Após uma bem-sucedida turnê europeia por importantes festivais de cinema, o filme Mato Seco em Chamas - o novo longa-metragem de Adirley Queirós, codirigido com a portuguesa Joana Pimenta - consagrou-se dessa vez no Festival Internacional de Cinema do Rio, que terminou no último domingo (16). A obra venceu o prêmio especial do júri e Joana Pimenta ainda foi distinguida pela direção de fotografia, que ela assumiu junto com a codireção.
Híbrido de documentário e ficção, Mato Seco em Chamas narra a história de um grupo de mulheres que se apossa do petróleo que abunda no subsolo e passa a comandar toda uma rede de comércio ilegal do produto em uma favela do Distrito Federal, mais precisamente no Sol Nascente, a periferia da periferia da capital do país.
O filme conta com a participação de não-atores, pessoas da própria comunidade, cujas histórias reais se incorporam ao roteiro que nunca é previamente fechado. É uma metodologia já consagrada na filmografia de Adirley e em seus trabalhos com Joana.
Reconhecimento
Entre fevereiro e maio deste ano, Mato Seco em Chamas circulou com amplo reconhecimento na Europa. A estréia se deu na 72ª edição do Festival de Cinema de Berlim, um dos mais prestigiados do mundo. Depois, o filme faturou o grande prêmio do Festival Cinéma du Réel (Cinema do Real, em tradução livre), em Paris. Trata-se de um dos mais importantes festivais de documentário do mundo.
:: Filme Mato Seco em Chamas fatura premiações em festivais europeus ::
No dia 8 de maio, o filme venceu dois dos prêmios mais importantes do IndieLisboa Festival Internacional de Cinema. Foi o escolhido do júri que para o Grande Prêmio de Longa Metragem Cidade de Lisboa, o mais importante do festival. E venceu também o Prêmio Allianz para Melhor Longa Metragem Portuguesa, já que é codirigido por uma mulher portuguesa.
Da Ceilândia para o mundo
Em fevereiro, Adirley Queirós conversou com o Brasil de Fato sobre sua trajetória cinematográfica. Reconhecido nacional e internacionalmente por filmes como "Rap, o canto da Ceilândia" (2005), seu primeiro curta, e longas premiados como "A cidade é uma só?" (2011), "Branco Sai, Preto Fica" (2014) e "Era uma Vez Brasília" (2017), o diretor que nasceu no interior de Goiás, mas se criou na Ceilândia, a periferia mais emblemática do Distrito Federal, buscou um caminho pouco usual de fazer cinema, que ele mesmo define como um abordagem etnográfica da ficção. Ele se firmou como o maior expoente do Coletivo de Cinema de Ceilândia (Ceicine)
:: A periferia do DF em cartaz no Festival de Cinema de Berlim ::
"Muitas pessoas lidam com o mesmo objeto, o mesmo território com que a gente lida. O que acho o que é diferente no nosso cinema talvez seja essa perspectiva de produção, do modelo de produção. Os filmes demandam um tempo, a gente propõe uma ficção, mas filma como um documentário. A gente propõe histórias loucas e no final a gente quer que as pessoas vivam aquelas histórias loucas, e isso transforma o filme, depois, numa abordagem quase etnográfica. Essa coisa que a gente chama etnografia da ficção, de certa forma não é nova porque Jean Rouch fez lá atrás, mas no cinema brasileiro tinha pouco essa abordagem", analisa.
Ainda não há previsão de quando Mato Seco em Chamas será exibido em salas de cinema do Brasil, após passar pelo Festival do Rio. Adirley Queirós espera poder circular com o filme em salas convencionais e até mesmo exibi-lo na rua, diretamente para o povo.
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Edição: Flávia Quirino