguém tem a capacidade de olhar profundamente nos olhos de um outro que acredita em você – muitas vezes porque crer é a única coisa que resta – e depois fazer exatamente o oposto do que traria dignidade para essa pessoa?
É difícil aceitar, mas isso acontece, e das formas mais canalhas possíveis. Uma das mais perversas é com a utilização da crença individual. Crença essa que em milhares de lares é o único sentimento que consegue ser mantido vivo para dar firmeza a uma mãe de cinco filhos famintos, moradora de um barraco de um cômodo, desempregada e vítima de violência do próprio marido. Brincam com o Deus que ela acredita, trapaceiam com ele, e tentam minar a única coisa que a acalenta. O que mais dói é que o ato vil é feito também por mulheres, que se apresentam ali em nome do Cristo.
Como professora, não contive as lágrimas ao ver crianças vestindo o uniforme da escola pública não para ir estudar, mas para pedir trocados no sinal e ajudar a levar a sobrevivência para dentro de casa. O projeto de desemprego e de miséria colocado em prática pelo governo federal e apoiado pelo GDF tirou o direito de crianças de brincarem, de se dedicarem aos estudos, de sorrirem; de serem crianças. Um projeto obsceno, que mira na educação pública por ela ser pilar da construção de um mundo mais justo.
Nessas muitas horas de andança pelo DF, vendo o quanto nosso povo é relegado à própria sorte, e o quanto ele resiste, me recriei. Tomei fôlego para muitas outras jornadas por perceber que a esperança mobiliza para recriar o mundo. Essa foi minha maior vitória, algo que nenhuma outra conquista traria.
Saí determinada a lutar por aquilo que me moveu a concorrer a uma cadeira no Senado Federal. Orgulhosa sim dos meus 356.198 votos. Mas acima de tudo, fortalecida!
Como mulher, quero lutar pela conscientização política e mostrar que é uma correção histórica eleger mulheres, mas aquelas progressistas.
Como cristã, quero dar um basta ao fundamentalismo religioso que oprime, discrimina e mata.
Como mãe, quero que todas as famílias possam ter o que comer, onde dormir, um local de trabalho que assegure direitos e um Estado forte, com serviços públicos eficazes e eficientes.
Como professora, quero, mais que nunca, lutar pela educação pública de qualidade e valorizada, que recria o mundo ao emancipar oprimidos.
Como brasileira, quero lutar pela nossa gente e pelo nosso Brasil.
Não há tempo para desesperança. Toda força é imprescindível para o momento que não pede a reconstrução do país, mas a construção de um Brasil que seja, finalmente, de todas as gentes.
Dia 30 de outubro, meu voto é em Lula para presidente da República. Definitivamente, neste momento, é ele que pode impulsionar a guinada que todos nós queremos. Mas tenhamos certeza de que esse giro de 180° depende, sobretudo, de nós, da nossa luta e da consciência de classe que deve nos guiar. Que sigamos sempre do lado certo!
*Rosilene Corrêa é professora aposentada da rede pública de ensino do DF
**Este é um artigo de opinião. A visão das autoras não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato - DF.
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Edição: Flávia Quirino