Existe no norte do Brasil uma expressão amplamente utilizada para se referir a pessoas que “somem” após um ato falho. O dito é o seguinte: “Cadê fulano? Tu viu? Nem eu!”. Dita de supetão, sem esperar resposta do interlocutor, a frase sugere que determinada pessoa se escondeu após passar alguma situação constrangedora.
Tem sido assim com a deputada federal Flávia Arruda (PL) que, após a derrota para a ex-ministra Damares Alves na disputa ao Senado, sumiu das ruas, das redes sociais e tem evitado a imprensa. As tentativas de contato de nossa reportagem, via assessoria de comunicação da parlamentar, foram infrutíferas.
Flávia, que chegou a liderar as pesquisas de intenção de voto, obteve apenas 27,02% dos votos válidos contra 44,98% de Damares e, após a derrota, não colocou a cara na rua para pedir votos para o ex-chefe, Jair Bolsonaro (PL), que concorre à reeleição.
Sequer nas redes sociais Arruda tem mantido a mesma disciplina de postagens diárias, como no primeiro turno. Justificável, uma vez que ela mesma não está mais concorrendo. Entretanto, era de se esperar que a ex-ministra continuasse empenhada na campanha de Bolsonaro.
Independentemente do que seja – estratégia, decepção ou mágoa – a cientista política Danusa Marques acredita que os representantes da direita tradicional devem estar tirando um período sabático para refletir.
“[Ela] deve ter se recolhido para repensar as estratégias dos últimos anos e como isso está vinculado ao contexto de derrota, porque foi muito marcante para a direita tradicional brasileira”, analisa Danusa.
Junto com a oposição
Um dos indícios do provável descontentamento de Arruda com o partido e aliados foi a desobediência dela à orientação do PL para barrar a urgência da votação do projeto de lei que torna pedofilia um crime hediondo. Ela votou pela inversão da pauta, acompanhando a oposição e contrariando a base governista.
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Para a cientista política, o primeiro turno expôs algumas fragilidades da direita tradicional, quais sejam a falta de coesão, membros egocêntricos e desentendimentos e ressentimentos que tendem a criar uma crise interna.
“A Flávia Arruda é representante de uma elite tradicional no Distrito Federal que é oportunista e que viu no bolsonarismo a oportunidade de conseguir projeção e poder político, mas a disputa começa a acontecer dentro do próprio campo da direita”, afirma.
Quem saiu vitoriosa mesmo, julga a cientista política, foi a extrema-direita, aliada-mor do bolsonarismo. “A eleição da Damares para o Senado mostra isso de forma muito clara. Ela é um grande ícone e agrega muito apoio ao bolsonarismo de extrema-direita e de caráter mais fascista. A adversária da Flávia Arruda foi esse ícone que tem muito poder e projeção.”
Até a esquerda parece concordar que Flávia Arruda seria menos nociva no Senado que Damares Alves, haja vista que, no primeiro turno, diante da impossibilidade de vitória da candidata do PT ao Senado, Rosilene Corrêa, representantes da esquerda passaram a pedir voto útil em Arruda, estratégia que foi bastante contestada.
De todo modo, como na política nenhum cadáver pode ser dado como morto, é de se esperar que Arruda manifeste o ar de sua graça nos próximos pleitos. Exemplo ela tem dentro de casa. Uma vez que o marido, José Roberto Arruda, mesmo após um longo período de ostracismo e inelegibilidade por corrupção, não deixou de tentar uma candidatura a deputado federal, mesmo sustentada por liminar.
“O fato de ela ter perdido não significa que ela está acabada. O próprio marido dela está aí há muito tempo sem mandato, com direitos políticos cassados, foi preso, mas a vida política dele não acabou. Eles estão se reorganizando. Se vai dar certo, não sabemos”, conclui a cientista política.
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Edição: Flávia Quirino