Reeleito em primeiro turno com 50,30% dos votos válidos, Ibaneis Rocha (MDB) vai entrar em seu segundo mandato como governador do Distrito Federal com uma maioria confortável na Câmara Legislativa (CLDF) – sua coligação elegeu 12 dos 24 parlamentares da próxima legislatura.
Para Michelly Fernandez, pesquisadora do Instituto de Ciências Políticas da Unb (IPOL), a vitória do emedebista implica na manutenção de um modelo de governo que prioriza interesses de elite. “A continuidade desse governo significa também a manutenção dessa realidade na qual o orçamento avantajado do DF tende a ser destinado a interesses pontuais e particulares, em vez de atender às demandas da população em geral”, analisa.
Marco Baratto, da direção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no DF, concorda. Para ele, a reeleição de Ibaneis cria condições para “aprofundar o projeto de governo que os setores aos quais ele [Ibaneis] está ligado estabelecem, considerando-se legitimado para continuar uma política que o coloca em um patamar de populista de direita, quase igual ao que foi Roriz no passado”.
A manutenção das elites no GDF, sob a figura de Ibaneis Rocha, é vista com preocupação por ativistas e militantes sociais que projetam a descontinuidade, ou inércia em adoção de políticas públicas voltadas para as minorias e os mais pobres.
“A tendência é de aumento das desigualdades centro-periferias e intensificação dos conflitos fundiários, visto a baixa capilaridade e descentralização das políticas públicas e ações de planejamento observadas e as reiteradas remoções ilegais que fazem parte de seu projeto de segregação socio-racial forjado na especulação imobiliária articulada à grilagem de terras. É por meio de formas cada vez mais militarizadas da gestão junto a ausência de políticas sociais efetivas voltadas à população mais vulnerável que Ibaneis pretende continuar governando”, avalia Gabriel Couto, membro da campanha Despejo Zero no Distrito Federal.
“Não existem políticas de reforma agrária, nada que não seja regularização ou titulação, mas de fato não incentivam que haja uma produção mais orgânica, um cinturão verde, espaços determinados para produção e relação mais saudável da cidade com o campo”, acrescenta Baratto.
Segundo turno
Os rumos do segundo mandato de Ibaneis ainda dependem do resultado do segundo turno da eleição para presidente, haja vista que as relações entre GDF e Governo Federal costumam andar bem próximas.
“Vai depender muito. Uma possível vitória de Lula vai forçar Ibaneis a mudar o tom e dialogar com um Governo Federal de esquerda”, prospecta o cientista político David Verge Fleischer. “Problema maior será se Bolsonaro sair campeão. Aí, provavelmente, Ibaneis pode adotar de vez uma postura conservadora de ultradireita”.
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Oposição
Ibaneis também vai ter que lidar com uma bancada de oposição maior e que promete fazer ainda mais barulho na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Ele vai ter que dialogar e negociar com, pelo menos, seis parlamentares progressistas, dentre eles, os três mais votados em 2022.
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“Apesar de a diversidade ainda ser baixa, com poucas mulheres e pessoas negras com mandato na próxima legislatura, a oposição que Ibaneis terá na CLDF saiu fortalecida e certamente vai oferecer resistência a uma possível agenda populista”, afirma Fernandez.
As esperanças dos movimentos sociais também parecem se depositar no trabalho e diálogo com a oposição para fazer frente a um governo que promete colocar na geladeira as pautas voltadas para a classe trabalhadora. "Houve a eleição histórica da bancada de esquerda com um gabinete aba reta, que demonstra a força de um outro projeto político coletivo que dá voz aos movimentos sociais e periferias e seguirá no combate às violências e na luta pelo direito à cidade. É possível construir um outro DF", resume Couto.
"Vai ser difícil a gente conseguir passar qualquer pauta de interesse dos trabalhadores da cidade e do campo porque ele tem uma maioria que vai trabalhar para garantir os projetos do governo. Por outro lado, aumentamos a oposição, com os três mais votados. Mais de 150 mil pessoas votaram nesses três, o que nos dá um sentimento de vitória política. A base na CLDF vai ser muito combativa e vai contar com respaldo nas ruas e em determinadas regiões administrativas do DF", conclui Marco Baratto.
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Edição: Flávia Quirino