Distrito Federal

Entrevista

'Vontade popular terá efeito sobre novo Congresso Nacional', avaliam parlamentares eleitos

Reginaldo Veras e Érika Kokay são os únicos parlamentares de esquerda do DF eleitos para a Câmara Federal

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Deputados federais progressistas eleitos pelo DF analisam correlação de forças para o novo Congresso Nacional a partir de 2023 - Mídia Ninja/Sindsasc GDF - fotomontagem

A representatividade que saiu as urnas para o novo Congresso Nacional, que trouxe figuras fortemente identificadas com o bolsonarismo e a extrema-direita, não assusta os dois únicos parlamentares de esquerda eleitos para a Câmara Federal pelo Distrito Federal. O Brasil de Fato DF conversou com Reginaldo Veras (PV) e Érika Kokay (PT), que avaliaram os possíveis cenários para o próximo período. 

Estreante como deputado federal, após dois mandatos consecutivos e bem-sucedidos como deputado distrital, Veras reconhece a força que o bolsonarismo obteve das urnas para a próxima legislatura. No entanto, uma vitória de Lula deve conter esse avanço.       

"Se o Lula ganhar, como esperamos e estamos trabalhando para acontecer, essas forças mais radicais de direita se dissipam. Lula, habilidoso como é, tende a conseguir negociar com o Centrão e assegurar governabilidade. A gente nunca pode duvidar da capacidade política do presidente Lula, uma pessoa do diálogo, que sabe convergir", aponta.

Apesar disso, o deputado federal eleito prevê um primeiro ano difícil, em termos de avanço de pauta no Legislativo, caso Lula saia vitorioso das urnas.

"No primeiro ano, vai ser um governo de acomodação, de articulação. No máximo, a gente vai barrar a celeridade dessas pautas conservadoras que vinham ganhando força". Já se o eleito for Jair Bolsonaro, para um segundo mandato, o cenário é bem mais pessimista. "Se for o Bolsonaro, vai ser um ano de tratoragem".

Para a veterana Érika Kokay, com a experiência de quem chega para o quarto mandato consecutivo como deputada federal pelo PT, a correlação de forças no Congresso apresenta desafios com o crescimento da extrema-direita, mas há novidades positivas importantes. 

"Não tenho medo nenhum do Congresso com essa formatação. Ao mesmo tempo que tem o crescimento do fundamentalismo, aumentou a bancada indígena, tivemos maior presença de pessoas trans, e ampliou-se o número de mulheres", observa. A parlamentar petista avalia que o orçamento secreto, que reserva emendas parlamentares sem qualquer transparência para integrantes da base aliada, foi o que turbinou a representatividade do Centrão na próxima legislatura.

"O resultado da eleição é diretamente proporcional ao orçamento secreto. Foi uma variável que determinou a eleição de mandatos que não têm qualquer tipo de compromisso coma população. Formou-se um contingente grande de parlamentares que tem uma atração automática por quem está no governo, independente da ideologia partidária".

Outra variável importante, ressalta Kokay, é o peso da vontade popular sobre a atuação do Parlamento, "que não pode ser menosprezada", mesmo nos cenários mais adversos. "Nenhum mandato é imune à vontade popular. Mesmo em minoria numérica, conseguimos postergar e evitar a aprovação da PEC 32 [da reforma administrativa, que acaba com a estabilidade no serviço público]. Conseguimos evitar também, até o momento, a privatização dos Correios, o projeto de homeschooling, pautas muito caras ao governo federal. Uma vitória de Lula com forte apoio popular terá um impacto dissuasório ainda maior", exemplifica.

Conservadorismo

Sobre a chegada de figuras sombrias do bolsonarismo, como a ex-ministra Damares Alves, eleita para o Senado pelo DF, Érika Kokay prevê, de fato, uma potencialização do discurso fundamentalista na pauta de costumes. No entanto, ela pondera que, no contexto de uma possível eleição de Lula, esse discurso pode se manter mais isolado. 

"Há uma perspectiva muito grande de termos esses discursos fundamentalistas sendo exacerbados, mas eles podem não ganhar tração necessária para um avanço muito conservador na agenda legislativa. Se Lula for eleito, a probabilidade maior é que esse discurso fique mais isolado, alimentando as bases mais radicais, mas sem um efeito concreto na aprovação de medidas de impacto", diz.  

Lições no DF

Deputado distrital em fim de mandato para assumir uma cadeira de parlamentar federal, Reginaldo Veras afirma que o resultado das eleições no DF, que consagrou um segundo mandato para o governador Ibaneis Rocha (MDB) e elegeu Damares Alves para o Senado, deve chamar atenção dos setores progressistas para uma revisão de seus métodos. "Está na hora de todos nós repensarmos nosso modelo de dialogar com a população e a sociedade, porque certamente estamos fazendo de forma errada", aponta.

Para Veras, umas das pistas para tentar enfrentar esse desafio é observar a construção de novas lideranças progressistas, que emergiram das urnas no DF, como a votação espetacular de Fábio Félix (PSOL), deputado distrital mais bem votado da história do DF, a eleição de nomes como Max Maciel (PSOL), além do próprio desempenho de Leandro Grass (PV) que, mesmo tendo perdido a disputa para Ibaneis, consolidou sua posição de liderança política de centro-esquerda na capital.

"Eles marcaram o nome no campo progressista, conseguiram estabelecer diálogo com a juventude e outros segmentos. Isso mostra que a esquerda precisa buscar, de fato, uma renovação de quadros e práticas". 

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Edição: Flávia Quirino